Crítica: Morto Não Fala (2019) – Filme Nacional de Terror
Morto não Fala tem uma premissa bem interessante: nosso protagonista fala com os mortos, mas diferente de outros filmes por aí, Stênio (Daniel de Oliveira, que fez o Cazuza), que trabalha no IML, conversa com quem já partiu mas ele o faz ainda na mesa de autopsia. Isso cria pequenas pílulas curiosas, ao virar um confidente dos presuntos recém “apresuntados”.
Ter esse “poder” é algo perigoso, já que ele passa a saber de coisas que não deveria. Stênio não deve ter visto Homem-Aranha e não conhece a clássica e saturada frase: “grandes poderes trazem grandes responsabilidades…” . O que acontece exatamente não vou dizer, mas é o início do caos na vida já difícil do cidadão. Vale o destaque para a boa opção do filme não explicar a origem do poder.
Morto Não Fala retrata bem o caos da cidade (com corpos chegando a todo momento no IML) e o da vida dupla de Stênio. Esses múltiplos tipos de terror se aliam a uma boa dose de trash, com muito sangue, espíritos e coisas voando, além de uma dose de terror psicológico.
Esse combo cria uma ambientação diferente, mesmo com alguns movimentos familiares. Ou seja, Dennison Ramalho (no primeiro longa da carreira) mostra que não é preciso revolucionar tudo para entregar algo criativo e tenso. E com o tempo ele vai usar menos a muleta do jumpscare, mas por hora dá para relevar.
Daniel de Oliveira consegue transitar entre vários sentimentos. Conseguimos ter pensamentos conflitantes sobre o personagem, graças a um bom roteiro e aos movimentos do ator. Os demais, apesar de personagens mais funcionais, têm papéis dignos. Até as crianças não são idiotizadas e nem tem feitos para além da idade.
Em alguns momentos certas cenas são desenvolvidas/concluídas com algumas conveniências. “como tal coisa funciona aqui, mas ali não?” ou “por que certa resolução não foi feita antes?”. Pequenos detalhes que são comuns no gênero, mas que ainda assim incomodam.
Os vários temas funcionam. Temos críticas a violência urbana, a uma espetacularização da religião, a relação pais e filhos, a mortes por “besteira” e aspectos sociais de uma vida sem luxos.
Morto Não Fala mostra um cinema nacional de qualidade, que prende a atenção e pode gerar boas conversas pós-filme.