CRÍTICA |HOTEL MUMBAI
Chega aos cinemas brasileiros o filme Hotel Mumbai (“Atentado ao Hotel Taj Mahal” no Brasil) do diretor Anthony Maras. O longa-metragem que estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto em setembro de 2018, também passou pelo Adelaide Film Festival na Austrália antes de ser lançado nos Estados Unidos em março deste ano.
No ano em que completou 10 anos dos atentados de 26 de novembro de 2008 em Bombaim, na Índia, o cineasta Anthony Maras lançou o filme que reconta os momentos de terror vivenciado pela população indiana, em especial do Hotel Taj Mahal. A ficção baseada em fatos é estrelada por Dev Patel (Quem quer ser um Milionário), Armie Hammer (Me chama pelo seu nome), Nazanin Boniadi (Homeland), Anupam Kher, Jason Isaacs (Saga Harry Potter), Tilda Cobham-Hervey, Suhail Nayyar e Natasha Liu Bordizzo (O Tigre e o Dragão).
Os atentados terroristas orquestrados pelo grupo islâmico Lashkar-e-Taiba executou ataques em dois hotéis de luxo, um restaurante, um centro cultural judaico e a principal estação ferroviária da cidade, resultando na morte de 166 pessoas e mais de 300 feridos.
Em Hotel Mumbai, Anthony Maras não perde tempo com introduções de personagens para depois chegar ao clímax do filme. De forma direta o longa cria uma atmosfera de suspense e tensão, onde o espectador acompanha um grupo de terroristas paquistaneses que desembarcam na Índia pelo mar, prontos para iniciar os atentados.
Aos poucos são inseridas as tramas de personagens com histórias e realidades distintas, mas que se cruzam dentro do Hotel Taj Mahal, local onde é concentrado todo o enredo da ficção. Aos poucos o espectador conhece a história do garçom Arjun (Dev Patel), o casal de hóspedes David (Armie Hammer) e Zahra (Nazanin Boniadi) com seu bebê e a babá Sally (Tilda Cobham).
Arjun e o casal de americanos ainda divide as horas de tela com outras pequenas tramas, como a do russo Vasili (Jason Isaacs), a do chef Hemant Oberoi (Anupam Kher), todos reféns lutando por sobrevivência. Ao inserir diversos personagens o diretor consegue passar uma maior realidade, transmitindo visões e dramas distintos, seja de um casal rico, passando por um simples funcionário do hotel, chegando aos próprios terroristas.
Um dos maiores acertos de Anthony Maras é dar voz aos terroristas, tentando humaniza-los e mostrar o que os leva a cometer tais barbaridades, mas sem deixar de evidenciar que o fanatismo religioso é algo a ser abominado.
O cineasta busca ao longo do filme expor que no fundo os jovens atiradores são também vítimas de um sistema, de fanáticos poderosos, que usam da fragilidade social para persuadi-los a cometer crimes em troca de uma ajuda aos familiares que no final nunca acontece.
A direção utiliza da trilha sonora para manter o clima constante de nervosismo. Com planos fechados o espectador consegue ver a tensão dos personagens, além da sensação de sufoco, já que muitos dos cenários são iguais, dando a impressão de que alguém pode encontrar a morte a qualquer momento. Outro artifício utilizado para aumentar a apreensão do espectador está no silêncio que muitas vezes é interrompendo pelos tiros de metralhadora.
Apesar da violência constante o filme não se torna sensacionalista, mas gera no espectador indignação e revolta. Hotel Mumbai peca no excesso, na tentativa de criar expectativa e apreensão no espectador. A repetição de cenas de tiroteio ou perseguição dentro do hotel torna o filme cansativo.
Fugindo do estilo americano de produzir filmes de ação e terrorismo, Anthony Maras é fiel à realidade sem inventar falsos heróis para “salvar o dia”. Em suma, Hotel Mumbai procura evidenciar que o fanatismo religioso praticado por terroristas islâmicos não faz distinção de classe social, nacionalidade ou religião e atinge até mesmo os próprios muçulmanos.