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[OPINIÃO] Pirataria – A Democratização da Arte

Muitos cinéfilos torcem o nariz quando o assunto é pirataria e defendem que as pessoas mantenham um acesso legal aos conteúdos audiovisuais, afinal segundo alguns “A Netflix hoje oferece uma assinatura mensal por menos de vinte reais e tem um catálogo gigante de filmes”. Concordo que a Netflix tenha um custo benefício bem apropriado, porém essa afirmação implica que as pessoas que não tenham renda suficiente para irem ao cinema se fechem apenas aos longas em cartaz na plataforma de streaming, para mim isso é apenas segregação.

Hoje, como afirma um estudo feito pelo professor de economia Samy Dana[1], o Brasil é um dos países em que o ingresso de cinema é o mais caro do mundo subindo de dois reais para VINTE E OITO em apenas 22 anos. Levando em conta que mais da metade dos trabalhadores tem uma renda menor do que o salário mínimo[2] percebemos que a parcela que tem acesso ao cinema é bem baixa. Todos sabemos que ir ao cinema é muito mais do que apenas entretenimento, é também um ato de construção de personalidade já que nossa formação cultural influencia diretamente na nossa interação social. Deixando uma grande parcela de fora das salas de cinema o modo mais acessível aos filmes que lá passam é a boa e velha pirataria. Privar essas pessoas de assistirem aos lançamentos ou qualquer outro tipo de contato com cultura é fazer elas se excluírem mais ainda da sociedade e criando uma distância maior entre os estratos sociais.

Isso fica mais evidente quando estamos falando de crianças, pois elas estão numa idade em que toda informação recebida gera uma mudança bem forte em seu entendimento do mundo e sua “aceitação” pelos colegas. Há alguns anos fui em uma sessão pirata em um cinema alternativo pela região de Santa Catarina onde iria passar em sequência os longas Toy Story e Frozen – Uma Aventura Congelante, e lá estavam um monte de crianças pela primeira vez assistindo as animações em tela grande. O acesso a esses filmes gera na criança ao mesmo tempo um encantamento pelo que se está assistindo e uma aceitação pelos colegas que já viram ao longa. Elas sentem-se pertencentes a esse mundo e inseridas no contexto social, ajudando na sua formação como pessoa e até mesmo na escolaridade.

Ademais, nós amantes da sétima arte não queremos um país onde metade das pessoas nunca pisaram em uma sala de cinema e que elas fiquem apenas a mercê dos longas que passam na televisão ou dos que estão em cartaz em um serviço de streaming. Com a pirataria podemos popularizar mais essa arte e levar ela a todos os cantos do país, o que futuramente irá se transformar em olhares diferentes para a arte e uma pluralidade melhor nas obras audiovisuais e quem sabe tirar essa predominância de visões do eixo RIO-SP.

Por fim, por mais que o catálogo da Netflix seja gigante ou que a Amazon Prime seja bastante barata, a pirataria é, e vai ser por muito tempo, a forma mais democrática de acesso à cultura e entretenimento. Uma forma onde a maioria da população possa assistir de tudo, desde os blockbuster hollywoodianos até os longas autorais.

[1] – http://www.isanma.com.br/sao-luis/noticia/ingresso-de-cinema-no-brasil-e-um-dos-mais-caros-do-mundo-aponta-pesquisa-da-escola-de-economia-de-sao-paulo
[2] – https://g1.globo.com/economia/noticia/metade-dos-trabalhadores-brasileiros-tem-renda-menor-que-o-salario-minimo-aponta-ibge.ghtml

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