O relançamento de “Vingadores: Ultimato”
Eu nem acreditei quando fiquei sabendo que a Marvel relançaria “Vingadores: Ultimato” nos cinemas com cenas a mais. Fiquei ainda mais estupefato ao saber que seriam apenas SEIS minutos a mais como cenas pós-créditos.
É claro que já houve relançamentos de filmes nos cinemas.
Segundo Kevin Feige:
“Não é uma versão estendida, mas haverá uma versão entrando nos cinemas com um empurrão de marketing que trará algumas novidades no final do filme. Se você ficar e assistir ao filme, após os créditos, haverá uma cena deletada, um pequeno tributo e algumas surpresas”.
A notícia mostra que trata-se única e exclusivamente de uma tentativa desesperada de aumentar a já inflada bilheteria do filme. Provavelmente porque não conseguiram superar Avatar na bilheteria mundial (coitadinhos desses pobres executivos, não é mesmo?).
A minha primeira reação foi: “eu é que não vou perder três horas da minha vida e mais dinheiro com isso”. Mas aí me dei conta de que tem gente que realmente vai pagar por isso, apenas para ver algumas cenas pós-créditos que poderiam muito bem estar nos extras dos DVDs e até mesmo no Youtube.
Mas as pessoas – apenas os fãs mais fervorosos, imagino – vão pagar ainda mais para rever um filme que já viram várias vezes.
Concordo muito com o Vinicius Bellemo, que publicou um texto no qual lembra o significado de relançamento: quando um diretor sofre ações dos produtores e acaba sendo impedido de publicar a obra que gostaria (como o famoso caso de Blade Runner). Em alguns casos, ainda que seja criticável, pode ser uma atualização nos efeitos especiais, como George Lucas fez com a primeira trilogia de Star Wars. Eu também me lembro que fui ver “O Rei Leão” em um relançamento em 3D (quando os óculos eram novidade nas salas escuras), algo um pouco desnecessário, mas ainda com alguma explicação aceitável. Em todas essas situações, o relançamento (seja nos cinemas ou em outras plataformas) ocorre alguns anos após o filme sair de cartaz.
Pelo que podemos ver, os executivos da Marvel tomam uma atitude explicitamente antiética apenas para satisfazer uma vaidade a qualquer custo, e o que é pior: se baseando no abuso sobre os fãs cegos que ainda vão se sentir parte de uma espécie de jornada santa, tal qual fiéis de igrejas que vendem o carro por um prometido “lugar no céu”.
Eu até entendo quem acha bom que um filme em específico seja bastante visto (fiquei muito contente com o que Pantera Negra alcançou devido ao significado do filme), mas continuo sem entender como alguém comemora a bilheteria de um blockbuster como se isso fosse uma conquista própria. Tem gente enchendo o rabo bolso de dinheiro e você continua pobre! Como dizem nas redes sociais: “gado demais”.
Escrevo este artigo apenas para lembrar isso:
Você tem todo o direito de ser apaixonado por produtos e personagens que te fazem uma pessoa melhor. Você merece pagar o ingresso do cinema e se divertir muito com tudo o que esses filmes podem nos oferecer. Mas não é por isso que você deve se tornar um cachorrinho obediente a tudo o que as corporações fazem. Se as pessoas não se recusarem a pagar ingressos caros por migalhas prometidas, os grandes estúdios passarão a ter isso como prática frequente.
Mas se você quiser fazer isso em vez de assistir a um filme novo, o dinheiro é seu e a liberdade é sua. Só não vai mais poder criticar o defensor do partido X ou Y que começar a passar pano pro político de estimação, porque é praticamente a mesma coisa. Quem aceita ser gado continuará sendo tratado como tal.