Cinema Brasileiro: forte ou fraco? – 43ª Mostra de São Paulo
Mostra de SP

O Cinema Brasileiro é forte e fraco ao mesmo tempo – 43ª Mostra de São Paulo

Em um auditório não tão cheio quanto deveria, no prédio do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, ocorreu em São Paulo o III Fórum Mostra, evento que fez parte da programação da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ao longo de três dias, foram apresentados importantes debates com especialistas e entendedores do cinema e de sua realidade.

Entre os debates que tive a oportunidade de acompanhar, dois chamaram bastante atenção: a sequência que debatia as forças e fraquezas do cinema nacional. “Por que o cinema brasileiro é tão fraco?” e “Por que o cinema brasileiro é tão forte?” foram os títulos.

O primeiro debate teve a presença de Arthur Autran, professor da UFSCAR e diretor de documentários; Lúcia Nagib, professora da Universidade de Reading (Reino Unido); Luiz Carlos Barreto, um dos maiores produtores do cinema brasileiro (O Quatrilho; O Que é isso, Companheiro?), e Luiz Gonzaga de Luca, que foi superintendente de distribuição da Embrafilme e presidente da Rede Cinépolis.

Barreto falou sobre a força do cinema brasileiro na criatividade e argumentou que há atualmente um momento de queda no cinema nacional, mas apenas do ponto de vista do governo. Segundo um cálculo geral, cada cidadão possui cerca de 4 horas de ócio por dia: é obrigação do Estado Nacional se preocupar com esse tempo, que será dedicado ao entretenimento e lazer cultural. “Os países não perceberam isso, só os Estados Unidos”.

Os motivos para o cinema brasileiro ser “fraco”:

No fim das contas a conclusão à qual chegaram os convidados foi de que o grande problema do cinema no Brasil é que nunca houve política de Estado para o entretenimento (diferente do que há para a Educação e a Saúde, por exemplo). Segundo a professora Lúcia Nagib, o termo ideal não seria “fraco”, e sim “vulnerável”, devido à forma como as coisas se organizam atualmente. Ela destaca que o fato de a Ancine ser hipertrofiada (ela não só regulamente o cinema, como também fomenta, incentiva, controla, entre tantas outras funções) faz com que o ataque à Ancine seja um ataque a todo o cinema brasileiro.

E o que faz o cinema ser forte?

Ainda na primeira apresentação, Lúcia Nagib comentou algo que fortalece a produção cinematográfica brasileira: a lei da TV Paga e o crescimento de cursos de cinema em todo o Brasil, com o investimento em universidades e assim criando uma massa crítica acadêmica.

A segunda apresentação teve a presença de Talita Arruda, diretora da Sessão Vitrine na Vitrine Filmes; Mariza Leão, produtora na Morena Filmes de longas como “De Pernas pro Ar”; e Laís Bodanzky, presidente da Spcine e diretora de longas como Bicho de Sete Cabeças e Como Nossos Pais.

Mesmo lamentando o corte de financiamento dos filmes e argumentando que isso vai afetar a chegada de filmes daqui a alguns anos, as mulheres da mesa falaram sobre a importância dos nichos como foco dos produtos audiovisuais, já que não é mais necessário que um filme tenha boa bilheteria para ser um sucesso. Basta atingir um público.

Também foi falado sobre a importância de regulamentar o streaming, para que ele não tenha a característica que lhe é negativa: ele transforma a produção audiovisual em um serviço prestado, já que os direitos autorais passam a ser da plataforma.

Algo que deve acontecer com o enxugamento das políticas de fomento ao cinema, segundo o que é possível concluir pelos debates, é que a produção audiovisual no Brasil deve voltar a se concentrar no eixo Rio-São Paulo, especialmente em São Paulo. Laís Bodanzky falou sobre a Film Commission de São Paulo, destacando a importância desse tipo de instituição para estimular a produção audiovisual. O Brasil poderia ter uma, mas não tem. E tanto a Spcine quanto a Film Commission, além do tamanho da cidade, fazem com que haja uma robustez na produção audiovisual que não há em outras regiões do país.

Estas foram apenas algumas das ideias apresentadas. Muito mais foi falado. A Mostra de Cinema e o Fórum não são apenas exibição de filmes: promovem a união das pessoas e a proliferação de ideias. Participar deles abre a mente e ainda coloca o público próximo de pessoas importantes da área.

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