Crítica: Febre do Mediterrâneo – 46ª Mostra de São Paulo
Febre do Mediterrâneo – Ficha técnica:
Direção: Maha Haj
Roteiro: Maha Haj
Nacionalidade e Lançamento: Palestina, Alemanha, França, Chipre, Qatar, 2022 (46ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Waleed tem 40 anos e vive em Haifa, Israel, com sua esposa e filhos, e sonha em investir na carreira literária enquanto luta contra uma depressão crônica. Ele desenvolve um relacionamento próximo com seu vizinho, um trambiqueiro, com objetivos secretos a longo prazo. Esses planos se transformam em uma amizade inesperada entre os dois, e os conduz a uma jornada de encontros sombrios.
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Waleed é um pai de família que tenta escrever um livro enquanto é “sustentado pela esposa”, tal qual seu novo vizinho (embora este não esteja escrevendo livro nenhum). Waleed, ao ser perguntado sobre sua religião, diz que é Palestino – o que demonstra o quanto ele acredita no seu país de origem, o território que até hoje não tem sua independência reconhecida.
“Febre do Mediterrâneo” é uma grande metáfora para a situação da Palestina. Enquanto Waleed vive uma depressão que não vai embora, como se lembrasse a todo tempo da situação de seu país de origem, o vizinho Jalal aproveita mais a vida por não se preocupar com as questões políticas.
Ao encontrar um homem de saúde frágil, Waleed fala de forma veemente sobre suicídio, gerando asco no interlocutor. Ao longo da trama, cheia de ironias, já conseguimos antecipar os desejos e intenções do protagonista. Enquanto sua amizade com o vizinho se desenrola, ele descobre que seu filho pode ter a doença que intitula o filme: uma condição genética comum entre os árabes (e outros povos da região em torno do mar).
Tanto a possível doença do filho quanto a depressão de Waleed são elementos que representam a condição da Palestina. É algo fabricado a partir de questões mais profundas. É algo que passa pela violência e por relações tóxicas de proximidade. O mesmo pode ser dito dos consertos que Jalal faz: seus reparos no encanamento e na parede são sempre provisórios e prometem “durar” mais cinco anos, simbolizando uma situação política que nunca se resolve plenamente, apenas de estende de forma eternamente provisória.
“Febre do Mediterrâneo” critica o ciclo de violência que permeia as relações entre Israelenses e Palestinos, mas também é uma comédia ácida sobre o relacionamento que as pessoas criam com os vizinhos e também consigo mesmas.