O Menino Que Fazia Rir | Crítica - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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O Menino Que Fazia Rir | Crítica

Hape Kerkeling é o mais amado comediante da Alemanha e vencedor de diversos prêmios por seus programas para TV de alta popularidade dentro e fora do país. Carismático e muito criativo, Hape teve uma infância bastante sofrida na Alemanha dos anos 70 e é esta história que é trazida às telas em “O Menino Que Fazia Rir”, obra que foi adaptada do livro best seller de Hape Kerkeling sobre sua infância. O longa, que fez mais de 3,6 milhões de espectadores na Alemanha, tem na direção Caroline Link, vencedora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por “Nenhum Lugar na África” de 2001.


Interpretado por Julius Weckauf, Hape é uma criança que se sobrepõe a todas as suas adversidades da vida por meio do humor. Apresentações de musicais, danças, esquetes, piadas, criação de personagens, imitações… nada escapa do humor do jovem. Quando há uma tentativa de bullying, o pequeno comediante logo utiliza-se da risada para fazer chacota com o próprio agressor, passando de “zuado” a “zueiro”. Apesar disso, Hape nunca utiliza seu humor para agredir e oprimir alguém. A risada sempre tinha um alvo certo – reverter uma situação desafiadora. Um exemplo desta função é quando o garoto tenta de forma atabalhoada subir em um cavalo, e se vê diante da gozação dos que viam a cena. Seu pai ri mas ao perceber o olhar de desaprovação da mãe, logo percebe que aqueles risos poderiam ser um problema. Caroline Link desacelera a cena, abaixa a trilha sonora e fecha a câmera no rosto tenso da mãe. A tensão é dissipada quando Hape aproveita que todos estavam olhando para ele e transforma aquela situação em seu palco particular.

 Julius Weckauf em "O Menino Que Fazia Rir" (2019) | Crítica
Julius Weckauf em “O Menino Que Fazia Rir” (2019)


Esta dinâmica de subverter uma situação inicialmente dolorosa em algo belo é o que faz de “O Menino Que Fazia Rir” um filme prazeroso. O ator Julius Weckauf, consciente do personagem que tem em mãos, usa e abusa das expressões faciais e corporais. Muitas das piadas sequer necessitavam de linhas de textos. Bastava um olhar, um gesto ou mesmo um sorriso para que Hape desarmasse qualquer tristeza que viesse a pairar em seu mundo. A interação do jovem e sua mãe Margret (Luise Heyer) se alterna entre as brincadeiras e as dificuldades de uma mãe que vive sem o apoio do marido em uma sociedade patriarcal; embora o filme dedique pouco tempo a este tema. Aliás, este talvez seja o maior desafio do filme. Há diversos temas pincelados, porém muitos destes são mal aproveitados.


Tudo o que envolve o arco dramático do pai Sönke Möhring é pouco desenvolvido, ainda que haja bastante a ser explorado. O roteiro de Ruth Toma e Caroline Link opta por focar a narrativa na relação entre filho e mãe, que apesar de muito bonita, é repetitiva, principalmente entre o final o primeiro ato e o começo do segundo. A partir dai o filme começa a abrir mão de seu tom bucólico de uma cidade interiorana e passa a trazer à tela as tristezas e dificuldades que amargam aquela família.


A transformação do tom do filme é feita de forma gradual, porém, as resoluções acabam sendo simples demais. Isso acaba tirando parte do peso das consequências daquelas tragédias. Talvez até tenha sido intencional do roteiro evitar transformar a obra em um melodrama a fim de trazer para obra um tom de que “tudo é possível quando se faz sorrindo”. Ou talvez estejamos tão acostumados com tragédias que por vezes as valorizamos demais em detrimento de histórias felizes.


“O Menino Que Fazia Rir” é um típico good movie que em tempos de cólera, pode servir de refrigério para dias tão sombrios. É um filme que trazer consigo um espírito edificante de superação e resiliência sem abrir mão da sutileza ao lidar com temas pesados. Caroline Link se mostra capaz da socar com a leveza de uma criança e a vontade de fazer com que o sofrimento seja ao menos consolado pelo riso.

  • O Menino Que Fazia Rir
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Resumo

“O Menino Que Fazia Rir” é um típico good movie que em tempos de cólera, pode servir de refrigério para momentos sombrios. É um filme que trazer consigo um espírito edificante de superação e resiliência.

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