Crítica: A Esposa (The Wife, 2017)
Apesar de ser originalmente de 2017, A Esposa estreou nos EUA em 2018 e portanto está apto para o Oscar 2019 – data que estreia aqui no Brasil. O longa vem forte na temporada de premiações em uma categoria: Melhor Atriz para a espetacular Glenn Close – falarei muito dela no texto e saibam: não é à toa.
O mote do longa é justamente o recebimento de um prêmio, no caso o Nobel de literatura, pelo escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce). Em paralelo, a personagem título, mulher do autor, a Joan Castleman (Close), tem que lidar com angústias internas e as repercussões dos ritos do laureado.
Logo na abertura temos duas cenas que servem para basilar todo o filme em uma aula de como estabelecer os personagens. Rapidamente entendemos parte da dinâmica ali e nos simpatizamos por aquelas figuras. Para, habilmente, o roteiro explorá-los e até desconstruí-los posteriormente.
Delicado e ao mesmo tempo potente, A Esposa nos transmite a partir dos detalhes a vida em casal. Percebemos a intimidade de anos, ao passo que sentimos o peso negativo daquele mesmo tempo. E mais: entendemos muito deles a partir da relação com os outros personagens (eu já elogiei o roteiro aqui? Pois é…).
E tudo isso é muito devido ao trabalho interpretativo. Vou pedir licença ao veterano, excelente e aqui também competentíssimo Jonathan Pryce, mas o show é de Glenn Close.
Cada movimento dela é intrigante ou “misterioso” como é dito em um dado momento do filme. Ela é firme em várias respostas, e percebemos alguma fragilidade no meio daquele paredão. Ela tem uma felicidade triste e transmite isso de forma assustadora nas expressões. A maturidade da atriz/personagem é essencial para o bom resultado. O nível de atuação aqui lembra o que vimos em Trama Fantasma com aquele trio maravilhoso: Daniel Day-Lewis, Lesley Manville, Vicky Krieps.
Outro destaque de A Esposa é a direção do sueco Björn Runge. Além da condução dos atores – e vale mencionar que os coadjuvantes estão bem, em especial os personagens do filho e do biografo,
Max Irons e Christian Slater (que em alguns momentos está a cara do José Wilker), respectivamente.
Chama atenção também o trabalho com a câmera. Seja nas movimentações laterais, seja nos enquadramentos, notadamente os planos mais fechados. Há uma cena que o sentimento ali é de opressão e o ângulo fechado dá a impressão que os personagens estão em um cubículo. Quando a tensão se dilui, abre-se o plano e vemos que na realidade era um grande salão.
Em outro momento. A personagem da Glenn Close é focalizada e dois outros conversam com ela fora do quadro, em em enquadramento “errado”, portanto. Mas ela estar sozinha na tela tem um sentido narrativo importante. Logo depois, há um movimento de câmera que traduz uma parte do diálogo que ela tem a seguir.
O longa intercala a história com alguns flashbacks. A maioria deles acrescenta na trama e nos fazem conhecer mais do passado daquelas figuras. Os momentos que eles entram também são precisos para não atrapalhar o ritmo da trama atual. Contudo, um deles soou redundante, pois mostrou o que acabou de ser dito. Aproveitando para falar de um outro problema, o arco de um dos personagens é antecipável, pois A Esposa bate muito em determinada tecla. Ficando no limiar entre construir o que acontece e entregar o fato, pra mim passou um pouquinho da conta.
Mas são ressalvas minúsculas diante da grandiosidade do todo. Assuntos como o fazer literário, feminismo e, claro, família, são postos de maneira cirúrgica e complexa e são ao mesmo tempo os subtemas e o tema principal. Orbitando na verdadeira dona de tudo a magnífica Glenn Close.
Como é praxe nos últimos anos, a categoria de Melhor Atriz está gigante. Nomes diversos e brilhantes podem dar as caras. Das que eu já conferi, além da supracitada aqui, temos Lady Gaga (Nasce uma Estrela), Toni Collette (Hereditário), Yalitza Aparicio (Roma), Viola Davis (As Viúvas) e Emily Blun (O Retorno de Mary Poppins). As duas últimas em um nível um pouco abaixo. Vem forte também: Olivia Colman (A Favorita), Melissa McCarthy (Poderia me Perdoar?).