O Grande Circo Místico – Foi a Melhor Escolha Para o Oscar?
O Grande Circo Místico, de Cáca Diegues, foi o escolhido brasileiro, mas será que tem chances?
Na terça feira dia 11/09 O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, foi escolhido para tentar uma vaga entre os cinco finalistas na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Essa é a sétima vez que um filme de Cacá Diegues é escolhido para lutar por uma vaga. Antes o Brasil já tinha tentado uma vaga com Xica da Silva em 77, Bye, Bye Brasil em 80, Um Trem Para as Estrelas em 87, Dias Melhores Virão em 89, Tieta do Agreste em 97 e Orfeu em 99. Agora é a vez da adaptação do poema de Jorge de Lima, com música de Chico Buarque e Edu Lobo tentar uma vaga.
E o filme terá uma tarefa dura, pois a concorrência é forte. Para conseguir uma vaga entre os 9 semifinalistas, para aí então ficar entre os 5 finalistas, o filme enfrentará o alemão Werk ohne Autor (vencedor de 2 prêmios em Veneza), o austríaco Waldheims Walzer (vencedor de 1 prêmio em Berlim), o belga Girl (vencedor 4 prêmios em Cannes),o coreano Buning (vencedor de 2 prêmios em Cannes), o egípcio Yomeddine (vencedor de um prêmio em Cannes), o húngaro Sunset (vencedor de 1 prêmio em Veneza), o japonês Assunto de Família (vencedor da Palma de Ouro em Cannes), o mexicano Roma (ganhador de dois prêmios em Veneza incluindo o Leão de Ouro), o palestino Caçando Fantasmas (ganhador de 1 prêmio em Berlim), o paraguaio As Herdeiras (ganhador de 3 prêmios em Berlim incluindo o Urso de Prata de Melhor Atriz), o sueco Gräns (vencedor de 1 prêmio em Cannes), o suíço Eldorado (vencedor de 1 prêmio em Berlim) e o ucraniano Dunbass (vencedor de 1 prêmio em Cannes). Além de outros 34 filmes, até o momento (ano passado o número chegou a 92 inscritos), na sua maioria ganhadora de vários prêmios internacionais. As chances de O Grande Circo Místico conseguir uma vaga entre os semifinalistas no momento de 18,75%.
Lógico que essa porcentagem, que deve diminuir conforme as inscrições forem confirmadas (ano passado as chances eram de 9,78%), se estendem a todos os indicados. Mas, existem alguns fatores que fazem um filme disparar na frente nas chances de conseguir uma indicação. Mas claro que esses fatores não são regras, mas de uns tempos pra cá esses fatores tem se confirmado. Mas a pergunta que fica é O Grande Circo Místico tem alguma chance? Vejamos.
Desde 1999, ou seja, há praticamente 20 anos não conseguimos uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. E não que tenhamos escolhido errado. Por exemplo, em 2003 mandamos Cidade de Deus, em 2004 Carandiru, em 2007 foi Cinema, Aspirinas e Urubus, em 2014 a escolha foi O Som ao Redor e em 2016 foi a vez de Que Horas Ela Volta? tentar uma vaga. Em 2008 inclusive tivemos uma escolha interessante, o escolhido foi O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias e foi uma boa escolha, o filme foi o que chegou o mais próximo de uma indicação ficando entre os 9 semifinalistas. A escolha foi questionada na época, porque Tropa de Elite havia ganhado o Urso de Ouro em Berlim, mas como Rubens Ewald Filho disse:
Não estamos escolhendo o melhor filme do ano e sim aquele que vai representar o Brasil em uma seleção para um prêmio americano. […]Esses velhinhos [referindo-se aos votantes do Oscar] certamente não gostariam de ver Tropa de Elite.
Ou seja, muitas vezes a comissão brasileira escolhe o filme que acham que melhor representará o Brasil nos Estados Unidos. No caso de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias foi uma escolha acertada, e não por sorte, mas porque o filme tinha uma bela carreira no exterior, passando em Berlim e Tribeca por exemplo, então a escolha fez todo o sentido. Mas em algumas vezes não.
E usando isso como desculpa, em 2004 o escolhido foi Olga ao invés de O Outro Lado da Rua que havia sido premiado em Berlim, Tribeca e tinha Fernanda Montenegro no elenco. Ou então a escolha de 2 Filhos de Francisco ao invés de Casa de Areia vencedor em Sundance e também com Fernanda Montenegro. Outra escolha errada ocorreu em 2008, quando foi escolhido Última Parada 174 ao invés de Estômago, ganhador de vários prêmios internacionais. Outra escolha errada, e totalmente política, ocorreu em 2010. Nesse ano Lula – O Filho do Brasil foi o escolhido ao invés de Bróder, que ganhou diversos prêmios internacionais e fez sucesso em Berlim. Mas nada se compara a escolha de 2017, quando escolheram Pequeno Segredo ao invés de Aquarius, numa escolha totalmente política. Aquarius foi ovacionado em Cannes, concorreu a Palma de Ouro de Melhor Filme e Atriz, fez parte da seleção oficial de Toronto onde Sônia Braga foi homenageada. Enquanto isso, Pequeno Segredo passou batido sem nunca ninguém ter sido visto. A escolha de Aquarius seria talvez a chance mais próxima de uma indicação que o Brasil teria, afinal o filme foi indicado ao Independent Spirit Award, o Oscar dos Filmes Independentes.
Ou seja o Brasil escolheu certo algumas vezes, em outras escolheu muito errado, na verdade os erros foram maiores que os acertos. Mas e esse ano? Será que a comissão fez a melhor escolha? Ao dar a entrevista coletiva para o anúncio do candidato brasileiro, Lucy Barreto, produtora de dois indicados ao Oscar, O Quatrilho e O Que é Isso Companheiro?, e presidente da comissão disse:
O mundo está precisando de poesia e magia e o filme do Cacá vai trazer isso pra nós: brasilidade, música e alegria. Pensamos que foi uma boa escolha.
Pensando por essa lógica, essa é com certeza a melhor escolha. O filme de Cacá é uma fábula mágica embalada pela música de Edu Lobo e Chico Buarque. Uma obra lírica baseado no poema de Jorge de Lima. Some isso à direção de Cacá Diegues, um dos cineastas mais importante e respeitado no Brasil e no Mundo. Além disso, a trama mostra os bastidores do mundo artístico e tem a presença de Vicent Cassel no elenco, o que pode ser um chamariz para o filme. Olhando por esse lado foi com certeza a melhor escolha.
Mas será que é isso a Academia está à procura? Ou melhor, será que é isso que a comissão de Melhor Filme Estrangeiro está procurando? Na verdade, é difícil dizer o que a Academia e a Comissão procuram, mas existe certo padrão entre todos os indicados ao Oscar: desde 2012 todos os filmes foram destaques em Cannes, Veneza, Berlim ou Toronto dentro da mostra competitiva, com exceção de Um Homem Chamado Ovo, indicado em 2017, que embora não tenham passado em nenhum desses festivais, fez uma brilhante carreira internacional. O mais interessante ainda é notar, que os 3 últimos filmes a ganharem o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, antes saíram premiados em um desses Festivais.
Lógico que isso não quer dizer nada, mas a verdade é que esses festivais – Cannes, Veneza, Berlim, Toronto e agora também Sundance – servem de vitrine para os possíveis indicados ao Oscar, em especial na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Tanto é assim que, como já destacamos no início desse texto, dos 48 filmes escolhidos até o momento para representar cada país, 13 foram premiados em Cannes, Berlim ou Veneza. E O Grande Circo Místico? Bem o filme estreou em van-premier no Festival de Cannes desse ano, fora da mostra competitiva. E qual foi a recepção?
Bem, na sessão o filme foi aplaudido e muito bem recebido. Mas o filme recebeu duras críticas de vários órgãos da imprensa, como Hollywood Reporter, Screens International e Variety. A maior crítica diz respeito aos personagens que entram e saem sem muito a dizer, e também a representação da mulher apenas como objeto no filme. Esse último ponto em que o filme é criticado, talvez seja o mais grave, em especial agora, em que as mulheres estão cada vez mais engajadas na luta por direitos iguais. Pesa contra O Grande Circo Místico também, o fato de que o filme não passou em nenhum outro festival internacional. O filme simplesmente passou em Cannes fora da mostra competitiva , e nada mais. Não que isso signifique algo, na verdade O Som ao Redor, por exemplo, ganhou o Prêmio da Crítica de Toronto, apareceu nas principais lista de melhores do Ano nos Estados Unidos, e sequer ficou entre os 9 semifinalistas.
A verdade é que é difícil saber o que a Academia está procurando. Pode até ser que Roma, que ganhou o Leão de Ouro em Veneza, é dirigido por Alfonso Cuarón e é dado como indicação certa, nem entre. Principalmente levando-se em conta o nome da Netflix por trás da distribuição do filme. Ninguém está garantido, mas se levarmos em conta os escolhidos até o momento e o histórico do Oscar, O Grande Circo Místico não tem chances. Mas qual teria sido então a melhor escolha para o Brasil esse ano?
Conforme já havia escrito anteriormente, Benzinho, de Gustavo Pizzi, era com certeza de longe, ao meu ver claro, a melhor escolha. E muitas coisas pesam a favor do filme: o filme foi sucesso no Festival de Sundance, trata de um tema atual e universal, tem uma personagem feminina central forte, tem brasilidade, foi muito bem recebido pela crítica internacional e tem feito um excelente carreira lá fora. Pesa contra o filme o fato de Gustavo Pizzi ser um cineasta pouco conhecido no Brasil e no exterior.
Daí vamos para a segunda melhor escolha, que seria Ferrugem, de Aly Muritiba. Assim como Benzinho, o filme de Muritiba estreou com sucesso em Sundance, também trata de um tema atual e universal, tem brasilidade, foi muito bem recebido pela crítica nacional e internacional e mesmo antes de seu lançamento, já estava fazendo uma carreira brilhante lá fora. Junte isso ao fato de que Aly Muritiba é bem conhecido e premiado fora do Brasil. Mas pesaria contra o filme o fato de a segunda parte do filme ter sido muito criticada.
A verdade é que a escolha já foi feita, e O Grande Circo Místico é o nosso escolhido. O filme de Cacá Diegues será o Brasil na corrida pelo Oscar 2019. Então não importa se concordamos ou não, nossa torcida é toda por O Grande Circo Místico, Cacá Diegues e toda sua equipe. Vamos torcer para que a fábula mágica, lírica e musical com cara de Brasil conquiste aos membros da Academia, e quem sabe depois de 20 anos não tenhamos um filme brasileiro entre os 5 indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É difícil, nós sabemos, mas sabe como é né: Somos Brasileiros e não desistimos NUNCA!