Crítica: The Flash
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Crítica: The Flash

Ficha técnica – The Flash
Direção: Andy Muschietti
Roteiro: Christina Hodson, Joby Harold
Elenco: Ezra Miller, Michael Keaton, Ben Affleck, Sasha Calle, Michael Shannon.
Nacionalidade e Lançamento: EUA, 2023 (14 de junho de 2023 no Brasil)
Sinopse: Barry Allen usa sua supervelocidade para mudar o passado, mas sua tentativa de salvar sua família cria um mundo sem super-heróis, forçando-o a correr por sua vida para salvar o futuro.

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Calma meus amigos! Agora só temos mais um Aquaman pela frente. Aí por fim estaremos livres da era Zack Snyder na DC, um período de tantas memórias icônicas como o fiasco da Martha, o Lex Luthor Mark Zuckerberg, Ben Affleck boladão e o Superman com S de Saudade. Tem mais coisa digna de nota, mas infelizmente minha memória não permite alongar esta seção.

Tudo isso já está culminando na derradeira fase do DCEU, na qual The Flash se situa. Essa nova produção de Ezra Miller e companhia é uma sequência tardia de Liga da Justiça (2017), onde o maior vilão do filme é basicamente o próprio Zack Snyder. É uma correria (trocadilho intencional) pra cá e pra lá, só pra tentar desfazer toda a zona que Snyder criou lá em 2013 com o infame Man of Steel. O que ninguém esperava era que ao tentar desfazer uma bagunça colossal implementada pelos autores do DCEU 10 anos atrás, eles criariam outra hecatombe criativa que é esse novo Flash.

Dirigido por Andy Muschietti – o novo diretor queridinho da Warner, que fez It: A Coisa – essa primeira instalação cinematográfica do herói solo Barry Allen é mais uma trapalhada que tenta emular o conceito de multiverso que Homem-Aranha: No Aranhaverso aperfeiçoou em 2018. Apesar de ter algum resquício de tom autoral e tentar emular algumas coisas bem interessantes ao redor de suas duas horas e meia de filme, The Flash peca em querer fazer mais do que o necessário. O meu sincero palpite é que esse foi um longa cheio de notinhas dos executivos de estúdio. Dá pra notar claramente a monstruosidade dos remendos que a edição fez pra tentar acoplar tanta coisa.

Minha impressão do filme, porém, é que Muschietti tinha sim algo diferente a oferecer. Consegui perceber que o diretor em alguns momentos tentou emular um tom pitoresco, ácido, comicamente bizarro. Cenas como a de abertura com os bebês caindo (apesar do CG terrível), as cenas nas quais Barry passa pelas paredes (onde Muschietti nos leva dentro do DNA mutante) e alguns outros breves momentos de pura alusão ao mestre Sam Raimi são pontos altos do filme. Deu pra ver que eles estavam tentando fazer algo diferente.

Mas com o passar do tempo, esses lapsos de brilhantismo ficam cada vez mais esparsos e turvos. O filme dá mais espaço para fan-service e ação genérica do que para construção de narrativa e estilo. Falando sobre a narrativa inclusive, na primeira meia hora parecia que teríamos algum semblante de uma história respeitável. Tudo se encaminhava para uma excelente adaptação de Flashpoint, arco dos quadrinhos que fez sucesso nas mãos de Geoff Johns. Mas conforme o filme passa, a história se dilui em favor do espetáculo de efeitos visuais. Não me leve a mal, pelo menos o protagonista tem sim um arco narrativo bem desenhado. Mas a existência dele só é lembrada nos últimos quinze minutos de filme, com uma resolução apressada e que não faz por merecer as lágrimas que tentam tirar dos espectadores.

Fico triste, pois havia muito potencial nessa história. Se não fossem as notinhas do estúdio, se tivessem deixado a história rolar livremente em seu curso, certamente teríamos um filme mais denso. Além disso, como já disse anteriormente, o estilo – presente em seu estado embrionário aqui nesse filme – também estava encaminhado. Gostei das escolhas do diretor em algumas set-pieces, mas infelizmente foi tudo muito diluído pelos acontecimentos posteriores.

Agora, falando sobre o fan-service: que deprimente. O segundo ato todinho desse filme é construído por cenas vazias, sem sentido e demasiadamente alongadas. A ressurreição do Batman de Michael Keaton aqui é desnecessária e sem apelo nenhum. Qualquer outro herói poderia estar no lugar de Keaton, mudança que não alteraria nada. O mesmo vale para a Supergirl de Sasha Calle. São adições desvantajosas pro próprio filme. Se tivessem ocupado esse espaço desenvolvendo melhor a trama de Barry, por exemplo, o plot twist do final teria um impacto emocional mais forte. Principalmente quando falamos da Supergirl, talvez a maior vítima desse roteiro desconjuntado, é essencial pontuar que ela é mais um pensamento tardio do que um personagem em si. Um desserviço o que fizeram com a personagem. Não constroem absolutamente nada com ela. Não dão uma mísera migalha de interesse pro que Calle conseguiria trazer de diferente em meio as outras iterações kryptonianas nas telonas. Uma lástima.

O Batman principal desse filme é também desnecessário mas pelo menos tem alguma base por trás que faz o retorno de Michael Keaton não parecer tão artificial. Já a volta de Michael Shannon como Zod eu encarei mais como uma afronta ao Zack Snyder mesmo.

O conceito que o terceiro ato de Flash tenta passar é também uma forma interessante de se resolver a história. Mas repito novamente: mal executado e muito mal desenvolvido. A briga com o tempo dentro do filme é sim um ponto de roteiro atraente, algo a ser cuidadosamente explorado – o que não passa nem perto de acontecer realmente aqui. Eles só jogam na nossa cara ambientes e informações relevantes da história e esperam que a audiência comum entenda tudo de primeira.

E falando em jogar na nossa cara, a indignação me tomou conta ainda mais vorazmente quando vi as terríveis aparições surpresa que o filme. Uma terrível tragédia de efeitos visuais que dá vida ao falecido Christopher Reeve, numa cartada da Warner que certamente, se eu fosse da família Reeve, me levaria a processar o estúdio por uma boa quantia. Não tem nenhum sentido em nenhum dos cameos de Flash. Alguns até me pareceram terem sido criados por inteligência artificial. Uma atrocidade nunca antes vista. O meu único consolo ao término da sessão de Flash é que realmente esse universo está com os dias contados. James Gunn vem aí. E dessa vez nem a velocidade da luz poderá ajudar Flash e seus amigos a escaparem do esquecimento. The Flash tem lapsos brilhantes de estilo e direção, mas é enxertado com pura poluição narrativa (e visual) que atrapalha a construção de personagens e que apressadamente nos entrega uma mensagem honrosa, porém de forma completamente desonesta.

  • Nota
2.5

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