O Homem Invisível: relacionamentos abusivos e o terror psicológico
Ele está de volta! O Homem Invisível, um dos maiores clássicos do gênero do terror psicológico, lançado na década de 1930, recebeu uma nova versão. Escrito e dirigido por Leigh Whannell (Jogos Mortais e Sobrenatural), a nova adaptação não desrespeitou o longa original, mas também não deixou de trazer uma nova história e um olhar atual, discutindo os relacionamentos abusivos e suas consequências.
O longa teve uma boa recepção tanto do público quanto da crítica especializada. No site do Rotten Tomatoes a nova adaptação possui 91% de aprovação da crítica e 88% do público.
Queria dizer que este artigo contará com spoilers do filme, já que meu objetivo é discutir sobre a trama que o longa apresenta. Portanto, se você não assistiu recomendo ir ao cinema e depois voltar aqui e refletir junto comigo, e claro, dar sua opinião.
O Homem Invisível, lançado no Brasil na última semana de fevereiro, nos convida a acompanhar o drama de Cecilia, interpretada por Elisabeth Moss (Nós e O Conto da Aia). Logo na primeira cena acompanhamos sua fuga de mansão de um milionário, que logo descobrimos se tratar de seu marido, um homem extremamente controlador (macho escroto). Aqui está um dos principais acertos do filme: mesmo sem grandes detalhes da vida de Cecilia, conseguimos criar empatia pela personagem e sentir suas angustias e sofrimentos. Isso se deve claro, a ótima atuação de Moss acompanhada da boa direção. Elogios a parte para a trilha sonora, responsável por criar uma constante tensão no espectador.
Após fugir de seu relacionamento abusivo Cecilia começa a desenvolver alguns distúrbios psicológicos, como paranoia e um medo constante de estar sendo perseguida, o que a impede de colocar os pés fora de casa. Chega então a notícia de que Adrian, seu marido, havia se suicidado, deixando sua herança para ela. Porém, o que parecia ser um alivio torna-se um verdadeiro pesadelo.
Cecilia começa a acredita que Adrian está vivo, mas encontrou uma maneira de ficar invisível e decidiu persegui-la. Chegamos ao ponto central da trama. O roteiro de Whannell tinha um grande potencial de refletir os impactos de um relacionamento abusivo. A problemática está presente no filme, porém o roteiro prefere resolver o mistério do homem invisível de forma semelhante a adaptação de 1933, perdendo o potencial suspense e tensão criada até parte do segundo ato.
Ao revelar que o homem invisível de fato é seu ex-companheiro Adrian, que forjou sua morte e utilizou de uma roupa tecnológica criada por ele para se tornar invisível faz com que a trama e o terror psicológico percam volume e intensidade. É angustiante ver (não sei se ver seria a palavra certa) o homem invisível perseguindo Cecilia, fazendo com que ela pareça uma mulher perturbada e desacreditada perante as pessoas ao seu redor, entretanto, o filme deixa de ser um completo terror psicológico para um filme de ação e perseguição.
Certamente que é preciso valorizar os pequenos detalhes do roteiro como em cenas em que a personagem afirma que o objetivo de seu ex-companheiro é que ela seja taxada de louca, sem credibilidade, algo comum dos abusadores. Contudo, em minha concepção a história teria um maior impacto caso optasse por seguir o caminho da loucura, do tormento psicológico, onde Cecilia tivesse criado em sua mente este homem invisível. Tal desfecho seria um reflexo muito plausível e real do trauma de uma vítima de abuso psicológico.
De acordo com psicólogos e especialistas as vítimas costumam apresentar depressão profunda, além de ansiedade generalizada e a insônia, todas essas características estão presentes na personagem.
Em suma, O Homem Invisível consegue entregar um bom suspense, com jump scares pontuais, sem abusar da técnica. A ótima atuação de Elisabeth Moss é fundamental para que o filme atinja seu objetivo de criar o terror psicológico. Porém, o maior acerto do longa é nos fazer discutir sobre os impactos de um relacionamento abusivo, algo cada vez mais presente na nossa sociedade.