Crítica: O Mau Exemplo de Cameron Post – Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
O Mau Exemplo de Cameron Post é cínico na medida certa ao mostrar uma história paradoxalmente atual e antiquada.
Ficha técnica:
Direção: Desiree Akhavan
Roteiro: Desiree Akhavan, Cecilia Frugiuele
Elenco: Chloë Grace Moretz, John Gallagher Jr, Forrest Goodluck, Emily Skeggs, Sasha Lane, Jennifer Ehle, Owen Campbell.
Nacionalidade e lançamento: Estados Unidos, 22 de janeiro de 2018 no Festival de Sundance (exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo).
Sinopse: Em 1993, a jovem Cameron Post é pega em flagrante em uma relação homossexual. Para que ela seja tratada, sua família a leva para uma escola cristã que tem o objetivo de converter jovens gays ou que tenham se rendido a outros tipos de pecado.
A jovem Cameron Post vive um relacionamento escondido em uma cidade extremamente cristã e conservadora. É na festa de fim de ano da escola que ela é “pega no flagra”. Descobrem que ela é homossexual, o que não é aceito por sua família e nem por ninguém em sua cidade. Econômico em sua narrativa, o filme já mostra a garota chegando em uma escola afastada de qualquer centro urbano. É lá que professores conectados a uma igreja tentam “curar” adolescentes que apresentaram algum tipo de comportamento tido como pecaminoso.
A ideia, que parece absurda a qualquer pessoa razoável, infelizmente é levada em consideração até mesmo nos dias de hoje. É isso que o filme denuncia. E a forma como o faz é igualmente séria e irônica.
Os momentos de ironia ficam por conta dos divertidos diálogos entre Cameron os amigos, que sempre tecem comentários sobre os métodos utilizados pela escola. Já os momentos de seriedade vão tomando cada vez mais espaço com o desenvolvimento da trama e dos dramas de alguns alunos.
Se Chloë Grace Moretz está mais uma vez excelente no papel, o mesmo se pode dizer dos outros atores, que dão naturalidade e veracidade ao que vivem. E aqui vale destacar Owen Campbell, que é fundamental para o terceiro ato e consegue mostrar com intensidade o drama de todos ali. Poucos minutos depois, a frase da protagonista sobre ser ensinada a “se odiar” é o suficiente para finalizar a mensagem do longa.
Desiree Akhavan é uma diretora dedicada a falar sobre questões relacionadas aos LGBTs. Aqui, ela vai para o âmago da questão, colocando o dedo na ferida ao deixar claro o mal que se causa quando uma sociedade faz alguém sentir que seu corpo e seus desejos são errados. A sequência de sonhos da protagonista de “O Mau Exemplo de Cameron Post”, bem como suas consequências, são formas de a diretora mostrar o quanto é impossível mudar os desejos de uma pessoa. A consequência para compreendermos o quanto reprimir os desejos pode ser ruim fica por conta de um personagem secundário, que funciona como clímax para a trama.
O título brasileiro não parece dar conta do original. Não há um “mau exemplo” por parte da protagonista. A palavra utilizada no original é “miseducation”, que seria algo como a “má educação” ou “educação errada”: esta sim faz sentido, já que “O Mau Exemplo de Cameron Post” questiona a visão da homossexualidade como uma “má educação”, mas quem a faz é, na verdade, a própria instituição cristã, que não sabe o que fazer para educar os alunos.
Summary
Se Chloë Grace Moretz está mais uma vez excelente no papel, o mesmo se pode dizer dos outros atores, que dão naturalidade e veracidade ao que vivem. A frase da protagonista sobre ser ensinada a “se odiar” é o suficiente para finalizar a mensagem do longa.