Crítica: Pinóquio por Guillermo del Toro
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Crítica: Pinóquio por Guillermo del Toro

Pinóquio, de Guillermo del Toro, é uma das melhores surpresas que 2022 nos proporcionou. A animação stop-motion foi lançada no começo de dezembro de 2022 e ainda vale sua atenção para este novo ano.

Ficha técnica
Direção: Guillermo del Toro, Mark Gustafson
Roteiro: Guillermo del Toro, Patrick McHale, Matthew Robbins
Nacionalidade e Lançamento: França, México, Estados Unidos, 9 de dezembro de 2022 (Netflix)
Sinopse: O desejo de um pai solitário dá vida magicamente a um boneco de madeira. Seu nome é Pinóquio. Confuso por ser tão diferente das outras crianças, Pinóquio foge de casa para encontrar seu lugar no mundo e se depara com perigo e aventura.
Elenco: Ewan McGregor, David Bradley, Gregory Mann, Burn Gorman, Ron Perlman, John Turturro, Finn Wolfhard, Cate Blanchett.

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Alguns contos parecem estar interligados com os estúdios Disney, e claro, não é para menos, o Walt Disney Studios é uma referência quando falamos de adaptação para animações no cinema. Pinóquio é um desses contos: escrito incialmente pelo italiano Carlo Collodi, a história ganhou adaptações para as grandes telas, e conquistou o público com a sua sensibilidade narrativa e qualidade visual impecável.

Entretanto, o consagrado diretor mexicano Guillermo del Toro, conhecido, principalmente, por seu longa “O Labirinto de Fauno”, colocou em prática sua genialidade para uma nova adaptação do nosso querido Pinóquio, lançada em dezembro de 2022 na Netflix. E sim, esperávamos algo arrebatador e sombrio, mas o que veio foi ainda mais impressionante.

Antes de qualquer consideração, precisamos lembrar a história em que o conto se desenvolve: na Itália fascista de Mussolini, um pai artesão (Geppetto) perde o seu filho e entra uma profunda solidão existencial. Depois de tanto pedir o seu amado filho de volta, um menino de madeira ganha vida e se torna o seu novo companheiro. Assim, o menino de madeira, nomeado Pinóquio, deseja ser um menino de verdade, e isso o torna rebelde e questionador, principalmente pelo contexto político em que ele se encontra.

A adaptação de Guillermo del Toro da obra de Collodi ganha a técnica da animação em stop-motion, e essa escolha se encaixa perfeitamente na ideia de Toro em se aprofundar nas problemáticas políticas e sociais fascistas em que o conto nos transporta.

Isso porque a técnica stop-motion consiste na disposição sequencial de fotografias diferentes para cada objeto, simulando, assim, os seus movimentos. Sabendo disso, é normal que perguntem: tá, mas o que tem a ver uma técnica como essa com as críticas sociais que o diretor investe na narrativa dessa adaptação de Pinóquio? Adianto que faz TOTAL diferença, e que nada é escolhido em vão quando falamos de obras de diretores renomados como del Toro.

O stop-motion, além de ser uma técnica animada, também gera um sentimento comum entre os espectadores, que costumam acreditar que a obra irá seguir caminhos sombrios. E não é para menos, essa técnica faz com que os personagens representados acabem se movimento de maneira teatral, com menos agilidade, semelhante a diversos bonecos de ventríloquo ganhando vida.

Desta forma, Pinóquio segue o mesmo percurso que a técnica propõe: de um boneco com vida que tenta fazer coisas de um menino comum, mas não consegue pelas limitações impostas desde seu interior de madeira, a sociedade em que se encontra a qual abomina “o diferente”.

A genialidade da animação está neste aspecto: com o stop-motion todos parecem estar dentro de uma peça teatral de bonecos amarrados em cordas para movimentar-se, não só o menino Pinóquio. E isso se encaixa a percepção que todos os cidadãos que cultuam o líder Mussolini no regime fascista, são afastados de qualquer liberdade de expressão que não agrade as autoridades.

E é aí que está a maior contradição da obra: Pinóquio, mesmo com limitações de um boneco de madeira, se mostra ainda mais livre que outros habitantes da cidadela, não só por tentar ser um menino de verdade, mas também por não ter medo de buscar respostas para suas perguntas complexas sobre a vida.  

A sensibilidade narrativa dessa adaptação de Pinóquio merece toda a sua atenção, e emocionar-se com os diálogos ao longo de filme é só mais uma maneira de sentir tudo o que o roteiro nos propõe a dizer sobre amor, perdas e conquistas, além das diversas aventuras que Pinóquio segue ao longo da trama, o que torna tudo mais empolgante.  

Foi um grande acerto do diretor mexicano ao lado do roteirista Patrick McHale. Além de artistas renomados que deram voz aos personagens, como Ewan McGregor, David Bradley e Gregory Mann.

O longa está disponível na Netflix, e já conta com dois Globos de Ouro de Melhor Animação e Melhor Trilha Sonora Original.

  • Nota
5

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