COMO SERIA #1 – TITANIC, ESTRELANDO ADAM SANDLER
COMO SERIA é um espaço onde eu tento desconstruir diversos aspectos do cinema, desde a direção até a escolha das locações, passando pelo casting, estúdio e falas famosas. Hoje, colocaremos à prova uma questão que nenhuma pessoa na terra já fez: como seria Adam Sandler no papel de Jack Dawson em Titanic?
Enquanto filmes como Os Meyerowitz são exceção na carreira de Adam Sandler, Jack e Jill ou Gente Grande 2 são os títulos que vêm à cabeça quando pensamos em seu trabalho. E somando o tomatometer destes dois filmes, não conseguimos nem 10% (3% e 7%, respectivamente). Mas mesmo assim, nomes como Netflix assinam embaixo de seu trabalho. Será que eles veem algo que nós não?
Então em uma tentativa de colocar o nome de Adam Sandler à prova, eu hoje vou tentar fazer um paralelo entre seu trabalho e um dos filmes de maior bilheteria de todos os tempos.
TITANIC, ESTRELANDO ADAM SANDLER
No filme original, conhecemos Jack Dawson em um bar no porto de Southampton apostando o dinheiro de seu amigo para tentar ganhar tickets para o Titanic. Em um filme do Adam Sandler, muito provavelmente ele perderia o jogo e teria que trabalhar na cozinha do bar. Vários anos depois ele começaria um romance bem forçado com uma cliente (provavelmente a Drew Berrymore), e ela o inspiraria a perseguir outros sonhos que condizem melhor com o talento dele. Talento esse que só ela enxerga.
Reconheceu o roteiro de Pixels?
Mas para nosso exercício vamos fazer nosso Jack Sandler ganhar a aposta e embarcar no Titanic com Fabrizio (podemos dar esse papel para Kevin James?) e encontrar os outros personagens espalhados pelo navio.
Antes de continuarmos, quero apontar que este seria um papel excelente para Adam Sandler. Afinal Titanic é um filme que faz um esforço titânico (sim) na tentativa de levar o espectador a simpatizar com os personagens, mas falha miseravelmente. Todos são superficiais, seguindo apenas uma característica principal (temos a esnobe, o possessivo, a nova-rica, o ex-policial-que-é-claramente-um-policial) e nenhum desenvolvimento secundário em nenhum dos personagens. Foram todos feitos em uma forma e isso gera, pelo menos em mim, uma antipatia por cada um deles e não me sinto nem um pouco mal por tudo que aconteceu com a Rose, o Jack e outros. Exatamente como acontece em todos os filmes do Adam Sandler.
Mas vamos continuar. O primeiro grande momento de Jack no navio é quando ele se encontra com Rose no convés. No filme original, Rose está namorando a ideia de suicídio depois de pensar em como seria sua vida ao chegar em Nova York, casada à força com um homem que ela não gosta. E isso é outra coisa que incomoda nesse filme: não seria melhor criar uma personagem que enfrentasse diretamente seus problemas mesmo que isso a fizesse perder tudo? Fora que o diretor poderia fazer um paralelo entre a vida dela navegando diretamente para um confronto e afundando com o Titanic navegando diretamente para um iceberg e afundando. Mas fica pra outro filme, eu acho.
No nosso filme desconstruído a cena seria bem parecida, mas com um clima diferente. Já percebeu que em nenhum filme Happy Madison temos uma personagem feminina forte? A mais próxima disso é a Winona Ryder na Herança de Mr. Deeds, mas ainda assim ela desiste de sua carreira no final para ficar com o Adam Sandler. Por isso Rose (pode ser a Drew Berrymore ainda) não estaria lamentando a sua vida futura mas sim sonhando com ela. E nesse momento chegaria nosso heroi Jack, fazendo comentários bobos e depois pedindo desculpas por eles como se não tivesse sido de propósito.
Depois de várias brincadeiras (a maior parte inapropriadas), Jack iria de alguma forma bem mal contada derrubar Rose para fora do navio. Ela não ia conseguir se pendurar, e iria realmente cair no mar. Jack iria salvá-la de uma forma heroica e absurda, afinal todos os personagens do Adam, além de vestirem a mesma roupa, são excelentes em todos os testes de aptidões físicas. Lembra de quando ele subiu em um prédio em chamas no Mr. Deeds para salvar aquela senhora e seus sete gatos? Então.
Outro momento de Jack no filme original é quando ele se senta à mesa de jantar com Rose, Cal e seus amigos. Eles conversam sobre a vida, o universo e tudo mais enquanto Jack fala sobre como viver sem amarras e planejamento é maravilhoso, citando o exemplo de ontem ter dormido embaixo de uma ponte e hoje estar jantando com pessoas finas no Titanic. Essa cena diz tudo que filme deveria ter sido. Ela explorou a história de Jack, mostrou como ele enxerga a vida e, infelizmente, foi o único momento do filme que me fez acreditar que ele seria o par ideal de Rose.
Mas o filme não consegue desenvolver as ideias que ele mesmo apresenta. A próxima cena tem Jack e Rose dançando calorosamente na terceira classe do navio, contribuindo para a ideia de que uma vida simples é melhor. Por isso não aceito que a história de Titanic se passe em volta de Rose ao invés de se passar em volta das tantas outras pessoas que temos no porão do navio que com certeza são histórias mais ricas e poderiam ser melhor desenvolvidas. Isso sim me faria simpatizar com os personagens e traria algum impacto para o naufrágio.
Mas para não dizer que o romance de Jack e Rose não é importante, vocês já notaram o motivo dos olheiros não estarem olhando para frente no momento do choque com o Iceberg?
Isso. Jack e Rose afundaram o Titanic, literalmente e figurativamente. A forma como o filme aborda questões que ele julga ser importantes é tão superficial que eu não posso deixar de pensar que a Happy Madison faria um trabalho melhor que a Fox, afinal eles estão acostumados a entregar esse tipo de conteúdo.
Me surpreende que Titanic, embora seja a segunda maior bilheteria de todos os tempos (perdendo apenas para Avatar, do mesmo diretor), tem essas histórias vazias e personagens com o mesmo nível de carisma e profundidade que pode ser encontrado em Gente Grande. Mas com Adam Sandler no elenco ele seria um filme mais honesto, embora o final fosse exatamente o mesmo: Rose, já idosa, morrendo e indo para o céu que, para ela, é beijar o Jack no salão do Titanic com várias outros passageiros em volta.
And they lived happily ever madison.