A vida é feita de fases: um “até logo” ao podcast
Eu me lembro de quando criei essa “coluna” aqui no Cinem(ação). A ideia era escrever toda semana. Sim, pode rir! Se passei três semanas consecutivas escrevendo textos mais pessoais, foi muito. A ideia era colocar em palavras algumas questões que envolvessem algo mais do que somente cinema e filmes – por isso o nome “Cinema e algo mais”.
E essa ideia ficou perdida no caminho, assim como outras. Sabe como é: a vida vai pedindo outras coisas de nós, e quando vemos, nos perdemos nessa floresta de desencontros. No entanto, como no famoso conto de João e Maria, vamos deixando migalhas para trás. Depois, para voltar, é preciso olhar atentamente para esses resquícios que nos lembram de onde viemos.
Todo caminho que seguimos traz aprendizados e nos oferece possibilidades. Não há, do ponto de vista das escolhas, um caminho “errado”. Particularmente, gosto da ideia de permanecer em um projeto por tempo longo – o que você deve ter percebido, após uma década de podcast. Sempre fui assim: mais afeito à ideia de permanência que à das mudanças constantes.
Muitas vezes, no entanto, pode acontecer de não nos atentarmos muito bem ao caminho que estamos percorrendo. E se não o fazemos, somos levados por ele: seguimos no automático. É nessas horas que se faz necessário olhar ao redor, tomar as rédeas das escolhas, e voltar pela trilha que ficou para trás, em busca das migalhas que deixamos. Assim, quem sabe, podemos nos reconectar com escolhas anteriores, voltando aos desejos que ficaram perdidos no tempo, e que talvez nos completem mais… talvez se conectem mais fortemente com aquilo que somos.
Uma das coisas mais belas da vida é poder fazer escolhas e mudar. Voltar atrás algumas vezes, amadurecer com os aprendizados e depois, quem sabe, fazer outras escolhas. Enquanto isso, é claro, envelhecemos. Tem escolhas que são definitivas, mas outras não. Tem bifurcações que se fecham, e faz parte dessa beleza. A gente vai aprendendo enquanto caminha. “Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo”, como escreveu Guimarães Rosa. Eu tenho essa frase tatuada no braço, e mesmo assim às vezes me esqueço dela.
Escrevo tudo isso para justificar, à minha maneira, a decisão de deixar o papel de co-host do Podcast Cinem(ação). A partir de 2023, não estarei mais ao lado do Rafael Arinelli nos episódios semanais. Como expliquei no último programa lançado, o “Podcast 490: Retrospectiva 2022”, não devo sumir totalmente e darei as caras (ou melhor, as vozes) de vez em quando. Também continuarei escrevendo no site (juro que vou tentar!).
No entanto, eu precisei buscar essas migalhas no chão do meu caminho e voltar para alguma trilha que perdi. Não tenho certeza de tudo, e não quero prometer nada por enquanto. Pode ser que eu crie novos projetos, mas pode ser que eu passe um tempo apenas buscando conquistar outros objetivos que só são possíveis com mais tempo livre. Não é hora de promessas. É apenas o momento, para mim, de fechar uma porta para permitir que outras se abram.
Este texto não é, de forma alguma, um adeus. É somente um “até logo”. Vou ali buscar uma nova fase.