Crítica: Alice no País das Trevas
Alice no País das Trevas
Direção: Richard John Taylor
Roteiro: Richard John Taylor
Elenco: Rula Lenska, Lizzy Willis, Jon-Paul Gates
Sinopse: Após a morte de seus pais, a jovem Alice vai morar com a avó em uma casa isolada na floresta, sem saber que forças sinistras se escondem por lá.
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Se alguns cineastas sempre foram seduzidos pela noção de transformar tudo que é infantil em histórias de teor adulto, uma vertente do cinema independente se encontra particularmente numa onda de realizar obras de terror de baixo orçamento baseadas em famosos contos e histórias infantis. Se o recente e pavoroso – de um ponto de vista cinematográfico – Ursinho Pooh: Sangue e Mel optava por seguir o subgênero do Slasher, este Alice no País das Trevas (Alice in Terrorland) busca a empreitada do terror psicológico.
A ideia é pegar personagens e situações conhecidas do clássico literário Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, e adaptá-los pela ótica da psiquê fragilizada de nossa protagonista (Lizzy Willis), que após um incêndio que matou seus pais vai morar numa casa no meio da floresta com sua avó Beth (Rula Lenska). Como a garota se chama Alice, mesmo nome da protagonista do livro de Carroll, Beth lê para a neta, entre um gole e outro de chá, trechos da obra antes de Alice dormir. Realidade e sonho começam a se confundir enquanto a garota se adentra num mundo de loucuras.
Uma adaptação dessa história pelo caminho do terror já foi feita no jogo de video-game “Alice: Madness Returns” (2011), obra que partilha com Alice no País das Trevas o elemento da família da protagonista também ter sido morta num incêndio. Como o filme de 2023 não possui os recursos financeiros para tornar as alegorias da obra de Carroll em cenários e personagens visualmente mirabolantes ou interessantes, o filme utiliza essas alegorias da forma que o precário orçamento permite.
O problema é que baixo orçamento não é sinônimo de desinteressante. A criatividade necessária para contornar as restrições de orçamento aqui simplesmente não parece existir. Assim, o coelho do livro se torna um assassino com máscara de coelho barata. A lagarta que fuma narguilé se torna um senhor que fuma cigarro. A Morsa, um serial killer que mata garotas, e assim por diante. Se tais descrições podem ser minimamente instigantes, elas são o máximo de contexto ou elaboração que o filme fornecerá, já que nenhuma das cenas nas quais esses personagens aparecem elabora ou justifica o aspecto “psicológico” do terror psicológico. Entre planos fechados e más encenações, temos apenas algumas citações retiradas do livro original que em nenhum momento dialogam de forma alegórica com algum mal-estar mental que a personagem pode estar sofrendo.
Nas curtas 1h17h de filme, temos uma narrativa que então se torna repetitiva, na qual Alice dorme, temos uma alucinação que tenta ser onírica muito por algumas utilizações de câmera lenta e uma tentativa de opressão através de trilha sonora que não dialoga com as imagens, desinteressantes, de estímulo visual ou simbólico nulo. Existe essa tentativa de ser críptico e onírico, mas as imagens e encenações nunca conseguem trazer esse sentimento à tona, portanto pulamos de cena em cena sem alguma emoção duradora.
Os créditos iniciais podem enganar: acompanhamos os nomes dos envolvidos na produção sobrepostos em interessantes caleidoscópios de imagens psicodélicas que insinuam uma abordagem arrojada e diferente de sua história, mas o que se vê no resto da projeção é uma narrativa que pouco contém de terror (existe um jumpscare competente), e pouco contém de abordagem psicológica, resultando num amontoado de cenas desinteressantes, em que passagens de Alice no País das Maravilhas são recitadas por representações dos personagens contidos na obra vestindo figurinos baratos. Não chega a ser ofensivo como Ursinho Pooh: Sangue e Mel, mas isso não significa muito.