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Artigo

Cansei de Hollywood

Em 2009, uma palestra ocorrida no evento TED Talks chamou a atenção de boa parte da internet e do mundo. Hoje, com 4,6 milhões de visualizações, “The danger of a single story” (“Os perigos da história única”, tradução própria) de Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana, é um dos vídeos mais assistidos e de maior sucesso no TED.

Durante quase 20 minutos, Chimamanda fala sobre a sua história de vida e as dificuldades de se reconhecer em um mundo em que prevalece apenas um tipo de narrativa. Ela conta quando lia histórias, ainda criança, da literatura norte-americana e britânica e sobre quando começou a escrever, criando personagens brancos que brincavam na neve e comiam maçãs.

Chimamanda Ngozi Adichie – “The danger of a single story”

O que a escritora tem a dizer em sua palestra, sobretudo, diz respeito ao modo como nos reconhecemos no mundo. Ela destaca como a nossa identidade se constrói a partir da cultura em que crescemos, dos livros que lemos, das histórias que ouvimos, dos filmes que assistimos e das pessoas com quem conversamos. O “perigo da história única” está na constatação de que as nações que dominaram o mundo nos últimos séculos, também impuseram a sua própria cultura aos povos.

Essa história lhe parece familiar?

No natal, decoramos as nossas casas com pinheiros, luzes e pingentes que imitam a neve. Esperamos um velhinho barbudo chegar com roupas de frio e um trenó. Tudo isso, mesmo sem a maioria de nós algum dia ter visto neve ou trenós, uma vez que vivemos em um país tropical e o nosso natal acontecer em pleno verão.

Quando crianças, desenhamos casas com chaminés, um caminho de pedra até a entrada e uma macieira no jardim. Comemos cada vez mais pizza e hamburger, mesmo com uma ampla variedade de frutas e verduras disponíveis. Sabemos mais sobre a história norte-americana, seus presidentes e personagens importantes, do que do Brasil e da América Latina.

Os exemplos são muitos e poderíamos trazer aqui inúmeros outros pontos, mas acredito que você já tenha entendido aonde pretendo chegar.

Agora, quero que você pense nos últimos 5 filmes que você assistiu. Quais eram as nacionalidades deles? Que língua os personagens falavam? Os atores eram majoritariamente homens ou mulheres, pretos ou brancos? Qual era o tema do filme? Sobre o que ele falava?

A proposta desse texto é direcionar a nossa atenção para elementos já naturalizados em nosso dia-a-dia – ou ainda, fazer o “teste do pescoço”.

A fala de Chimamanda no evento do TED Talks completou 10 anos. Muita coisa já mudou desde a publicação do vídeo, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.

Todos temos a ganhar com a maior diversidade de narrativas, histórias e personagens.

Podemos começar hoje a retomar a nossa história, conhecer melhor as nossas origens (latinas, indígenas e africanas) e valorizar os produtos da indústria nacional. O mundo, tem muitas histórias, basta que possamos dar voz aos seus muitos narradores.

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