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Bad Boys Para Sempre
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Crítica | Bad Boys Para Sempre

Bad Boys Para Sempre

Ficha técnica
Direção: Adil El Arbi, Bilall Fallah
Roteiro: Chris Bremner, Peter Craig, Joe Carnahan
Elenco: Will Smith, Martin Lawrence, Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig, Charles Melton, Paola Nuñez, Kate del Castillo, Nicky Jam, Joe Pantoliano Nacionalidade e Lançamento: EUA, Mexica; 2020 (30 de janeiro de 2020 no Brasil)
Sinopse: Os Bad Boys Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Burnett (Martin Lawrence) estão de volta para uma última missão no esperado Bad Boys Para Sempre.

Bad Boys Para Sempre poster

Pode-se dizer que o primeiro “Bad Boys“, de 1995, é um marco: além de revitalizar o gênero do filme buddy cop, que se encontrava num esgotamento de ideias (e até mesmo o grande Richard Donner não tinha para onde ir com sua série de filmes “Máquina Mortífera”),  é o filme que catapultou as carreiras não só de Will Smith –que estava migrando da série de TV “Um Maluco no Pedaço”, para o cinema – e Martin Lawrence, mas também de Michael Bay, que estreava na função de diretor em longas-metragens. O segundo filme, que chegou 8 anos depois, veio noutro momento de virada em 2003. Smith já era uma mega-estrela, Lawrence vinha de sucessos na comédia e Bay possuía toda a confiança de estúdios após três sucessos consecutivos – “A Rocha (1996)”, “Armageddon (1998)” e “Pearl Harbor (2001)”. Ao contrário do até contido primeiro filme, Bad Boys 2 era mais caro e grandioso, e já possuía todos os vícios da filmografia de Bay que eventualmente beirariam a auto paródia: a duração excessivamente longa, os planos sempre em movimento, o patriotismo exacerbado, a hipersexualização da mulher, o humor juvenil e é claro, as explosões.   

Assim, após anos de rumores e pré-produções frustradas (e talvez um consenso orçamentário que agradasse todas as partes), Bad Boys Para Sempre finalmente chega aos cinemas, sob o comando de novos diretores, os Bélgicos Adil El Arbi e Billal Fallah, com um roteiro de Chris Bremmer, Peter Craig e do subestimado Joe Carnahan (“A última Cartada (2006)“, “A Perseguição (2011)”). Bay apenas retorna para uma participação especial como ator, para discursar na cerimonia de casamento da filha de Marcus (Martin Lawrence), Megan (Bianca Bethune), discurso este que já vem  de maneira metalinguística, como uma passagem de bastão e benção para a dupla de diretores que comanda esta produção.

Bad Boys Para Sempre

E é claro que Bad Boys Para Sempre não seria um filme dos “anos 2010” se não fosse repleto dessas autorreferências – talvez a maior marca dessa década de filmes de gênero que possuiu como uma de suas maiores características a vergonha de assumir suas próprias convenções -, em determinado momento desse terceiro filme, o Marcus de Lawrence comenta sobre como o desenrolar da trama parece saído de uma novela mexicana, nessa constante mea culpa que permeia a produção. É curioso notar como mesmo que os Bad Boys de Bay (principalmente o segundo) não se levassem exatamente a sério, o diretor se comprometia com sua história como se fosse Shakespeare. O que resta a este terceiro filme, então, é a responsabilidade de ser justamente um “filme de macho” da década que se fecha e dessa que se inicia, um filme onde se sentem intenções tímidas de ressignificar personagens problemáticos com um olhar de progresso, de corrigir erros do passado.

E lidar com as consequências do passado é justamente o arco de personagem de Mike (Will Smith), que continua agindo como o jovem durão e inconsequente “atire primeiro, pergunte depois” de sempre, renegando a proposta de aposentadoria sugerida por Marcus, que constantemente lembra o parceiro de que ambos não são mais os “Bad Boys” de outrora, e sim cinquentões. Tais pesos e responsabilidades vêm, também, numa pessoa do passado de Mike que retorna em busca de vingança. Vários personagens introduzidos neste terceiro filme – com intenção de catapultar uma nova franquia, é claro –, como a equipe tática composta por Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig e Charles Melton, contribuem para essa ideia de “velha geração vs. a vindoura”, mas estamos falando de Bad Boys, um filme que não pretende exatamente discutir a condição humana. O grande atrativo da serie sempre foi e ainda é – à parte das eficazes cenas de ação – a divertida dinâmica de sua dupla de policias-título, e Smith continua com o carisma habitual (ainda que incomode o fato de que, por ser um “filme estrelado por Will Smith”, todas as peças que movem a trama devam girar em torno de seu personagem), ao passo que Lawrence retorna de um hiato com energia e timing cômico excelentes.

Bad Boys Para Sempre

O que mais intriga neste terceiro filme, é como – ainda nessa chave de correção de curso dentro e fora do que vemos em cena – Bad Boys Para Sempre consegue ser um filme mais equilibrado e coeso – portanto “superior” – do que seu predecessor, mas pelos exatos motivos dentro da franquia, uma obra mais genérica e mais protocolar (que constantemente evoca, inclusive as produções mais recentes da serie de filmes “Velozes e Furiosos “), como se o que definisse a franquia e a diferenciasse dos outros filmes do tipo fosse a energia anárquica e repleta de equívocos de Michael bay.

Se a mais nova aventura de Mike e Marcus se encontra num momento de revisão de conceitos, trocando a glorificação de violência, do patriotismo exacerbado e da ostentação do corpo da mulher já citados aqui, há elementos cimentados na franquia dos quais os diretores e roteiristas desta produção nunca conseguem escapar, pois seu principal protagonista é refém de sua própria imutabilidade. O encerramento (também temático) do filme chega a ser cômico em sua regressão aos valores vistos nos filmes anteriores. A vilã – mexicana, é claro – é a “mulher louca” em busca de vingança; a aposentadoria é encarada como desistência e tudo se resolve, como sempre, num impasse de armas mexicano. O obrigatório “momento de redenção” do protagonista é confuso, mas tudo se esclarece na não intencionalmente cômica frase de Mike para seu parceiro, após o clímax do filme, quando ele pede desculpas previamente pelo obrigado sentimental que dirá para o amigo, algo que para o policial contrariaria, de alguma forma, sua masculinidade. Algumas coisas nunca mudam.

  • Nota
2.5

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