O tema em comum de dois filmes diferentes
Às vezes eu faço a minha pequena maratona de filmes no cinema e vejo dois (ou mais) longas em uma única tarde. Na última vez, decidi ver a comédia romântica “Uma Segunda Chance para Amar” e, logo em seguida, “Entre Facas e Segredos”. A despeito de serem filmes bastante diferentes, surpreendeu-me um tema em comum nos dois: a imigração.
Os filmes sempre refletiram em suas temáticas aquilo que ocorre de mais importante no mundo, mas ainda assim me surpreendi com o fato de filmes com propósitos tão diferentes (e com tramas em países diferentes) tangenciarem o mesmo assunto.
Na comédia romântica de Paul Feig, estrelada por Emilia Clarke e Henry Golding, a protagonista é uma imigrante da Iugoslávia que presencia cenas de xenofobia no ônibus, ao mesmo tempo em que trabalha para uma mulher chinesa e se apaixona por um asiático.
Se o primeiro exemplo de filme continua sendo uma história de amor natalina, o mesmo não se pode dizer de “Entre Facas e Segredos”, de Rian Johnson. Ao final da trama, o longa se revela um contundente comentário sobre imigração nos Estados Unidos, e de forma nada sutil. Eu diria, aliás, que a grande virada do longa é quebrar as expectativas do público duas vezes: quando abandona o mistério e vai ao suspense, e quando praticamente abandona o suspense para chegar no comentário político. Rian Johnson gosta de romper expectativas, pelo jeito (para o bem ou para o mal).
Na comédia romântica natalina, a personagem de Emma Thompson é uma imigrante da antiga Iugoslávia que pressente o início de algo ruim quando assiste a eventos xenofóbicos na TV. É uma clara resposta ao Brexit, que é muito mais do que a saída do Reino Unido da União Europeia: é o reflexo do crescimento do conservadorismo e do desejo de um isolamento que dificulte a chegada de imigrantes.
Em determinado momento de “Entre Facas e Segredos”, o personagem de Chris Evans alega que a casa que herdaria de seu pai é um direito oriundo de seus antepassados, sendo em seguida desmentido pelo detetive vivido por Daniel Craig, em uma clara alusão ao argumento que muitos utilizam quando defendem que a América deve ser “grande de novo”. É por isso que os filmes servem também como pequenas cápsulas do tempo: no futuro, poderemos olhar para eles e refletir sobre os acontecimentos dos dias de hoje. Mesmo assim, o mais importante é que eles levam debates de forma acessível às pessoas e têm o poder de fazê-las refletirem ou se questionarem. Arte serve para tudo isso – além de divertir. E sim: ambos os filmes são divertidos.