Em defesa de Kylo Ren
O episódio VII, “O despertar da Força“, apresentou Kylo Ren como novo personagem no universo Star Wars e já do lado negro da Força. O mestre dele, Supremo Líder Snoke, define-o como “uma criança usando máscara” e essa parece ter sido a mesma impressão de muitos espectadores, numa forma negativa de vê-lo. Na perspectiva da Literatura, Kylo Ren tem muito a oferecer, como veremos. (Haverá spoilers!)
Kylo Ren é um personagem inacabado, mas no sentido de que está aberto a pensar e saber que está pensando sobre posições ideológicas, religiosas, anti-religiosas, nobreza, vilania, gostos, manias, taras, fraquezas, excentricidades, brandura, violência e exibicionismo.
Ele ainda não está certo do que quer. É impulsivo, nervoso e age à sombra do avô, Darth Vader. Em “Os Últimos Jedi“, Snoke diz que ele, ainda que seja Mestre dos Cavaleiros de Ren, não está pronto. Precisa completar o treinamento e de um grande desafio.
Mesmo que Kylo tenha escolhido o lado negro, percebe-se nele a atração pelo lado “luminoso”, sobretudo nos momentos com Rey. Ele é consciente de que as definições sobre si estão nas próprias mãos. Enquanto personagem inconcluído, vive pelo fato de não ser finalizado, de não ter ainda pronunciado sua última palavra (ação). Isso abre muitas possibilidades para o roteiro e, consequentemente, para mais desenvolvimento das camadas desse personagem.
Na ficção, há personagens planos e esféricos. Planos são aqueles unidimensionais, finalizados e passíveis de definições fáceis pelo todo do roteiro. Mas Kylo é mais que esférico, é multidimensional. Um amálgama de transformações que o tornam irredutível a definições exatas. Dai a impossibilidade do acabamento e a abertura de infinitos caminhos para exploração.
Não importa o que a personagem é no mundo mas, acima de tudo, o que o mundo é para a personagem e o que ela é para si mesma. Nesse sentido, pertencerá a Kylo a última palavra sobre si e sobre o próprio mundo. Afinal, trata-se de um sujeito em construção e isso é o que torna enriquecedoras as possibilidades do que pode vir ser realizado por ele.
Só o fato de Kylo Ren ter consciência da própria inconclusibilidade, já o torna diferente dos demais vilões comuns, pré-definidos, ou se você preferir: clichês. Quanto a Kylo, Ainda não sabemos do que ele é capaz, o que se tornará e o que fará.
O teórico literário russo Mikhail Bakhtin escreveu certa vez que “não são os traços da realidade que constituem os elementos da imagem da personagem, mas o valor desses traços para ela, para a sua autoconsciência”. É assim que Kylo tem sido apresentado.
A cena de Kylo Ren contemplando o capacete de Darth Vader é símbolo do momento de construção pelo qual Kylo passa. Não teve êxito no “curso” com Luke Skywalker nem com Snoke. Quer ser forte como o avô, mas ainda procura caminhos para chegar lá.
Esses caminhos, se bem explorados nos próximos filmes, podem servir para que possamos assistir mais à construção do personagem. Ao invés de entregá-lo pronto, construído e com motivações já determinadas, os episódios VII e VIII trazem-nos uma perspectiva mais profunda quanto à pisque de kylo Ren, deixando brechas para nos surpreender.
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Até a próxima!