Mercado de Streaming na Alemanha bate recorde e prova que regular faz bem
Em outra ocasião na minha coluna, tive a oportunidade de elaborar um texto sobre a importância de encarar o streaming como um parceiro econômico, prevendo seus direitos e deveres para com o país que deseja adquirir obras.
Lá também dediquei alguns parágrafos para falar sobre a relação desse mercado regulado em alguns países europeus que já superaram o debate e avançaram em seus modelos de negócios, agora parece que as contas estão chegando.
A Alemanha foi o primeiro país a incluir o streaming dentro das obrigações legais para com o audiovisual ainda em 2017. Na ocasião, o governo alemão exigiu uma cota de tela nas plataformas de streaming de 30% para o produto nacional e um retorno em forma de imposto das receitas líquidas desse player.
Quase 3 anos depois da política pública ativa, uma pesquisa elaborada pelo Fundo Audiovisual Alemão retorna com dados expressivos para o setor e sociedade em geral. Houve um aumento de 12% do consumo em 2019 em relação aos anos anteriores, o que chegou a expressiva soma de € 1,19 bilhão.
O aumento do consumo prova que esse novo modo de ver irá, de fato, ressignificar muitas práticas de mercado e mais uma vez evidencia o seu valor econômico para todo e qualquer país que terá recursos alocados em produções nessas plataformas.
Para efeitos de pagamentos e contribuições do streaming aos fundos alemães, o mercado deve pagar um retorno de 1,8 a 2% do que incide das suas receitas líquidas anuais e do valor das obras alemãs adquiridas e coproduzidas por eles.
A participação do mercado de streaming fez com que a Alemanha pudesse iniciar 2020 com verbas sobrando, o que possibilitou a criação de uma renda emergencial para os profissionais do audiovisual.
O Fundo ao que pertence à pesquisa (FFA), tem linhas de captação para o mercado exibidor, o qual como todos sabem, vem padecendo sem verbas e sem saber a quem recorrer para continuar funcionando.
O mercado audiovisual alemão agora se torna ainda mais um case de sucesso e nos serve de estudo para entender como a participação em políticas de cota de tela servem para impulsionar as receitas das plataformas e, consequentemente, alimentam a cadeia de produção.
No Brasil, atualmente, atravessamos um debate em que algumas lideranças políticas ainda encaram a cota de tela como uma imposição e valorização de mercado em detrimento aos outros parceiros econômicos que possam estar envolvidos na negociação.
Conseguimos enxergar apenas pelos números que chegam da Alemanha que tal opinião não poderia ser mais absurda e fora da realidade que se elucida nos próprios mecanismos da política em questão.
Devemos, mais do que nunca, encarar o audiovisual como uma indústria de extrema importância e valor para um país, participante ativa nos resultados do PIB Nacional, e a qual irá residir em muitas práticas futuras do mercado empresarial.
Esse entendimento já pode ser sentido no Uruguai e na Coreia do Sul, além da própria Alemanha. Em meu Instagram recentemente aberto também dedico alguns IGTVs sobre o assunto e a diferença que esse incentivo pode gerar. Que o mercado europeu possa continuar nos ensinando como devemos resolver nossas relações de investimentos.