“Vingadores: Guerra Infinita” mudou a forma de se ver Cinema… pelo menos para alguns
Antes que você, nobre leitor e leitora vá na minha conta no twitter me “xingar muito” (se já não o fez), permita-me explicar o termo “mudou a forma de se ver cinema” e por que é importante entendermos isso. Agora que você já botou as pedras no chão, vamos falar desse fenômeno mundial chamado “Vingadores: Guerra Infinita“.
Até a publicação deste texto, “Vingadores: Guerra Infinita” já havia faturado mais de 650 milhões de dólares em apenas um final de semana. É um recorde absoluto, que dificilmente será batido por outro filme que não seja o próximo “Vingadores” previsto para Maio/2019. Esses números por si só mostram a grandeza do filme, e naturalmente do estúdio criador da franquia, Marvel / Disney. Mas vale a pena entendermos o que está por trás desses números, e quem está compondo, majoritariamente, esse público.
Como costumeiramente acontece com grandes blockbusters, eu assisti ao filme no primeiro final de semana de estreia, e como não poderia ser diferente a sala estava com todos os lugares preenchidos por uma legião de fãs que aplaudiam, vibravam, gargalhavam e choravam a cada catarse proporcionada por Tony Stark e sua trupe. Reações exageradas? Não dá para saber, afinal, como poderemos julgar o que uma pessoa sente ao ver algo? Tendo a acreditar que tais reações eram genuínas e que a garotinha de no máximo 13 anos que estava ao meu lado, chorando copiosamente ao final do filme, realmente estava mexida com o vira em tela. Naquele momento eu pensei – quantas vezes essa garota de 13 anos chorara assim em um cinema? Quantas vezes, essas milhares e milhares de pessoas espalhadas pelo mundo todo vivenciaram tal emoção catártica e coletiva vendo um filme? É possível, que muitas dessas pessoas, só vão ao cinema para ver o Thor soltando raios em meio a milhares de pessoas só atingindo os vilões.
Na história do cinema, tivemos outros casos de situações equivalentes como no final dos anos 70 e início dos 80 com os 3 primeiros filmes da saga “Star Wars“, que mobilizou fãs do mundo todo, se tornando um dos maiores sucessos da cultura pop e popularizando o termo “blockbuster“. No anos 90, “Titanic” de James Cameron teve um efeito similar, se tornando um evento imenso atraindo pessoas que talvez não tivessem com hábito ir ao cinema. Nos anos 2000 tivemos alguns exemplos como “Harry Potter“, “Senhor dos Anéis“, “Saga Crepúsculo” e em nível mais abaixo “Cinquenta Tons de Cinza“. Mas é pouco provável que essa garota de 13 anos que estava ao meu lado participara de algum desses eventos anteriores. Ou mesmo, que o jovem marombeiro que paga de Steve Roger estivera gritando ao ver Edward, o vampiro translucido sem camisa. Ou ainda, que casal de namorados junto com a mãe que vibrava com cada aparição do Thor, fizera o mesmo para ver a mãe vibrar com Cristian Grey e seus “gostos peculiares”.
“Vingadores: Guerra Infinita” atrai ao cinema, pessoas que talvez estejam experimentando a primeira experiência cinematográfica realmente imersiva, emocionante, vibrante e coletiva de suas vidas. E isso é bom para o cinema pois quanto mais gente o estiver frequentando, mas forte ele ficará e mais filmes são produzidos. E mesmo que esses blockbusters tenham sua qualidade questionada, para muitos desses fãs isso é irrelevante. Continuarão lotando as salas.
Entretanto, precisamos tomar alguns cuidados para que esses eventos não suplantem outros filmes, em especial, o cinema nacional e os filmes independentes. Não adianta fugirmos disso – cinema (espaço físico) vive de lucro em sua maioria, logo eles investem em obras que lotam salas em detrimento de filmes independentes e de menor apelo comercial, pois são desses filmes que o lucro advém.
“Até o começo da década de 1970, o público médio das produções que os estúdios colocavam mais fé era mais adulto, de 25 anos para cima, pois eles acreditavam que tinham poder econômico. Depois desses filmes, os estúdios descobriram que jovens e adolescentes, de 14 até 25 anos, era um público até então menosprezado. Quando a indústria descobre que o adolescente podia consumir e gastar dinheiro no cinema, vai imediatamente redirecionar os esforços para capturar esse público” explica Rodrigo Carreiro, professor de Cinema da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Naturalmente, cinemas que antes exibiam filmes comercias e filmes independentes concomitantemente, passaram a diminuir ou mesmo extinguir filmes menores (no sentido de alcance de público) fazendo com que os blockusters dominassem as salas. Sim, a mão do capitalismo é cruel com a arte.
Isso significa que filmes independentes ou não-comerciais estão fadados à morte e que dentro em breve só veremos blockbusters nas salas de cinema? Se pararmos de ver essas obras no cinema, sim. É obvio que cinema tem se tornando um entretimento que cada vez mais elitizado. Multiplex com cadeiras reclináveis, salas IMAX, ambientes climatizados, pipocas gourmetizadas que custam o meu almoço (da semana toda) são luxos que poucos podem pagar por diversos motivos como preço, distância, horários e ausência de salas, mesmo as mais simples em cidades menores. Mas se você tiver a possibilidade de ver esses filmes não comerciais no cinema – faça. Além da experiência impar de ser ver um filme, seja ele qual for, no cinema, isso fortalece um cinema que precisa de apoio para sobreviver.
Enquanto isso, outras obras como “Projeto Flórida“, “Me Chame Pelo Seu Nome“, “Arábia“, “Lady Bird“, “Corra!“, “Um Lugar Silencioso” dentre outros seguirão sendo lançados e visto; e “Vingadores: Guerra Infinita” continuará, não inventando nada, nem descobrindo a fórmula mágica do sucesso, mas se valendo muito bem dessa sua legião de fãs e mudando a forma como esses veem cinema.
Leia também: