Faz Sol Lá Sim: Doc conta a história da cidade alagoana que respira música
Existe um lugar, ou melhor, uma cidade no nordeste brasileiro em que a música é parte fundamental de sua história, cultura e transformador social. Graças ao cinema e ao trabalho de uma equipe é possível conhecer um pouco da história do município de Marechal Deodoro, no litoral do Estado de Alagoas, no qual a música está presente na vida de quase toda a comunidade.
No documentário Faz Sol Lá Sim, do cineasta e jornalista Claufe Rodrigues, que entra em cartaz nos cinemas de São Paulo e Rio de Janeiro no dia 29 de outubro, conhecemos a relação histórica da cidade de Marechal Deodoro e a música. Em pouco mais de 1h conhecemos esse belo paraíso do litoral alagoano que se tornou o principal celeiro de bandas filarmônicas.
Através de diversos depoimentos, entre maestros, músicos e demais pessoas da cidade, o espectador é convidado a conhecer a origem da tradição local, as rivalidades entre as bandas, como elas funcionam e o impacto na vida de centenas de jovens do município.
Assim como no documentário Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, o espectador tem a oportunidade de conhecer pedaços do Brasil, pouco conhecidos, mas que possuem uma imensa riqueza. E é possível dizer que Faz Sol Lá Sim consegue transmitir a importância da música na vida daquela comunidade.
Para além disso, o doc não deixa aproveitar toda beleza do município para quase nos fazer pegar o próximo avião para Alagoas e conhecer a cidade, e de quebra aprender um instrumento em uma das escolas de música.
O documentário traz uma pequena parte da história regional brasileira. Já que o município é responsável por ter uma das, ou talvez a única, banda filarmônica mais antigas do país, com mais de 100 anos. Atualmente as filarmônicas possuem centenas de músicos em atividade, reforçando uma tradição que se tornou marca da cidade.
Aos poucos o espectador vai conhecendo cada uma das bandas, sua origem, suas particularidades e tradições. E claro, não poderia faltar as disputas e rivalidades entre os grupos musicais. Além do aspecto musical, Faz Sol Lá Sim, apresenta o papel da música na inclusão social, principalmente de jovens de baixa renda. Já que, em Marechal Deodoro a música se torna refúgio e salvação para muitos, onde grande parte dos moradores vivem da pesca e não possuem outras opções de vida.
O documentário é bem-intencionado. Aborda questões sociais como as dificuldades das mulheres em ser musicistas, devido os casamentos e gravidezes precoces. Além de abordar a militarização da comunidade e os preconceitos enraizados que entram em conflito com as gerações mais novas.
Em um todo, senti falta de uma abordagem sobre um possível impacto econômico na cidade, ou se é apenas algo cultural. Na minha percepção não fica evidente se ser um músico em Marechal Deodoro é uma carreira, que lhe renda meios de sustentar sua família. Fica a impressão de que se trata apenas de uma tradição cultural, e não um celeiro que prepara e exportar instrumentistas para outros lugares, assunto pouco abordado no documentário.