[MANGÁ] FRAGMENTOS DE HORROR - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

[MANGÁ] FRAGMENTOS DE HORROR

Mestre do Horror em quadrinhos o mangaká Junji Ito, depois de muito tempo, retornou ao gênero que mais se destacou com oito contos inéditos que no Brasil foi lançado pela DarkSide Books (em sua nova linha de mangás e HQs). Fragmentos do Horror transita em vários subgêneros do Horror, consegue ir do Horror psicológico ao Gore e do bizarro ao sexual. Uma obra bela com poucos pontos baixos e muita, muita bizarrice para o leitor sentir repulsa, medo, e – nunca julgo ninguém – tesão.

A primeira história chamada Futon é, talvez, a mais simples do mangá, porém ela é um cartão de visitas do que o leitor vai encontrar nesses quadrinhos: Um roteiro simples e rasteiro onde a arte de Junji Ito se sobressai e transforma toda aquela simplicidade na coisa mais horrível que você possa imaginar. Futon nada mais é do que a história do bicho papão pelos olhos amedrontadores de Ito.

Já Monstro de Madeira nos traz uma velha mansão que virou patrimônio histórico no Japão e uma atraente jovem estudante vai visitá-la e com sua doçura acaba conquistando o dono da casa e convencendo ele a deixar ela morar ali por um tempo para estudar a estrutura da casa. A partir desse momento as coisas bizarras começam a acontecer e a mulher se excita cada vez mais com a… CASA. Chegando a transar com ela, e diferentemente de Futon esse conto além da horrivelmente bela ilustração de Ito também temos um roteiro mais elaborado que nos entrega algumas viradas interessantes e uma crítica ao governo japonês sobre as propriedades mais velhas do país.

Em Tomio – Gola Rulê Vermelha, terceiro conto da coleção, temos uma história novamente simples sem grandes reviravoltas. Porém seu forte está tanto no desenho como no misticismo abordado pela trama. Um jovem casal vai até uma cartomante para saber sobre seu futuro, mas chegando lá a cartomante diz que os dois não tem mais tanto tempo assim e o homem da relação, dias depois, acaba traindo sua namorada com a própria cartomante. Mas uma reviravolta cruel nessa história acaba colocando em risco a vida de todos os personagens. Junji Ito pega leve nesse conto e não nos entrega nada explícito, mas ainda assim consegue transmitir toda a angústia do personagem pelo sombreamento do rosto e enquadramento.

O quarto conto intitulado de “Suave Adeus” é o mais filosófico de toda coleção. Sem qualquer tipo de Gore ou repulsa o conto nos leva a uma nobre reflexão sobre a despedida e a morte. Mesmo em pouco mais de quinze páginas consegue desenvolver muito bem nosso medo da morte e do desconhecido. Mesmo crendo em um mundo pós morte é muito difícil não pensar no vazio que vem após ela. Será mesmo que viveremos para sempre em um paraíso? Perguntas que trazem uma aflição e ao mesmo tempo um pensamento de que devemos aproveitar cada segundo aqui na terra com as pessoas que amamos. Um conto delicado, poético e que conta com uma arte bastante delicada e sutil de Ito. Sem muito alarde esse conto é um dos melhores da coleção.

… Agora a despirocada total. Dissecação-chan, talvez, seja a coisa mais bizarra que você irá ler em toda sua vida. Uma jovem estudante é obcecada por dissecar sapos e ratos, porém isso acaba passando um pouco dos limites e cada vez mais ela quer dissecar animais maiores. Passou de ser um simples hobby de uma futura médica/cientista e começou a tornar-se algo sexual, ao ponto de ela mesmo querer ser dissecada. Partindo dessa premissa maluca, Junji Ito solta a mão nas ilustrações e nos apresenta coisas que não sairão da nossa cabeça por dias, meses, anos. É o conto mais bizarro e tenebroso de toda essa coleção.

Para seguir a linha de bizarrice o próximo conto de Fragmentos de Horror chama-se Pássaro Negro e conta a história de um homem que sofreu um acidente no meio da floresta e teve que ser alimentado por um grande pássaro para sobreviver. Porém o que parecia ser uma história bonita e poética acaba tornando-se um grande conto de Horror após descobrirem a verdadeira forma e intenção do pássaro. Um conto bastante simples, mas com uma boa dose de criatividade no final acaba gerando algumas doses de medo e angústia.

E então chegamos ao penúltimo e, infelizmente, o pior conto da coleção. Magami Nanakuse acompanha a história de uma fã maluca atrás de sua escritora favorita, mas uma dessas visitas de fãs acaba dando errado e a morte parece uma opção melhor. Esse conto não apresenta nada de novo e nem sequer apresenta uma história interessante de ser seguida. Essa história de fã vs. ídolo já foi bastante contada e recontada com poucos acréscimos interessantes. O que realmente vale a pena aqui são as aterrorizantes ilustrações de Ito e nada mais que isso.

A Mulher que Sussurra é o último conto da coleção e traz uma visão interessante sobre possessão que nunca sairia das mãos de um ocidental. Aqui Junji Ito se destaca bastante pelos desenhos de ambientes que conseguem se interligar com as personagens e fazer com que tudo vá se encaixando até o final. É um conto que dá pouco medo ou susto, mas incomoda bastante pela forma como a personagem vai se deteriorando de tanto trabalhar e mesmo assim não pára um segundo. Não é o melhor da coleção, mas também não fica entre os piores.

Por fim, Fragmentos do Horror mistura momentos cômicos com bizarrices e traz vários outros de puro terror principalmente com as ilustrações de Junji Ito que não sairão da cabeça do leitor tão cedo. Boa leitura e bons sonhos.

Deixe seu comentário