Crítica: Terceira Guerra Mundial – 46ª Mostra de São Paulo
Terceira Guerra Mundial – Ficha técnica:
Direção: Houman Seyyedi
Roteiro: Houman Seyyedi, Arian Vazir Daftari, Azad Jafarian
Nacionalidade e Lançamento: Irã, 2022 (46ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Shakib é um operário sem-teto que não consegue superar a perda de sua esposa e filho em um terremoto anos atrás. Nos últimos dois anos, ele passou a se relacionar com Ladan, uma mulher surda e muda. O canteiro de obras em que ele trabalha serve de cenário para um filme sobre as atrocidades cometidas por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Inesperadamente, ele recebe um papel no filme, uma casa e a chance de um recomeço.
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Há uma famosa frase comumente atribuída a Albert Einstein: “Não sei como será a terceira guerra mundial, mas a quarta será com paus e pedras”. No filme de Houman Seyedi, temos um vislumbre dessa possibilidade a partir de relações de poder e uma série de acontecimentos quase tão absurdos quanto ironicamente engraçados – ao menos antes do terceiro ato.
Um filme sobre o nazismo está sendo rodado no Irã, e Shakib vê a possibilidade de não apenas trabalhar no local quanto de ter onde morar por um tempo. Mas para que sua exploração seja completa, o produtor do filme “quer” que ele não tenha família. Mas há afeto em algum lugar, e Shakib deseja ajudar a mulher com quem vem construindo um relacionamento.
Inicialmente, os trabalhadores braçais do cenário do filme são quase forçados a atuarem como figurantes do filme que, aparentemente, tem baixo orçamento. Mas o protagonista, pobre e analfabeto, é chamado para viver o “vilão” do filme: aquele ditador alemão nazista de bigode. A primeira cena em que ele aparece caracterizado é hilária.
No entanto, ainda que haja diversos momentos cômicos e irônicos em “Terceira Guerra Mundial”, este é um filme dramático e com inúmeras reviravoltas que deixam o espectador tenso.
O mais interessante do filme “Terceira Guerra Mundial” é como ele cria paralelos entre as relações de poder na Alemanha Nazista e no Irã da atualidade. Se os judeus eram obrigados a trabalhos forçados nos campos de concentração, os trabalhadores braçais são explorados e colocados para viver situações desagradáveis aliadas a salários baixos. A própria escolha do protagonista em esconder sua namorada na casa se assemelha à forma como muitos judeus foram protegidos durante o período da segunda guerra.
No terceiro ato, as reviravoltas são divertidas tanto pelo caráter absurdo (ou nem tanto assim) quanto pela função catártica. Os diálogos expositivos são necessários e ajudam o espectador a entender as ações do protagonista. Tem um pouco de Bacurau: de reação dos oprimidos frente à violência dos opressores.
Também tem ironia e sarcasmo.