CRÍTICA: VIAJANTE DA MEIA-NOITE – 43ª MOSTRA DE SÃO PAULO
“A estrada da vida passa pelo inferno”
O cinema é poderoso, isso é inegável. Às vezes nós não imaginamos o poder que tem um filme, achamos que é simplesmente um mercado que visa lucrar e entreter, e esquecemos seu poder de denúncia, de incomodar, de nos tirar da zona de conforto e nos fazer refletir. De forma intimista o documentário Viajante da Meia-noite (MIDNIGHT TRAVELER), do diretor Hassan Fazili, estreante na 43ª Mostra de São Paulo, narra a trajetória da família de Hassan Fazili em busca de refúgio, após deixar o Afeganistão forçadamente.
Viajante da Meia-noite é uma aula didática para entender como é a luta e o sofrimento diário de milhares de famílias que são forçados a deixar seu país devido à guerra, a miséria e os conflitos políticos. Conhecido por retratar os direitos das mulheres, crianças e pessoas afegãs com deficiência, Hassan havia gravado um documentário televisivo sobre um líder do Talibã que resolveu abandonar o grupo. Após a divulgação do documentário, o Talibã executou o ex-integrante e ameaçou matar Hassan, obrigando ele, sua esposa Fatima e as duas filhas do casal fugirem para se salvar.
O filme-documentário chama atenção não só pela realidade crua, mas pela forma como o filme foi gravado. Toda trajetória familiar saindo do Afeganistão e entrando em outros países clandestinamente é gravada usando apenas três telefones celulares, sem grande tecnologia.
O documentário mostra que bons filmes podem ser produzidos com pouco, sem orçamentos bilionários e atores famosos. Viajante da Meia-Noite consegue ser sensível e tocante, mas ao mesmo tempo um soco no estomago ao mostrar as situações extremas, como o frio, a fome, as perseguições, que os refugiados são obrigados a enfrentar para ter uma vida melhor.
O longa não só traz o olhar do jovem cineasta, mas de toda sua família. Em diversos momentos as cenas são gravadas por sua esposa, além de uma das filhas do casal. Nessas ocasiões é possível conhecer o olhar de uma criança refugiada, suas angustias e sonhos, dando maior profundidade a narrativa.