O adeus a Domingos de Oliveira
Cineasta de 82 anos faleceu no último dia 23/03.
Domingos de Oliveira, um dos mais importantes cineastas brasileiro nos deixou no último sábado aos 82 anos de idade. Ator, diretor, dramaturgo de cinema, teatro e TV, poeta e cineasta, Domingos de Oliveira era um multi-artista. Um dos mais importantes do cenário da cultura nacional.
Nascido em 28 de setembro de 1936, Domingos José Soares de Oliveira, se formou em engenharia mas nunca trabalhou na área. Ao invés de enveredar por uma possível carreira de sucesso como engenheiro, Domingos de Oliveira preferiu o difícil caminho das artes. O artista se envolveu com o teatro amador, e começou a se envolver com cinema escrevendo e trabalhando com o diretor Joaquim Pedro de Andrade nos filmes O Poeta do Castelo, de 1959, e Couro de Gato, de 1960. Sua estreia na direção ocorreu em 1966 com o clássico do cinema nacional Todas as Mulheres do Mundo.
Baseado nos contos A Falseta e As Memórias de Don Juan, de Eduardo Prado, o filme conta a história do jornalista Paulo (Paulo José) um grande conquistador mulherengo, conhece Maria Alice (Leila Diniz) em uma festa. Ele se apaixona e e vai atrás da jovem. Ela está noiva de Leopoldo (Ivan de Albuquerque) hesita em sair com Paulo, mas acaba sendo conquistada. Eles começam a namorar e se casam, para a decepção dos amigos de Paulo. Porém, com a rotina do relacionamento e com os ciúmes, ele tem uma recaída. O filme foi um sucesso de público e crítica, algo raro na época. O filme ganhou 5 Prêmios no Festival de Brasília, incluindo Melhor Filme e Diretor para Domingos de Oliveira, e alçou Leila Diniz ao status de sex symbol nacional no final da década de 60.
Após Todas as Mulheres do Mundo, Domingos de Oliveira dirigiu outros 18 filmes. Entre eles se destaca Separações, de 2002, no qual dirigiu e contracenou com sua esposa Priscilla Rozenbaum, que ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado. No filme Domingos e Priscilla fazem um casal que se separam por ideia do marido, que ao ver sua “ex-esposa” se envolver com um arquiteto, percebe que cometeu um erro e quer se reconciliar com ela a qualquer preço.
Outro destaque na cinematografia de Domingos de Oliveira é Juventude, de 2008. O filme é o encontro de três monstros da dramaturgia nacional: Domingos de Oliveira, Paulo José e Aderbal Freire Júnior. No filme, ganhador de 4 Kikitos no Festival de Gramado, entre eles Melhor Roteiro, Melhor Direção e Prêmio Especial do Júri para o trio de atores, Domingos, Paulo e Aderbal fazem um trio de amigos de infância que se encontram depois de muitos anos na casa de um deles, para poder conversar sobre o passado.
Em 2014 Domingos de Oliveira trabalhou com outro grande nome da dramaturgia nacional, Fernanda Montenegro, no premiado Infância. O filme, premiado em Gramado com 4 prêmios no Festival de Gramado, incluindo Melhor Roteiro para Domingos, mostra a história de Dona Mocinha (Fernanda Montnegro) uma matriarca bastante rígida que é fã de Carlos Lacerda. Em sua casa está o neto Rodriguinho, triste pois seu cachorro morreu após comer as bolinhas de naftalina que a avó sempre coloca nos armários de casa. Em meio a esta situação ela precisa lidar com o fato de que o genro, Henrique, vendeu dois terrenos seus sem permissão.
Um dos últimos grandes trabalhos de Domingos de Oliveira foi Barata Ribeiro, 716. A história se passa nos anos 1960, na intensa boemia carioca, o engenheiro e aspirante a escritor Felipe (Caio Blat) leva uma vida regada aos prazeres do álcool, em festas alucinantes realizadas num apartamento dado por seu pai (Daniel Dantas), na famosa rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Lá, ele e seus amigos desfrutam de tudo, que a liberdade pode oferecer, mesmo em meio a um momento político complicado. O filme foi um sucesso de crítica, sendo o grande vencedor do Festival de Gramado 2017 levando 4 prêmios entre eles Melhor Filme e Direção.
O último trabalho de Domingos de Oliveira para o cinema, foi o filme Os 8 Magníficos, lançado em 2017 no Festival do Rio. No filme Maria Ribeiro, Fernanda Torres, Wagner Moura, Carolina Dieckmann, Sophie Charlotte, Mateus Solano, Alexandre Nero e Du Moscovis se reúnem para almoçar. E é aí que começa uma discussão sincera sobre muitos assuntos: a arte de representar, a profissão e muito sobre amor e vida.
Na TV Domingos de Oliveira passou pelas principais Redes de TV. Tendo conseguido seu maior sucesso na TV Cultura onde dirigiu ao lado de Daniel Filho a série Confissões de Adolescentes, escrita pela sua filha a também atriz e roteirista Maria Mariana.
Domingos de Oliveira sofria de Mal de Parkinson desde 2002 e nunca deixou de trabalhar. Prova disso é que a partir de 2002 o artista intensificou seus trabalhos, principalmente no cinema. E até o fim de sua vida o artista não deixou de trabalhar. Segundo sua esposa e companheira de 38 anos, Priscilla Rozenbaum, o artista estava escrevendo, ao lado dela e de uma neta, ao se sentir mal no sábado dia 23/03 e não resistiu. Tanto é assim que o artista deixou uma série praticamente pronta para o Canal Brasil.
A série Mulheres de 50, será protagonizada por Priscilla Rozenbaum, Cacá Mourthé, Dedina Bernardelli e Clarice Niskier, e acompanhará quatro amigas cinquentenárias que se reencontram depois de se divorciarem de seus maridos. O cenário é sempre o mesmo: o tradicional restaurante Fiorentina, no Leme, na Zona Sul do Rio. A série de 8 episódios, terá apenas 2 gravados sem a presença de Domingos de Oliveira.
O cineasta foi velado no Planetário da Gávea, num velório repleto de amigos famosos como Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Caio Blat, Maitê Proença, Paulo Betti e Carolina Dieckman. O velório foi repleto de homenagens e emoção, principalmente com a leitura das ‘Cartas-Testamento’, escritas por Domingos de Oliveira há 20 anos atrás para sua filha e esposa, algo que casou grande comoção.
Um grande artista se foi, mas sua obra ficará para eternidade. Em um país que a cultura está em baixa e artistas são chamados de vagabundos, é triste perder uma personalidade, um multi-artista como Domingos de Oliveira. Mas sua obra ficará para eternidade. Seus personagens, seus textos, seus filmes ficará para sempre na nossa memória!
Fica aqui nossos mais profundos sentimentos a toda família de Domingos de Oliveira!
Ninguém nasce ou morre de repente. Existe um longo processo de morrer que começa num dia.Sempre me pergunto se o meu já chegou. Acho que não. – Domingos de Oliveira em 2014 para Folha
É Domingos de Oliveira, infelizmente seu dia de chegou!