Crítica: Noites Alienígenas
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Crítica: Noites Alienígenas

Noites Alienígenas – Ficha técnica:
Direção: Sérgio de Carvalho
Roteiro: Camilo Cavalcante, Rodolfo Minari, Sérgio de Carvalho
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 30 de março de 2023
Sinopse: Noites Alienígenas expõe uma Amazônia urbana, onde a ancestralidade dos povos tradicionais resiste à contemporaneidade que insiste em negar a floresta. Com elementos narrativos fantasiosos, o longa apresenta a história de três personagens da periferia de Rio Branco impactados pelo conflito entre facções criminosas e pela violência urbana, que, nos últimos dez anos, quase triplicou o assassinato de crianças e jovens no Estado do Acre.
Elenco: Gabriel Knoxx, Adanilo, Gleici Damasceno, Chico Diaz, Joana Gatis, Chica Arara, Bimi Huni Kuin, Duace, Kika Sena.

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cena de Noites Alienígenas com Chico Diaz

“Noites Alienígenas” é o primeiro filme acreano a ser lançado comercialmente em todo o Brasil, e essa informação não apenas evidencia a realidade das desigualdades regionais no país, como também se insere em sua própria razão de ser.

Acompanhamos diversas histórias. Rivelino (Gabriel Knoxx) trabalha na boca de Alê (Chico Diaz) e namora Sandra (Gleici Damasceno), que teve um filho com Paulo (Adanilo), um jovem indígena viciado em drogas. Estes e outros personagens alternam seus tempos de tela de forma a nos mostrar a costura das relações.

Assim, “Noites Alienígenas” funciona como um panorama de uma realidade acreana que precisa ser contada: a realidade de uma terra “invadida” por gente de fora que, por não respeitar as tradições dos povos originários, acaba por degradar aquela sociedade. Não que seja tudo tão simples ou maniqueísta, e isso se vê nas nuances dos personagens.

A mãe de Paulo, por exemplo, é uma mulher indígena que segue sua fé evangélica na igreja, mas também se utiliza dos ritos ancestrais para encontrar redenção ao filho. Enquanto isso, Sandra é a mãe responsável que cuida de um descendente dos povos originários, enquanto se une a Kika no trabalho honesto e nas rimas do slam: “Esqueceu por que a gente faz isso aqui?”, questiona ela a um dos rapazes que se mostra intransigente. Ora, trata-se do único local onde elas podem dizer o que desejam – e onde são ouvidas.

A arte de Rivelino e as falas de Alê (e Chico Diaz está especialmente intenso e certeiro em sua atuação) falam dos alienígenas. Mais do que apenas “vindos de fora”, os alienígenas são também aqueles que permitem “abrir a mente” e explorar novas possibilidades – já que o estranho, o estrangeiro, o forasteiro, pode também contribuir com a terra onde chega, e a referência às pirâmides como construções de seres de fora é tanto uma valorização da ampliação de horizontes quanto um preconceito comum em pessoas que desacreditam na potencialidade de um povo – especialmente um povo periférico.

A força do filme reside na multiplicidade de personagens, mas pode ser também sua fraqueza: ainda que ver tantos corpos ocupando os espaços, muitos deles ficam pelo caminho, o que pode impedir o espectador de sentir mais profundamente os seus dramas.

Gleici Damasceno em cena de "Noites Alienígenas"

A mensagem final, que denuncia a chegada de facções criminosas do Sudeste no Acre, e o consequente aumento das taxas de homicídio, é um arremate da razão de ser de “Noites Alienígenas”: reforça os danos do que vem de fora em contraponto ao olhar para si mesmo. Olhar esse que o personagem indígena conquista ao voltar-se para suas raízes, diferente daqueles que parecem esperar uma salvação vinda do céu, quiçá de um disco voador, e acabam por não encontrá-la.

A dor que permanece, no entanto, simbolizada nos dois personagens de Alê (Chico Diaz) e Beatriz (Joana Gatis), mostra que tanto o acreano quanto a migrante precisam lidar com a perda e o sofrimento. Se “Noites Alienígenas” trabalha com essa dualidade entre a originário e o estrangeiro, o “de fora” versus o “de dentro”, faz sentido que os dois se abracem e dancem, criando vínculo e união, transformando a dor em pulsão de vida.

Talvez essa seja uma boa solução.

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