#AncineSim: Vamos Salvar o Cinema Nacional
O Presidente Jair Bolsonaro cogita extinguir a Ancine. A história vai se repetir?
Prezado leitor, convido você a fazer uma viagem! Uma viagem no tempo para entender o perigo que o cinema nacional está correndo! Entre no meu DeLorean e vamos para o ano de 1969. Estamos numa Ditadura Militar, cuidado com a cor da roupa, com a música que vai cantar e com o que vai falar, ok? Nosso destino é Brasília – DF, o dia é 12 de setembro de 1969. Nessa data, durante o governo da Junta Governativa Provisória, formado por Augusto Rademaker, Aurélio de Lira Tavares e Márcio de Sousa Melo, foi assinado o Decreto de Lei nº 862, cujo texto final foi elaborado por Tarso Dutra, então Ministro da Educação e Cultura.
“Tá, mas o que viemos fazer aqui, Davi?” Então nessa data com o aval de 3 militares foi criada a Empresa Brasileira de Filmes S.A., ou Embrafilme para os íntimos. A Embrafilme, era uma empresa de economia mista, ou seja, tinha participação do governo e de empresas particulares. O objetivo da empresa era fomentar a produção e distribuição do Cinema Nacional. Que momento bonito, não é? Um governo acreditando na nossa cultura e produção de filmes.
Mas vamos voltar pro nosso DeLorean e vamos ver como o cinema ficou. Não vamos muito longe, não, aqui mesmo em 1969. Um dos primeiros filmes distribuídos pela Embrafilme foi O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, do saudoso Glauber que ganhou em Cannes o prêmio de melhor diretor por esse filme. Agora vamos andar um pouquinho, 1972, o ano de São Bernardo, de Leon Hirszman, mais um premiado em Cannes. Agora vamos avançar um pouco para 1976, um ano marcante, sabe por quê? Outra obra inesquecível com dedo Embrafilme estreou. Na verdade, duas: uma delas é Xica da Silva, de Cacá Diegues, com Zezé Mota brilhando. Mas o grande marco foi Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. O filme por 34 anos foi a maior bilheteria da história nacional, foi indicado ao Globo de Ouro e ao Bafta. Vamos andar mais 2 anos e olha lá a gente no Oscar com o documentário Raoni.
Agora, nosso destino é 1981, outro ano daqueles: Eles Não Usam Black Tie premiado em Veneza e Pixote – A Lei do Mais Fraco indicado ao Globo de Ouro e ganhando vários outros prêmios internacionais. 1983: Pra Frente Brasil fazendo bonito em Berlim com 2 prêmios. E no ano seguinte Memórias do Cárcere é premiado em Cannes. E que ano foi 1985! Olha o Brasil de novo no Oscar com o dedinho da Embrafilme. O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco, indicado a 4 Oscars tendo ganhado o de Melhor Ator. E em 1986, Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor, foi premiado em Cannes com o prêmio de Melhor Atriz e Vera, de Sérgio Toledo, foi premiado com Urso de Prata de Melhor Atriz em Berlim. Além disso todos os filmes dos Trapalhões que tanto amamos, tem o dedo da Embrafilme. Que história linda do cinema nacional né?
“Ah mas tem muito filme de sacanagem! Não é à toa que todo mundo fala que o Cinema Nacional é só sacanagem e tiro!” Não é bem assim, meu amigo, esses filmes são muito importantes para o Brasil. Eles fazem parte da era das pornochanchadas, que usavam o sexo para protestar e denunciar a ditadura militar. Entendeu? Mas chegamos a 1989. O Brasil em polvorosa escolhia depois de 28 anos seu presidente. E agora, veja algumas similaridades, caro amigo. No segundo turno tínhamos um candidato de direita neoliberal populista que prometia acabar com a corrupção do Brasil, que ia acabar com a mamata dos marajás. Seu concorrente era um candidato de esquerda representando a classe trabalhadora do Brasil. Segundo turno foi entre Collor do PRN (atual PTC) e Lula do PT. O resultado você já sabe né, devido a uma “ajudinha” da Rede Globo, Collor se tornou presidente.
Em 1990, Collor extinguiu o Ministério da Cultura e, com isso, a Embrafilmes, que já estava mal das pernas devido à crise financeira da década de 80, foi extinta por Collor. E o Cinema Nacional entrou num momento sombrio, e a produção nacional praticamente parou. “Cara, até os filmes dos Trapalhões e da Xuxa desapareceram?!” Foi um momento triste e sombrio, né! Mas veja, estamos agora em 1995! Nesse ano tivemos o que é chamado Retomada, já ouviu falar? Não? Qualquer dia falamos disso. Mas graças a Retomada, vamos agora pro dia 6 de setembro de 2001. Sim, eu sei que em 1998 tivemos Central do Brasil e que o filme teve duas indicações ao Oscar em 1999, mas vamos falar disso em outra ocasião. Vamos com nosso DeLorean pra 6 de setembro de 2001, certo? Então, nesse dia o presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, criou a Ancine. Você lembra da Embrafilmes? Era algo parecido, mas agora era uma agência reguladora com o objetivo de fomentar a indústria cinematográfica nacional.
Que bons tempos foram não acha meu amigo? Cidade de Deus, Tropa de Elite 1 e 2, Aquarius, Que Horas Ela Volta?, O Som ao Redor, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, O Palhaço, O Filme da Minha Vida, Como Nossos Pais, O Lobo Atrás da Porta, Bingo – O Rei das Manhãs, e tantos outros! “Interessante nenhum deles tem sacanagem, nenhum é pornográfico, como alguns dizem. Inclusive eu! Sorry!” Um dia vamos falar de como a Ancine foi importante. Mas voltemos ao DeLorean, e vamos para 2018. Lembra do cenário de 1989? Pois é ele se repetiu. E que tristeza dá ver essa situação.
Segundo turno das eleições, um candidato de direita, populista, conservador, que prometia acabar com as mamatas, com a corrupção. Tirando o conservadorismo, isso te lembra alguém? Contra ele, um candidato de esquerda representando os trabalhadores do Brasil. Jair Bolsonaro do PSL contra Fernando Haddad do PT. E o resultado? Bem, o resultado você sabe, a direita ganhou, e o que aconteceu? O Ministério da Cultura é extinto. E agora vivemos com a possibilidade de o órgão que nos permite ter um cinema de qualidade seja extinto! É a história se repetindo!
Nem dá vontade de descer do DeLorean agora que chegamos a 2019, não é, querido amigo? Estamos em vias de perder o nosso cinema. Estamos em vias de ter um retrocesso, talvez até pior que de na década de 90. E isso em um ano maravilhoso para o Cinema Nacional. Em fevereiro o Festival de Berlim teve 12 filmes nacionais selecionados, com 3 premiados. Em maio, no Festival de Cannes, Bacurau e A Vida Invisível de Eurídice Gusmão saíram com prêmios importantíssimos. Em janeiro, no Festival de Sundance, a diretora Petra Costa lançou o seu documentário The Edge of Democracy, que aqui se chama Democracia em Vertigem e foi lançado pela Netflix. O filme entrou na lista dos melhores do ano até o momento do New York Times e no site IndieWire, e ele está cotado para o Oscar 2020. E agora vemos densas trevas para o futuro do Cinema Nacional!
É, meu amigo, a cultura brasileira está em crise! E o cinema nacional está sofrendo com isso! Estamos correndo o risco de perder tudo o que com duras penas o cinema nacional conseguiu alcançar. Não podemos deixar o nosso cinema morrer! Temos de salvar o cinema nacional!
“Mas como, Davi? Como iremos salvar o cinema nacional?” O melhor caminho é dar valor ao que é nosso. Vamos assistir mais filmes nacionais, vamos nas salas de cinema para valorizar a nossa cultura. Vamos dar aos trabalhadores do cinema nacional o dinheiro e a renda que eles precisam para poder sobreviver assim como nós. Porque eles também são trabalhadores, assim como eu e você! Você valoriza seu trabalho? Quer ser valorizado pelo que faz? Então, esses trabalhadores também querem isso. Vamos dar valor ao que é nosso! Vamos salvar o cinema nacional! Vamos mostrar que o cinema nacional movimenta a economia brasileira! Vamos valorizar o que é nosso!
E aí? Fechamos um acordo? Vamos Salvar o Cinema Nacional? Conto com você! Afinal, para salvar a nossa cultura, para salvar o nosso cinema, depende de cada um de nós!
Por mais obras como essas diga #AncineSim