Crítica: Missão: Impossível – Efeito Fallout (2018)
Missão: Impossível – Efeito Fallout mostra que a franquia ainda tem muito gás.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Christopher McQuarrie
Elenco: Tom Cruise, Henry Cavill, Rebecca Ferguson, Simon Pegg, Ving Rhames
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2018 (26 de julho de 2018 no Brasil)
Missão Impossível é uma das melhores franquias de ação de todos os tempos, a alcunha não é exagero aqui. O agente do carisma Tom Cruise é interpretado pelo espião Ethan Hunt (explicar piada é chato, mas a inversão foi proposital…). Os cinco filmes anteriores têm DNAs diferentes, com 5 diretores distintos, porém, salvo a oscilação no segundo, todos com uma constância invejável. Um breve resumo dos longas pode ser dado da seguinte forma: 1- confie nos amigos certos, 2 – mulheres só atrapalham, 3- só mulheres salvam, 4- Jovens, a Rússia é legal mesmo antes da copa e 5- sindicato não serve pra coisa alguma.
Apesar de um certa independência, temos personagens e situações que se ligam, principalmente nos últimos longas. Fato este que é potencializado na presente obra. Ou seja: é de suma importância ver Missão Impossível Nação Secreta (2015) para a melhor compreensão aqui, fato que pode dever-se a inédita repetição de um diretor na série, Christopher McQuarrie.
Trazemos aqui, além de pitadas de várias situações de todos os filmes, uma bagagem do público e dos personagens (em especial Hunt). Não é difícil para os fãs da série antecipar certas situações. O que poderia ser algo anti-climático, tem o efeito inverso, já que sabendo o desfecho, encaramos todo o desenrolar com outros olhos (o filme usa, nesse sentido, quase que a explicação de Hitchcock para suspense, naquele clássico exemplo da bomba).
Já o agente Ethan Hunt aparece preocupado com a mulher em um sentimento que percorre todo o longa. E não só: desde o começo ele se depara com dilemas éticos que envolvem pessoas queridas. Outra vez em momentos que a priori são clichês, mas a construção prévia dos outros filmes e a presente/futura neste permitem dar camadas além de um: “entregue tal coisa ou eu mato seu amigo”.
Outro elemento que impressiona é a variedade nas cenas de ação. De ambientes fechados, a perseguições aéreas, passando por uma longa sequência nas ruas de Paris. Além de momentos mais mundanos, como envolvendo uma policial ou então uma garrafada à la Jackie Chan.
Se a variedade por si só é algo bem-vindo, ela se tornaria frágil se não fosse conduzida de maneira impecável. Uma cena no banheiro – que não tarda para ter reflexos logo depois – vem como metonímia para o todo. Ali temos diferentes estilos que denotam os papéis que cada um vai desempenhar, um levíssimo humor com uma rara piada de cunho sexual – mas sem apelação ou nudez e as reviravoltas na ação sem cair no clichê ao mesmo tempo que o usa.
Outro momento que já vale o ingresso é a correria nas ruas da França. A tensão ocasionada por um detalhe no planejamento e por toda a situação em si. A sequência se dá pelo balé de carros, motos e pessoas. Novamente com a câmera trabalhando de forma tão enérgica quanto o protagonista. Repare em como você consegue enxergar tudo que está em tela, sem perder o vigor do momento.
O terceiro ato nos premia com uma outra amplitude visual (até o 3D que eu sempre condeno, está presente de forma menos negativa aqui). A montagem, que durante os atos anteriores já era bem efetiva, estabelece paralelismos que até os mais leigos vão elogiar. Além de certos encontros promoverem um sentimento dúbio que pode causar uma dor maior que uma queda de um penhasco…
Tom Cruise continua tendo carinho pelo personagem e você vai ouvir mais de uma vez que ele não usou dublê e o quanto isso é incrível (e é mesmo). Henry Cavill porta um bigode mais polêmico que mamilos é um acréscimo e tanto, em praticamente todas as cenas a presença dele é marcante (dele Cavill, mas dele bigode também). Simon Pegg vai além de um mero alívio cômico, como flertou ser em momentos anteriores. Rebecca Ferguson é a primeira mulher a ter um protagonismo e que mulher, saindo completamente do mocinha indefesa.
A trilha sonora, como sempre em MI, merece uma nota à parte. O tema, dos mais empolgantes e clássico, é usado aqui sem parcimônia. Contudo, atente-se para os momentos de vazio sonoro (em relação à trilha) e como percebemos outras nuances. É um dos melhores trabalhos do ano nesse sentido.
Como pequenos pontos contra podemos citar a duração. Um filme de 2h30 não é demérito se ele entregar um motivo para tal. Missão: Impossível – Efeito Fallout consegue ser até mais consistente que muitas obras que apostam nessa duração, porém alguns diálogos expositivos e um certo alongamento nas missões pesam um pouco.
O saldo do sexto filme da franquia é obviamente muito positivo. Quero logo o 7º…8º… e que continue até o 999 e pare aí, já que mil são impossível…