Netflix anuncia um filme novo por semana enquanto Brasil nada em desespero
Nas últimas semanas, o anúncio da Netflix em lançar um filme novo por semana durante todo 2021 ainda pegou muita gente de surpresa. Na lista apresentada pelo streaming, licenciamentos e compras de outros países integram o catálogo de uma oportunidade de lucro ainda durante a pandemia da Covid-19.
Em outras ocasiões por aqui, defendi a validade e a legitimidade do mercado híbrido, não só como uma porta de saída para milhares de profissionais em desespero pela crise, mas para também acompanhar as mudanças do modo de ver do espectador.
Muito se criticou a Warner quando a mesma, um pouco antes da Netflix, anunciou uma medida semelhante com diversos filmes antes programados para as salas de cinema. Alguns editorais não levavam fé que o “desastre” seria levado a sério por outras empresas, mas o cenário já traçava o contrário.
Em meio a um deserto de esperança em ver as salas de cinema lotadas novamente ainda em 2021, o streaming entre esse ano provando mais uma vez ser um modelo de mercado válido e necessário para os novos tempos.
Alguns países já entenderam muito bem essa oportunidade, tendo suspendido as regras de lançamento nas salas ou ainda encurtando a distância entre essa estreia e o streaming, ganhando a possibilidade de continuar com um fundo ativo e atuante para aparar as arestas da pandemia.
Mesmo estando de acordo fechado com uma distribuidora no Brasil, o catálogo anunciado pela gigante do streaming não contém nenhum filme brasileiro sem ser um original encomendado pela casa. A falta de títulos recentes do nosso país se deve ao fato de a nossa agência não liberar o lançamento em outro formato que não seja a sala de cinema em um primeiro momento.
Durante o desespero gerado pela pandemia no ano passado, alguns distribuidores ainda tiveram força e amparo jurídico para pedirem a revogação dessas regras e seus filmes terem uma possibilidade de receita.
O que na época assustava o mercado pela falta concreta de retorno financeiro ao FSA – uma vez que o streaming continua sem perspectiva de regulação no país – hoje se encara como uma possibilidade perdida de gerar lucros para a economia criativa, mesmo que o número de pessoas impactadas seja bem menor do que o que gostaríamos de ver.
Esse apagamento nacional até mesmo com um “parceiro” que ainda tenta sair um pouco da uma zona de conforto dentro do nosso audiovisual não se dá apenas em virtude da pandemia, mas sim pela falta de interesse em estimular a indústria.
Enquanto a Europa já embolsa os retornos da regularização, o Brasil escancara cada vez mais o lobby feito pela AT&T e Disney alguns anos atrás, a segunda inclusive já fechando as portas para a geração de emprego e visibilidade do mercado ao fechar um acordo de exclusividade de produção com a Globo.
A pandemia veio para acelerar o que já era simples e concreto de se tornar a realidade da indústria ao redor do mundo, delimitando uma perspectiva para onde e para quem será produzido as próximas obras cinematográficas.
Ainda que Hollywood continue dominante ao redor do mundo mesmo com o desastre de controle do vírus, o gigante norte-americano vai precisar brigar pelo espaço já reservado e estimulado pela União Europeia e pelo mercado asiático, sobretudo no que diz respeito a Coreia do Sul e China.
São boas notícias para quem gosta de ter a oportunidade de conhecer outros cinemas, mas péssimas para mercados que, apesar de serem grandes internacionalmente, são de países emergentes cujo governo não se propõe a alavancar o debate da regularização.
Atualmente estamos ficando atrás até mesmo do Equador, que mesmo com uma bancada liberal em seu parlamento, ainda conseguiu segurar o veto do presidente Lenin Moreno na proposta de legislação do streaming e tem até o começo do mês que vem para continuar debatendo suas implicações. A conta do nosso (des)governo sairá cara e desconfortável para muitos setores essenciais ao país, a debilidade da saúde não mais se restringe ao vírus, mas às consequências que por ele será perdurada ainda por muitos anos.