Crítica: Podres de Ricos (Crazy Rich Asians) - Cinem(ação)
Podres de Ricos (Crazy Rich Asians)
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Crítica: Podres de Ricos (Crazy Rich Asians)

Podres de Ricos é um filme que se utiliza do lugar comum com a quebra deles – e ainda tem papel fundamental para o debate sobre representatividade.

 

Ficha técnica:
Direção: Jon M. Chu
Roteiro: Peter Chiarelli, Adele Lim (baseado na obra de Kevin Kwan)
Elenco:  Constance Wu, Henry Golding, Michelle Yeoh, Gemma Chan, Lisa Lu, Awkwafina
Nacionalidade e lançamento: EUA, 15 de agosto de 2018 (25 de outubro no Brasil)

Sinopse: Americana descendente de chineses, Rachel Chu está namorando Nick Young, de Singapura. Ela aceita ir ao país do namorado para conhecer sua família, mas não sabe que ele é herdeiro de uma fortuna gigantesca, o que dificulta muito as coisas.

 

São poucos os filmes americanos (e ocidentais) que já tiveram um elenco formado por 100% de asiáticos. Isso, por si só, já poderia ser um trunfo importante de “Podres de Ricos”. A boa notícia, no entanto, é que o filme é uma comédia romântica divertida e cheia de camadas.

Não que seja perfeito. O longa do mesmo diretor de “G.I. Joe: Retaliação” tem alguns conflitos e personagens em excesso, além de uma primeira metade que demora a engrenar. No entanto, o fato é que “Podres de Ricos” traz uma trama divertida, cheia de elementos a serem discutidos, escolhas interessantes e um roteiro que consegue se diferenciar das comédias românticas mais “ultrapassadas”.

O primeiro acerto do filme é começar com um prólogo que mostra o passado de Eleanor Young, a “sogra megera” da vez. Afinal de contas, sem aquilo a personagem seria apenas uma vilã unidimensional, e o espectador consegue entender – mesmo que minimamente – os motivos para a personalidade da personagem, vivida magistralmente pela veterana Michelle Yeoh.

É também interessante notar como, em momento algum, a protagonista Rachel se mostra deslumbrada com a riqueza do namorado ou dependente dele para algo. Seus dramas moram muito mais na necessidade de conquistar a sogra intransigente e vencer as barreiras que a alta sociedade lhe impõe, do que em desejar “aproveitar” o dinheiro do rapaz.

Além de trazer momentos engraçados na medida certa, geralmente estrelados pela impagável Awkwafina (8 Mulheres e Um Segredo) e pelo já famoso Ken Jeong (Se Beber, Não Case!), o roteiro é inteligente ao fazer piadas que distorcem a imagem estereotipada dos asiáticos: quando o personagem de Ken finge um sotaque bobo para então se mostrar alguém que fala inglês perfeitamente, promovendo assim uma quebra em relação ao papel que o marcou no cinema; e quando o mesmo personagem exige que suas filhas comam alegando que “há crianças passando fome na América”.

Ainda que o desenvolvimento da “vilã” da história seja bastante forçado, o filme consegue encontrar uma solução minimamente interessante para o conflito, já que ele é resolvido por meio de um objeto com grande significado e sem que a verdadeira personalidade das personagens seja mudada – como muitas comédias românticas insistem em fazer.

Com forte presença feminina, “Podres de Ricos” relega aos personagens masculinos o lugar de coadjuvantes, e ainda se dá ao luxo de cortar o pai do protagonista, de forma não apenas a “facilitar” a trama, mas também como uma mensagem de que ele não seria necessário para a história que está sendo contada. Por falar em personagens, é dúbio que o drama da personagem Astrid (Gemma Chan) seja tão curioso para criar um paralelo com o da protagonista, reforçando até mesmo a força feminina que o longa tanto valoriza, mas também sirva para engordar a trama e deixá-la mais extensa.

MICHELLE YEOH as Eleanor in Warner Bros. Pictures' and SK Global Entertainment's and Starlight Culture's contemporary romantic comedy "CRAZY RICH ASIANS," a Warner Bros. Pictures release.

Imageticamente, Jon M. Chu faz boas escolhas, especialmente no que se refere às locações e cenários, que remetem à riqueza e ao luxo em que vivem seus personagens (embora eu tenha minhas dúvidas se é possível fazer uma festa nos “Gardens by the Bay”, principal ponto turístico da cidade-estado, pois seria como se casar aos pés do Cristo Redentor). Vale também o destaque à cena do casamento, que utiliza água e uma espécie de ambiente etéreo que chega a ser até intimidante. Por fim, sinto a necessidade de citar as imagens de comida que o filme explora, sendo inteligente ao mostrar a comida popular do país antes de partir para os pratos sofisticados da alta sociedade. Tudo isso também ajuda a fazer com que o longa seja um verdadeiro convite ao turismo em Singapura.

De fato, “Podres de Ricos” não passa de uma comédia romântica divertida e eficiente. Mas seu elenco e suas escolhas acertadas também fazem com que o filme seja memorável e, mais importante: necessário.

 

 

*o filme foi visto na sessão “Assista Mulheres” do Cine Topázio Indaiatuba.

  • Nota
3.5

Summary

Imageticamente, Jon M. Chu faz boas escolhas, especialmente no que se refere às locações e cenários, que remetem à riqueza e ao luxo em que vivem seus personagens.

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