Mudança na data do Oscar pode alterar metodologias do mercado cinematográfico
Muitos já devem saber que, para um filme entrar na corrida por uma indicação ao Oscar, ele passa por diversas campanhas, sendo elas publicitárias ou não. No entanto, antes que isso efetivamente ocorra, lidamos que a formação de alguns termômetros durante o ano.
Isso significa, entre outras, que a lista do Oscar já começa a se formar a partir de festivais de cinema que temos ao longo do ano. Para citar os mais importes para a corrida: Berlin, Cannes, Toronto, Tribeca e Veneza.
Além desses, podemos contar com alguns títulos importantes saindo do Sundance, ainda que a Academia tenha uma enorme dificuldade de olhar para o cinema mais independente, principalmente pelo fato de não terem verbas suficientes para sustentar uma futura campanha.
Entretanto, as relações de mercado com o Oscar já mudaram um pouco no ano passado quando o filme mais visado, e o grande vencedor de Cannes, foi um título estrangeiro, de um mercado em plena ascensão que é a Coreia do Sul.
Tradicionalmente, o Festival de Busan ocorre em outubro, sendo uma excelente janela de exibição para um termômetro mais sólido para o Oscar. Apoiando-se no sucesso de “Parasita”, Busan tem ganhado destaque no mercado cinematográfico, que já chamou atenção até de alguns distribuidores e produtores brasileiros, que planejam lançamentos nesse circuito.
Muito disso também vem do fato de que a forte política de exportação da Coreia do Sul ajuda diretamente filmes que talvez pudessem passar mais despercebido em outros mercados importantes durante o ano.
Com a mudança da data da cerimônia, a Academia joga Berlim para escanteio, o que poderia continuar servindo como um termômetro importante — e em um mercado forte como é o alemão —, o festival agora acontece muito em cima do deadline da submissão, e para o próximo ano, se torna extremamente irrelevante, e isso pode afetar as relações de mercado que ele coleciona até hoje.
Chamo atenção para essa análise muito pelo fato de que os festivais são janelas que não conseguem mudar suas datas com tanta facilidade assim, e seguir um calendário certo faz com que os players de mercado possam se organizar para lançar seus filmes e os festivais não correm o risco de atrapalhar outros.
Além disso, com alguns festivais mais apagados devido à mudança da data, alguns títulos podem sofrer com falta de destaque e planejamento inadequado, uma vez que a leitura de mercado precisará ser mudada.
Torço para que as mudanças nessa relação sejam benéficas para a abertura de um novo panorama de mercado. Seria interessante termos Busan como um dos carros chefes para o Oscar, um festival que já não se apresenta tanto como tradicional.
Deixo a reflexão, ciente de que teremos que voltar nesse assunto por diversas vezes, afinal, com a pandemia, as relações que existem nesses festivais também devem mudar. Reuniões online ao invés de presenciais, embora importantes, já delimitam bastante o valor de vendas.
E aí, o que você pensa que pode acontecer com essa mudança de data?