Crítica: O Som do Silêncio
O Som do Silêncio intensifica o impacto do som bem mixado para que as atuações se mantenham contidas – e, portanto, verdadeiras.
Ficha técnica:
Direção: Darius Marder
Roteiro: Darius Marder, Abraham Marder, Derek Cianfrance
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 4 de dezembro de 2020 (streaming, Brasil)
Sinopse: Um jovem baterista teme por seu futuro quando percebe que está ficando surdo. Apaixonado pela música e por sua namorada, que é integrante da mesma banda dele, o músico vai viver mudança drástica repleta de angústia e da busca pela quietude.
Elenco: Riz Ahmend, Olivia Cooke, Paul Raci, Lauren Ridloff, Mathieu Amalric.
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É com seu olhar fugidio que Riz Ahmed mostra seus sentimentos. Muito do que os personagens de “O Som do Silêncio” pensam está em suas ações, seus olhares.
O filme de Darius Marder se utiliza de sons diegéticos para nos mergulhar na história, e da alternância entre a representação da subjetividade do protagonista e o externo a ele para fazer com que o espectador se aprofunde em sua situação.
Há tempos eu não me emocionava com um filme. Sem explorar o melodrama, Marder nos leva a uma jornada cuja expectativa de mudança do protagonista gera inquietude. Como estamos com o ponto de vista de quem ouve o que o protagonista não ouve (e vê o que o protagonista não vê), entendemos que há uma possibilidade. O protagonista, no entanto, insiste nos desejos anteriores.
Talvez todos nós possamos nos identificar com isso: quando a vida nos impede de realizar nossos sonhos, é preciso recriá-los, renová-los. Mas geralmente nos prendemos a eles por muito tempo. A cena de Ruben na cama com Lou, namorados em situação confusa, é especialmente bonita porque mostra como os dois não estão mais conectados: seguiram rumos diferentes.
Se Olivia Cooke e Riz Ahmed encontram nos pequenos gestos a melhor maneira de mostrarem o que sentem, é no olhar profundo de Paul Raci que temos a melhor atuação do filme: é com ele que percebemos cada dor que seu personagem viveu, assim como a sabedoria de que só o tempo será capaz de cicatrizar a ferida de Ruben.
O implante realizado pelo protagonista funciona como uma lente de aumento para suas mudanças. Mais do que ouvir o mundo de forma diferente, ele também o enxerga com outro prisma e se distancia do que era antes.
Mais do que fazer jus ao título e à temática, o silêncio também funciona como contraponto aos momentos de trilha, engrandecendo-a nos momentos em que ela se faz presente, o que aumenta a percepção dos acordes e valoriza os sentimentos evocados. “O Som do Silêncio” combina sensibilidade o suficiente – e sem excessos – em uma história cuja profundidade nos permite acompanhar um processo de compreensão do fato de que o mundo é mais do que aquilo que capturamos com nossos sentidos.