CRÍTICA: GRETA – Viúva Solitária
Se temos um bom vilão, já temos meio filme.
Ficha técnica:
Direção: Neil Jordan
Roteiro: Neil Jordan e Ray Wright
Elenco: Chloë Moretz, Isabelle Huppert, Maika Monroe, Colm Feore, Zawe
Ashton e Stephen Rea
Nacionalidade e lançamento: Estados Unidos / Irlanda, 11 de abril
de 2019 (Brasil)
Sinopse: A protagonista Frances encontra uma bolsa largada no metro e busca devolve-la para a sua dona. Assim conhece Greta, uma viúva solitária que se mostra amável e carismática. Uma amizade nasce e cresce junto a uma perturbadora obsessão.
A sinopse é interessante, mas antagoniza com o trailer. Mais uma vez somos apresentados a uma proposta cativante da maneira mais porca possível, algo que vem infectando todo o mercado audiovisual. Vire e mexe estamos dando de encontro com edições que explicitam demais o seu conteúdo, o vulgarizando de maneira que ao assistir, se perde o tesão de possíveis boas cenas. Triste.
Quando nos deparamos com o primeiro diálogo entre Frances interpretada por Chloë Moretz (O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST) e a sua amiga Erica na pele de Maika Monroe (A CORRENTE DO MAL), entendemos que a parada não será só psicológica, tem uma grande parcela de social. O roteiro ali hasteia uma grande bandeira do sempre explorado “medo americano”. O que não deixa de ser real. E é uma vertente inteligente a seguir, mesmo transformando a Frances no avatar perfeito do espírito norte-americano. Pura, correta e corajosa. Não acho que isso chega ofender o público, mesmo em alguns takes sendo um pouquinho forçado.
E falando em realidade, o longa funciona bem porque é crível e atual. Poxa, é um problema com stalker. Tem coisas ali que não só poderiam acontecer, como de fato acontecem diariamente, principalmente – e infelizmente – entre casais. Tem as suas licenças, mas toda porretada funciona. E isso dá mais vida e peso para a tensão. O roteiro desperta a ansiedade e desespero de quem acompanha a jornada. A urgência muito é eficiente.
Porém, por mais que o roteiro seja bem engenhoso neste ponto, a direção falha. Neil Jordan (ENTREVISTA COM VAMPIRO) não esconde as coisas, deixa de cobrir o próximo caminho, dá para antever o próximo passo. É um suspense… como eu posso dizer… cru?
O terror/suspense costuma injetar burrice em seus personagens, a temática sobrevive disso, é normal e aceitável já. É algo cultural dentro destes universos. Mas quando você vê uma garota aterrorizada, sendo perseguida, entrar em seu apartamento escuro e continuar explorando tudo sem acender a luz, até ver que está tudo bem e aí sim acionar o interruptor… é sempre broxante.
Greta. O título. O mecanismo que move o enredo. A antagonista perfeita ao pobre povo americano, está com força total. Estamos aqui por causa dela. O papel que sustenta todo o filme. Temos Isabelle Huppert (A PROFESSORA DE PIANO) dando uma verdadeira aula de atuação. O seu nível absurdo a difere de todos os outros do casting. Você sente que ela tem a personagem em suas mãos, pela tranquilidade que transita as suas expressões a cada diálogo. A cena que valsa pela sala é muito, muito bacana.
Terceiro ato é de certa forma inventivo. Não é perfeito, tanto em impacto quanto em costura, mas gostei bastante. A aparição da Erica Penn – eu diria que ela é uma ótima personagem, saiu totalmente da curva coadjuvante que vemos neste tipo de obra. Grata surpresa – deu um bom sabor para todo o resto. Um fôlego na atmosfera que estava começando a se manchar, e acaba indo para uma conclusão mais… poética.
Summary
Talvez a experiência fosse melhor com um trailer decente ou quem sabe, mais criatividade de seu diretor. A coragem estúpida da protagonista faltou na ousadia do Neil Jordan. Senti falta de algo a mais por parte da Chloë Moretz, alguma cena que a deixasse mostrar a que veio, até porque ela é claustrofóbica e poderiam ter explorado melhor isso. Ainda assim é divertido e agoniante.