Algumas palavras sobre Atypical
Atypical é uma série honesta. Não se propõe a ser mirabolante nem dar cabo de temáticas complexas. Quando foi lançada em 2017, a série chamou atenção por ter um protagonista no espectro autista, e surpreendeu muita gente ao se mostrar uma série sensível e leve.
Ao logo das temporadas seguintes, a trama se desenvolveu de maneira a consolidar Atypical como uma série agradável e divertida.
Recentemente, foi lançada a quarta e última temporada. Lembro-me de ficar muito feliz quando vi que a série teria mais episódios, e que estes seriam os últimos, já que eu gosto da produção, mas tenho problemas com séries muito longas e gosto quando elas não são canceladas sem a chance de um final.
Com os episódios derradeiros, a série termina com uma mensagem importante sobre como pessoas do espectro autista podem superar seus medos, ainda que mostre uma realidade nem sempre possível à maioria das pessoas com a doença.
O que faz com que Atypical se destaque reside nos depoimentos do protagonista. Se no começo esses depoimentos seriam suas sessões de terapia, na última temporada eles chegam a flertar com a quebra da quarta parede, visto que não vemos mais sua psicóloga (que, de fato, some das tramas paralelas nos episódios finais).
Quando temos o protagonista dizendo algo para a câmera, é como se fôssemos lembrados de que ele não tem um grau muito elevado de autismo – e só uma família de alguém com o transtorno poderia dizer o quanto as soluções são fáceis demais na trama. De qualquer forma, o que vemos em Atypical é um conjunto de relações familiares e entre amigos cuja maneira de encarar os dramas transita entre o bem-humorado e as soluções dramáticas que terminam de maneira positiva, quase sempre “fofa”.
O famoso termo “quentinho no coração” pode se aplicar à série. A trivialidade de alguns conflitos e o clima de familiaridade das situações em relação ao público tornam tudo mais despreocupado. Nesta última temporada, especialmente, as soluções definitivas começam a aparecer e o caminho para o fim é como uma pista reta sem ninguém para ultrapassar, fazendo com que a linha de chegada seja antevista e suave.
Mesmo assim, quando vemos a última cena de Atypical, tudo faz sentido. No fim, a série é uma grande busca por uma vitória, mas a corrida não poderia se voltar às curvas e percalços: amenizar as mazelas e as feridas funciona como um incentivo.
Atypical nunca prometeu eloquência dramática em função da simplicidade. Por isso, ao entregar o prazer da simplicidade, ela consegue nos fazer sorrir ao acreditar que as coisas podem ser mais simples.