Crítica: Othelo, O Grande – 47ª Mostra de São Paulo
Othelo, O Grande
Direção: Lucas H. Rossi dos Santos
Roteiro: Lucas H. Rossi dos Santos
Sinopse: O documentário retoma a vida e a obra do ator e comediante brasileiro Sebastião Bernardes de Souza Prata (1915-1993), conhecido como Grande Othelo. Neto de escravos, de origem humilde, ele mudou de vida ao se destacar na carreira — um grande feito para um ator negro na primeira metade do século 20.
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Que Grande Othelo foi um dos maiores artistas brasileiros de sua época, ninguém teria a ousadia de questionar.
O que o diretor Lucas H. Rossi faz, aqui, é traçar um panorama a partir do ponto de vista racial. É claro que qualquer documentário sobre Sebastião Bernardes de Souza Prata teria que perpassar tais questões. Mas poucos documentários acerca dele citariam Abdias do Nascimento ou relembrariam com tanta ênfase as memórias relacionadas aos episódios de racismo e aos obstáculos que ele enfrentou apenas por ser negro. Isso é feito em “Othelo, O Grande”.
A partir das memórias de Othelo e de diversas entrevistas do artista, o documentário retoma a história do Brasil sob uma ótica racial. As imagens de acervo são tantas, e a montagem das entrevistas que Othelo deu são tão imbricadas na montagem, que o espectador se permite mergulhar nesse passado.
Ao longo de pouco mais de uma hora, acompanhamos os diversos momentos da vida de Grande Othelo sem que a narrativa se torne excessivamente linear. Mais do que reviver as qualidades artísticas, o doc reafirma a inteligência e o caminhar do biografado na realidade brasileira.
“Mamãe me deu de papel passado” é talvez uma das frases mais chocantes do filme, narrando como o jovem Sebastião saiu de Uberlândia e passou a circular em uma companhia de artistas. O documentário também recupera diversos artistas negros que passaram pelo país, e apresenta a primeira “companhia negra de revistas”.
“Othelo, O Grande” é desses documentários fundamentais, tanto por sua importância quanto por sua qualidade narrativa e de montagem. Faz jus a esse gigante artista, que o Brasil não perdeu para as vicissitudes de sua história, fazendo-nos imaginar quantos outros artistas foram perdidos para a pobreza e a intolerância.