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Crítica: Judas e o Messias Negro
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Crítica: Judas e o Messias Negro

Judas e o Messias Negro não doura a pílula e consegue impactar pelas escolhas e pelas atuações.

Leia sobre o filme no Festival de Sundance

Ficha técnica:
Direção: Shaka King
Roteiro: Shaka King, Will Berson
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 1º de fevereiro de 2021 (25 de fevereiro de 2021 no Brasil)
Sinopse: A história de ascensão e queda de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), o ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. Um jovem proeminente na política, ele atrai a atenção do FBI, que com a ajuda de William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba infiltrando os Panteras Negras e causando o assassinato de Hampton.

Elenco: Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Dominique Fishback, Ashton Sanders, Darrell Britt-Gibson, Martin Sheen, Jesse Plemmons.

Judas e o Messias Negro é um filme focado na ação. Não no que diz respeito ao gênero cinematográfico (embora isso também não esteja incorreto), mas no que diz respeito à maneira como se escolheu contar a história.

O filme de Shaka King é rápido. Não tem tempo para se demorar nos personagens ou evidenciar suas contradições e dramas. Tudo isso chega ao espectador pelos diálogos e principalmente pela atuação. E se Daniel Kaluuya vem recebendo a atenção da crítica e dos prêmios por seus discursos acalorados e sua semelhança com o personagem real, é Lakeith Stanfield quem carrega a dúvida e as contradições no olhar e nos movimentos mais sutis. Um bom exemplo é a cena de uma aula dos Panteras Negras, na qual não vemos o protagonista, que surge repentinamente na tela apenas com um movimento de câmera.

Judas and the Black Messiah (Judas e o Messias Negro) - Festival de Sundance 2021

Com uma direção extremamente segura e com escolhas pontuais de travellings e até mesmo o chamado dolly zoom, King consegue retratar a ascensão e queda de Fred Hampton (Kaluuya) pelos olhos de William O’Neal (Stanfield), infiltrado do FBI no partido dos Panteras Negras, quando J. Edgar Hoover (Martin Sheen) buscava reprimir ao máximo a luta antirracista.

O mais interessante de “Judas e o Messias Negro” é a maneira como ele retrata Hampton e suas ideias: em vez de “amenizar” as palavras do líder, como muitos produtores não hesitariam em fazer para evitar assustar o público americano mais conservador, o roteiro exalta as ideias revolucionárias e anticapitalistas do líder.

King enriquece os dramas dos personagens ao mostrar a jovem Deborah Johnson preocupada pelo futuro e igualmnte energizada pelos discursos de Hampton; e também ao nos deixar na dúvida sobre quais os reais interesses de O’Neal – e mostrar isso por meio das ações dele. Há diálogos importantes que trazem debates fundamentais, como os discursos que repetem a importância de lutar de forma intensiva e não apenas por reformas: “reforma é só o mestre ensinando os escravos a serem melhores escravos”. Em outro momento, Roy Mitchell (Plemmons) compara os Panteras Negras à Ku Klux Klan, dizendo que eles agem da mesma forma – o que remete a tantas falsas dicotomias da nossa atual sociedade que não consegue diferenciar opressores de oprimidos.

Por fim, Judas e o Messias Negro ainda consegue realizar cenas de ação frenética e criar tensão a todo tempo por meio de uma trilha sonora cuidadosa, fazendo assim uma obra coesa e que não apenas retrata um momento importante da história da luta negra americana, como também o faz com coagem de mostrar um discurso disruptivo, além de tratar com respeito uma figura complexa e contraditória como William O’Neal.

  • Nota
4.5

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