Precisamos falar sobre Retrato de uma Jovem em Chamas
Ambientado na França do século XVIII, conhecemos Marianne, uma pintora que foi contratada para fazer um retrato de Heloise para o seu casamento, mas ela não pode saber sobre a criação muito menos sobre o intuito da obra.
O filme não tem pressa para contar sua história, é como um diálogo calmo e tranquilo entre as próprias personagens com o público. Aos poucos, conhecemos suas motivações e presenciamos a construção das relações entre Héloïse (Adèle Haenel) e Marianne (Noémie Merlant).
Como acompanhamos a história na perspectiva de Marianne, é interessante notar os pequenos detalhes realçados pela camera, já que são eles que nortearão a obra da jovem pintora. A posição das mãos, o olhar e tantos outros detalhes nos deixa encantados pela figura misteriosa de Héloïse.
A diretora Céline Sciamma já vem a algum tempo trabalhando com obras voltadas para comunidade LGBTQIA+, tocando em temas fortes de forma sensível e cuidadosa. Exemplos disso são seus outros filmes Lírios D’água e Tomboy.
Com a aliança formada entre as protagonistas, é fácil mergulhar no cenário, conseguimos imergir em uma fotografia de tirar o fôlego, ouvindo o som das pinceladas na tela, das ondas do mar, dos passos na casa e da madeira queimando na lareira.
Esses sons são chamados de diegéticos, ou seja, tanto público quanto personagens estão ouvindo a mesma coisa.
Lá pro meio do segundo ato, há uma música, escrita pela própria diretora Céline Sciamma. Em entrevista para o Indiewire, Céline explicou que escreveu a letra em latim e que essa é uma adaptação da frase do filósofo Nitzsche “Quanto mais alto nós subimos, menor parecemos para aqueles que não podem voar”.
E, nesse único momento, sentimos o impacto do amor entre Marianne e Héloïse, um amor que queima e faz esse fogo crescer. Um dos detalhes importantes da cena, é como essas representações revelam ainda mais sobre a relação entre as protagonistas e, a partir daquele momento, as duas entendem o que sentem e o que querem.
Retrato de uma Jovem em Chamas mistura simplicidade e emoção, se sustentando em uma boa narrativa e em personagens reais com sentimentos arrebatadores.
Lírios D’água, Tomboy e Retrato de uma Jovem em Chamas estão disponíveis no catálogo do Telecine, juntamente com vários outros filmes LGBTQIA+.