Crítica: Aladdin (2019)
Aladdin pode não ser um mundo ideal, mas tem o carisma de um amigo assim como Will Smith.
Ficha técnica
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: John August, Guy Ritchie
Elenco: Naomi Scott, Mena Massoud, Will Smith, Marwan Kenzari, David Negahban
Nacionalidade e Lançamento: EUA, 2019 (23 de maio de 2019 no Brasil)
Sinopse: Um simpático ladrão se apaixona pela princesa, filha do sultão, e percebe que pode ter uma chance após encontrar uma lâmpada com um gênio dentro. Mas ele terá que enfrentar Jafar, o ganancioso vizir do palácio.
As versões live-action de animações clássicas da Disney nunca foram famosas por dar muito espaço para os diretores destilarem suas marcas autorais. Ainda assim, há uma pitada de Kenneth Branagh em Cinderela (2015) e obviamente muitas nuances de Tim Burton no recente Dumbo (2019) – ainda que o cineasta tenha explorado mais de suas particularidades em Alice no País das Maravilhas (2010), quando a adaptação das animações da Disney ainda não era um projeto sólido do estúdio. Embora haja muito pouco a se ver da autoria dos diretores de A Bela e a Fera e Malévola, por exemplo, esperava-se que Guy Ritchie traria algo para apimentar este Aladdin. Mas infelizmente não é o caso, mesmo considerando algumas danças aceleradas e cenas de estripulias corporais em um ambiente urbano.
No entanto, este não é um grande problema para o filme Aladdin, que encontra muito mais pontos negativos em escolhas técnicas do que qualquer outro elemento. O roteiro do longa consegue trazer novidades interessantes, a começar pela pessoa que narra a história (e que na animação é um mercador): aqui, temos o próprio “gênio” em uma situação que já sugere seu destino, algo que nos aproxima mais do personagem e ainda permite uma verossimilhança maior a um filme em live-action, ou seja, sem os elementos cartunescos mais aceitos no filme desenhado.
Aliás, as escolhas deste Aladdin para mais verossimilhança são, ao meu ver, acertadas. O personagem Iago, extremamente falante no longa original, aqui se assemelha a uma arara verdadeira, somente com alguns elementos “mágicos”, já que fala um pouco mais do que apenas repetições. E se muitos viram no Jafar de Marwan Kenzari um vilão menos marcante, acredito que é justamente a sutileza que faz dele mais crível do que algo que tentasse se assemelhar ao vilão do desenho. Por fim, vale ressaltar a escolha mais importante deste longa: ainda que Jasmine seja uma personagem forte no original, seu arco ainda era calcado em preceitos misóginos e “tradicionais”, portanto nada mais condizente com um filme de 2019 do que propor um rompimento com esse padrão.
Aladdin continua, mesmo assim, sendo um musical. Ao mesmo tempo em que as músicas já conhecidas se mantenham essencialmente as mesmas para não quebrar as expectativas dos saudosistas, elas trazem momentos de nova roupagem, especialmente as cantadas pelo Gênio, que traz ares bem-vindos de um Will Smith capaz de diferenciar seu personagem do inigualável Robin Williams. E a canção original que acrescentaram para Jasmine é forte, bela e atual, com cheiro de indicação ao Oscar (provavelmente o principal motivo pelo qual foi criada).
A química entre Mena Massoud e Naomi Scott é boa o suficiente para que o espectador compre o romance, ainda que isso seja uma percepção subjetiva – e que o ator principal esteja longe de uma atuação magnífica. Os efeitos digitais são apenas aceitáveis, e o ritmo do filme parece apressado (nos primeiros minutos Aladdin já conhece Jasmine e por ela se apaixona), ainda que se alongue por tempo demais, fazendo com que muitos sintam sua trama sendo arrastada. No entanto, há algumas pequenas mudanças na forma como os acontecimentos ocorrem que são bem-vindas e fazem sentido ou mudam só um pouco da trama original – com destaque para a boa inserção de uma nova personagem – e que evitam que tenhamos apenas um “mais do mesmo”. Ainda assim, vejo como negativa a forma com que Jafar descobre que Aladdin é o tal “diamante” necessário para entrar na caverna: não entendemos o motivo, e se ele estava tentando diversas pessoas, deveríamos ter visto mais tentativas.
Por fim, é importante falar sobre os personagens. Um pequeno elemento sobre o passado do vilão Jafar é interessante porque justifica como ele consegue a lâmpada mais à frente, e ainda ajuda a enriquecer um pouco do vilão (só um pouco), aproximando-o do herói. Afinal, eles têm a “mesma origem” e o que os diferencia são suas escolhas.
E por falar em escolhas, há detalhes simples na composição do protagonista que o fazem mais condizente com a atualidade. Se na animação a casa de Aladdin tem vista para o palácio, como quem sonha com o luxo e a riqueza, aqui ele tem vista para o mar, já que ele parece querer muito mais a liberdade em relação à vida que leva. Ao final, sua paixão por Jasmine faz com que ele apenas peça desculpas e vá embora: em vez de ganhar permissão do pai dela para se casar com a princesa e se tornar um sultão repentinamente, ele tem a lei mudada por ela mesma, agora sultana… e isso faz uma diferença muito grande.
No epílogo, ele se torna o “marido na sultana”, já que não era com o luxo e a riqueza que ele sonhava, e sim com a liberdade de deixar de ser um ladrão. Em tempos de ressignificação das masculinidades, é sempre bom ouvir que ser o marido de uma mulher de destaque não faz de um homem menos homem.
Summary
Os efeitos digitais são apenas aceitáveis, e o ritmo do filme parece apressado, ainda que se alongue por tempo demais, fazendo com que muitos sintam sua trama sendo arrastada. Há algumas pequenas mudanças na forma como os acontecimentos ocorrem que são bem-vindas e fazem sentido.