Entrevista: Pedro Coutinho Diretor do Longa: ''Todas as Razões para Esquecer'' - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Cinema Nacional

Entrevista: Pedro Coutinho Diretor do Longa: ”Todas as Razões para Esquecer”

Um sonho é movido por passos, normalmente um de cada vez, mas para Pedro Coutinho parece que o sonho se iniciou com uma correria tremenda. Como assistente de Direção começou no divertido O Casamento de Romeu e Julieta junto ao consagrado Bruno Barreto, no ano seguinte trabalhou com o incrível Heitor Dhalia no impecável O Cheiro do Ralo.

Foi para fora do país e na Universidade de Columbia, em Nova York, se aprofundou na arte de Roteirizar. Fez dois Curtas: O Nome do Gato e O Jogo, conseguindo ter o seu dedo em diversos Roteiros por aí e 2018 foi ano da sua estreia – em circuito comercial – como Diretor em um Longa, o prazeroso Todas As Razões Para Esquecer.

Agradeço aqui o tempo cedido pelo cineasta. Seja bem-vindo ao espaço do Cinem(ação).

Agora que sabemos quem é o ‘’Pedro’’, nos apresente Todas As Razões Para Esquecer e fale um pouco do que se trata o seu longa.

Pedro Coutinho: Todas As Razões Para Esquecer é o meu primeiro longa como diretor e roteirista e é um filme sobre um jovem chamado Antônio, que depois de terminar uma relação de longa duração acha que facilmente vai esquecer a sua ex, mas isso não é tão simples assim, e… Percebendo que não consegue tirar Sofia, sua ex, da cabeça, ele passa a boicotar seus sentimentos usando medidas paliativas contemporâneas, como: terapia, tarja-preta, Tinder, entre outras, passando por diversas situações tragicômicas.

E estamos aqui falando de um filme Independente ou que contou com alguma lei de incentivo??

Pedro Coutinho: O filme foi produzido de forma totalmente independente, realizado com baixíssimo orçamento e muito comprometimento de toda a equipe e elenco. No momento de lançamento nós pleiteamos um valor mínimo ao fundo setorial para ajudar na distribuição. Esse tipo de pedido que fizemos ao FSA funciona como um empréstimo, ou seja, eles te cedem um determinado valor, mas você precisa pagar de volta com a arrecadação da bilheteria ou venda posteriores para outros veículos, como: canais de televisão, plataformas de exibição, etc. No final nós nem usamos esse dinheiro, pois como ele, normalmente, demora para ser liberado, conseguimos antes realizar algumas vendas do filme, então não foi necessário, tornando o filme 100% independente.

Que demais!! Então, assim como no filme que você trabalhou anos atrás, O Cheiro do Ralo, nos deparamos com um ótimo longa que é produzido com baixo orçamento. Todas As Razões Para Esquecer foi o filme que você desejava para a sua estreia ou foi o mais viável para tal??

Pedro Coutinho: Acho que um pouco dos dois. Na verdade, eu sempre quis escrever uma história sobre relacionamento, pois é um tipo de tema que sempre me interessou e permeou a minha escrita. Ao mesmo tempo também existia uma ansiedade pessoal de poder realizar o quanto antes o primeiro longa. Eu sabia que se eu tivesse um roteiro muito complicado em termos de produção o meu objetivo de poder realizar o primeiro filme, provavelmente, iria demorar muito mais, por isso juntei um pouco dos dois: falar de algo que sempre gostei e me sinto à vontade, que são relacionamentos, mas pensando num roteiro pequeno e viável em termos de estrutura.

Suave, instigante, objetivo e completamente honesto, você conseguiu por no mercado uma obra muito prazerosa de se assistir, ouvi comentários comparando a sua mão como Diretor e as suas falas como Roteirista, com algo como: se Her fosse dirigido por Woody Allen. Eu achei incrível!! Você gosta deste tipo de comparação??

Pedro Coutinho: Nossa! Quem foi a alma caridosa que falou isso? Me fala que eu quero dar um grande abraço nesse ser humano! Não tenho problema nenhum com comparações, ainda mais fazendo analogias com obras e artistas que admiro. Só acho importante também ter a consciência que, apesar de qualquer tipo de comparação, existe o Pedro Coutinho ali, que busca ter a sua própria voz, independente dos outros.

Passarei o contato para combinarem o abraço!! Hahahaha!! Como você tem visto a absorção do público nacional ao seu conteúdo??

Pedro Coutinho: Eu acho que tem sido ótima! As reações tem sido muito positivas, apesar de algumas reclamações de alguns terapeutas, por causa da psicanalista do filme… rsrsrs… Mas a sensação que eu tenho é que no geral as pessoas tem se identificado muito com o Antônio, protagonista do filme, se divertindo e se emocionado junto com ele.

Se me permite a pergunta, quanto tempo demorou para vocês terem alcançado o ápice do projeto, desde a pré-produção até a pós??

Pedro Coutinho: Acredito que, mais ou menos, dois anos e meio.

 

Com as suas palavras, qual é a maior dificuldade em se fazer Cinema no Brasil??

Pedro Coutinho: São tantas que é difícil nomear a maior… Mas acho que talvez a maior é fazer o próprio público acreditar mais no nosso cinema e consequentemente os donos das salas de cinema e investidores. Hoje em dia é muito difícil fazer as pessoas assistirem filmes nacionais, talvez por uma questão cultural de achar nosso produto inferior ao que vem de fora, mas o quanto mais combatermos isso, mais audiência iremos ter e como resultado mais investimentos em diferentes tipos gêneros de filmes também, pois hoje parece que todos os investimentos de produção e marketing estão restritos aos filmes de comédia popular. E cada vez mais acredito que precisamos ampliar isso, até para a própria sobrevivência do nosso cinema no mercado, pois uma hora essa formula vai se esgotar, eu acho.

Se vocês pudessem contar com um budget maior para esta produção, no que gostaria de ter investido??

Pedro Coutinho: Provavelmente teria investido em mais diárias de filmagem. A gente teve que correr muito em determinadas situações para poder cumprir todo o roteiro. Além disso, teria escrito mais flashbacks fora do apartamento, com algumas outras situações. No mais, faria tudo do mesmo jeito.

Como vocês conseguiram por o filme no catálogo do Netflix?? Que com certeza se trada de uma janela indispensável para o sucesso do longa, mas é um processo muito trabalhoso??

Pedro Coutinho: Foi uma negociação natural, eles assistiram o filme e acharam que tinha a ver com a plataforma e fizeram uma proposta. No nosso caso, não foi trabalhoso, não. A sensação que eu tive é que eles estavam buscando um tipo de filme como o nosso, que tivesse uma comunicação direta com os “jovens adultos” e acho que eles estavam certos, pois o filme está tendo uma reação maravilhosa depois de ter entrado no Netfix.

 

Você tem como referência quais diretores?? Quais obras mais o inspiram como profissional??

Pedro Coutinho: Tem vários diretores que me inspiram e são referências eternas, como: Kubrick, Fellini, Hitchcock, Scorsese, irmãos Coen, entre outros. Mas ao invés de ficar todos esses grandes nomes que fazem parte de todas as listas, eu queria dizer que recentemente a obra de dois cineastas contemporâneos tem me chamado muito minha atenção: Nuri Bilge Ceylan e Sean Baker.  Esses são meus cineastas do momento, mas pode ser que daqui um mês mude.

Agora vou para uma pergunta bem sacana: Você preferiria roteirizar um longa de um diretor que você admira ou dirigir um roteiro de alguém que sempre o inspirou??

Pedro Coutinho: É sacana mesmo! Mas essa questão pode ter diversas variações, dependendo do diretor que vai dirigir meu roteiro ou a obra que eu vou, hipoteticamente, dirigir. No entanto, falando assim de bate pronto, preferiria dirigir a obra de alguém, simplesmente porque eu acho dirigir mais divertido que escrever, apesar de gostar de roteirizar também.

De todas as coisas que você acertou em cheio no filme, se me permite destacar uma, é a escolha do Johnny Massaro. Foi você mesmo que montou o Casting??

Pedro Coutinho: Sim, mas também contei com ajuda de uma produtora de elenco: minha amiga Alice Wolfenson. Além de indicações de amigos, por exemplo: a primeira pessoa que comentou sobre o Johnny para mim foi o Bruno Mazzeo no meio de um churrasco.

 

Churrasco é sempre importantíssimo!! E não só o Massaro vem em uma ascensão belíssima como também temos a Bianca Comparato agora explodindo em 3%. Foi difícil chegar a estes nomes??

Pedro Coutinho: Não, ambos foram muito receptivos desde o meu primeiro contato. Além deles terem gostado do roteiro, rolou uma química logo no nosso primeiro encontro, que fez todo o processo de composição de personagens, ensaios e filmagens serem muito fluídos. Foi extremamente prazeroso trabalhar com eles.

Em suas palavras, nota-se o amor e o respeito que tem pela Sétima Arte, então o que podemos esperar do Diretor Pedro Coutinho?? Já tem algo no forno??

Pedro Coutinho: No momento eu tô terminando o segundo tratamento daquele que espero que seja meu próximo longa. É uma história bem mais ambiciosa de humor negro e se passa numa praia do Nordeste.

Humor negro?? Agora estamos falando a minha língua!! E bom, sabemos que qualquer que seja a arte, não há facilidade, ainda mais em uma tão conjunta e plural como o Cinema, mas se pudesse dar uma dica para quem está começando, qual seria??

Pedro Coutinho: Acho que a maior dica que eu posso dar para quem está comentado é não ficar chateado, nem pensar em desistir por causa de um ”não”. Essa, talvez, seja a palavra que mais vai se escutar quando se está começando, mas o importante é sempre manter a perseverança e a força de vontade para poder realizar os seus projetos.

 

Queria primeiramente parabenizá-lo por tamanha competência e dedicação em tirar do papel os seus sonhos, trabalhar com grandes nomes, escrever de uma tão forma refinada, amarradinha e objetiva, trazendo para tela o que sempre quis expor, é um feito e tanto. Motivador. Parabéns pelo esforço. Agora para encerrar a entrevista, te presenteamos com este espaço para que convoque o público para assistir Todas As Razões Para Esquecer e deixe uma mensagem para o pessoal do Cinem(ação).

Pedro Coutinho: Obrigado pelas palavras e pela entrevista, adorei participar do Cinem(ação)! Bem, o filme tá disponível no Netflix, ou seja, tá fácil de assistir! Então não tem desculpas para não ir lá prestigiar o meu primeiro longa que de acordo com a alma caridosa de alguém é um mix de Her com Woody Allen… rsrsrs… Deixando a brincadeira de lado, espero que vocês assistam, se divirtam e também se emocionem com “Todas As Razões Para Esquecer”!

 

Ficha técnica:

TODAS AS RAZÕES PARA ESQUECER

DIREÇÃO– Pedro Coutinho

ROTEIRO – Pedro Coutinho

PRODUÇÃO – Egisto Betti, Heitor Dhalia e Pedro Coutinho

FOTOGRAFIA – João Pádua

MONTADOR – Federico Brioni

TRILHA SONORA – Roberto Coelho

ESTÚDIO – Lagoa Filmes, Paranoid Filmes

DISTRIBUIDORA – Bretz Filmes, Pagu Pictures

ESTRELANDO – Johnny Massaro, Bianca Comparato, Regina Braga, Rafael Primot e Maria Laura Nogueira.

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