Crítica: Até os Ossos – 46ª Mostra de São Paulo
Até os Ossos – Ficha técnica:
Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: David Kajganich
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2022 (46ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: A história do primeiro amor de Maren, uma jovem aprendendo a sobreviver à margem da sociedade, e o intenso Lee, um andarilho sem amarras. Eles se encontram e se unem numa odisseia de mil e quinhentos quilômetros por estradas secundárias, passagens ocultas e alçapões na América de Ronald Reagan.
Elenco: Taylor Russell, Timothée Chalamet, Mark Rylance, André Holland, Chloë Sevigny, Jessica Harper, David Gordon Green, Michael Stuhlbarg, Jake Horowitz.
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Desde “Me Chame Pelo Seu Nome” (“Call Me By Your Name”), o cineasta Luca Guadagnino demonstra um interesse particular em transmitir a vida dos jovens e o seu funcionamento por diferentes territórios que levaram a sua série “We Are Who We Are” e agora o seu mais novo filme “Até Os Ossos” (“Bones and All”), que conta a história da jovem Maren (Taylor Russell), que tem uma necessidade quase sobrenatural de devorar carne humana, e por isso acaba atravessando o interior dos Estados Unidos tentando encontrar um sentimento de encaixe que ela nunca teve e no meio do caminho acaba encontrando o também jovem Lee (Timotheé Chalamet), que também tem a mesma necessidade de Maren e acaba a acompanhando nessa viagem. Os dois formam uma relação de companheirismo, amizade e amor num filme que assume uma espécie de visão romântica sobre ao mesmo tempo viajar e enfrentar o mundo ao seu redor enquanto você descobre um sentimento que talvez imaginou jamais descobrir ou que você tem medo de descobrir. Guardagnino parece ter feito um profundo estudo de como a juventude já foi retratada na juventude e se utiliza do seu filme como uma grande tese sobre essa geração em eterno deslocamento e incapaz de se encaixar em qualquer lugar. É algo que soa como um estudo que vai dos trabalhos de Nicholas Ray com “Amarga Esperança” (1948) e “Juventude Transviada” (1955) chegando principalmente no cinema de Gus Van Sant em especial em “My Own Private Idaho” (1991).
A questão do canalhismo e da necessidade por sangue e pela carne humana surge como um elemento fantasioso totalmente metafórico que busca com isso transmitir como isso torna aqueles jovens párias, afastados de se encaixarem em qualquer lugar, e com isso ele selam o seu amor com a carne a devorando com a suas mordidas. O uso da fantasia como uma grande metáfora romântica trágica que atravessa o país muito me remeteu ao o que a Kathryn Bigelow fez com os seus vampiros em “Quando Surge a Escuridão” (“Near Dark”).
Pelas estradas o filme oferece diversas participações especiais de grandes atores que enchem a tela de interesse como um excelente Mark Rylance, Chloë Sevigny, Michael Stuhlbarg e até o cineasta David Gordon Green, que curiosamente tem na sua filmografia filmes como “All the Real Girls” (2000) e “Undertow” (2004) que dialogam fortemente com a maneira que esse filme narra e registra o jovem do interior dos Estados Unidos, suas relações e o seu eterno deslocamento. E esse eterno deslocamento é muito bem percebido pelos locais e estradas que eles param, passam e vivem num jogo entre câmera e montagem que para e analisa os cenários que eles estão, que se cruza entre as cenas internas e externas e se transforma no ponto de vista dos seus protagonistas. O jovem astro Timothée Chalamet está bem e adequado para o papel, mas quem brilha é a ótima Taylor Russell exata em transmitir toda essa angustia e paixão jovem.