FODA-SE que você não gostou do filme
Assim como é cada vez mais difícil eu me apaixonar por um filme, é cada vez mais difícil eu odiá-los. A cada filme novo que assisto, o que me interessa é o que pode ser extraído dele: a mensagem, os debates, as escolhas técnicas, e tudo o que for possível discutir.
Não entendo como ainda tem gente dando valor para as notas (eu até coloco estrelas nas críticas, mas só como arremate das ideias gerais), rankings e tantas outras categorizações. Afinal, como RAIOS é possível definir se “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é melhor que “Cisne Negro”, ou pior que “Mato Seco em Chamas” e “Parasita”? São propostas tão diferentes que nem faz sentido!
Cada vez menos eu entendo a necessidade das pessoas em sair por aí dizendo seus gostos pessoais. É claro que todo mundo tem direito de desgostar ou gostar de um filme, mas por que não debater sobre os elementos que ele traz, em vez de sair apenas declarando afirmações cheias de certeza, como se o seu “gosto” fosse o mais perfeito?
E se a gente fizesse mais debates sobre as questões dos filmes? Vi elogios e debates muito profundos sobre A Baleia, mesmo que seja absolutamente válido refletir o problema de o último filme de Arronofsky ser gordofóbico. E se a gente discutisse sobre as escolhas estéticas em Babilônia, ou a proposta da animação Perlimps e os caminhos fictícios aventados em Mato Seco em Chamas e Noites Alienígenas?
Não interessa se alguém gostou ou não. Tem muito mais para ver.
Eu estava ouvindo o episódio do podcast Segundo Corte (agora aqui, no Cinem(ação)) sobre Belfast. Lembro-me que não gostei muito do filme de Kenneth Branagh, mas no podcast entendi que existem diversas escolhas interessantes, e refletir sobre elas é muito mais interessante do que elencar qual filme lançado na mesma época deveria ter levado Oscar no lugar deste.
Posso citar o acreano Noites Alienígenas, que vi recentemente em cabine online: em nenhum momento eu pensei qual “nota” ele merecia. Apenas fui tomado pela temática do título e sua relação com o estado do Acre, refletindo sobre como a origem do filme faz parte de sua própria concepção. Ou seja: diferente de um filme de São Paulo ou Recife, para citar duas cidades com grande produção de filmes, o simples fato de o longa ser do Acre já o coloca em um ponto de análise do qual é difícil se desvincular (mas talvez um crítico estrangeiro o faça, caso ignore as diferenças regionais do Brasil).
Na próxima vez que me perguntarem se eu gostei de um filme, minha resposta talvez seja: “sei lá”.
Isso é o que menos importa.