Crítica: Com Amor, Simon
“Com Amor, Simon” é o primo adolescente e pop de Me Chame Pelo Seu Nome
Ficha técnica:
Direção: Greg Berlanti
Roteiro: Elisabeth Berger, Isaac Aptaker, (baseado no livro de Becky Albertalli)
Elenco: Nick Robinson, Jennifer Garner, Josh Duhamel, Katherine Langford, Alexandra Shipp, Logan Miller, Keiynan Lonsdale, Jorge Lendeborg Jr.
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2018 (5 de Abril de 2018 no Brasil – 22 de março em circuito limitado)
Sinopse: O jovem Simon Spier vive seu último ano no ensino médio quando se apaixona por Blue, outro garoto de sua escola que ele não sabe quem é, mas por quem começa a nutrir uma paixão após algumas trocas de mensagens. No entanto, antes de descobrir quem é Blue, ele terá que lidar com o fato de que sua sexualidade foi divulgada a todos do colégio.
Assim como “Me Chame Pelo Seu Nome“, o sensível filme indicado ao Oscar há pouco mais de um mês, “Com Amor, Simon” também trata de um processo de amadurecimento de um jovem gay sem que seja necessário mostrar um preconceito generalizado em toda a sociedade. Ainda que tenha sua sensibilidade, o longa se destaca por tratar do assunto com leveza, humor e uma naturalidade que faz falta em muitos filmes “adolescentes”. Aliás, a naturalidade aqui pode soar como a criação de um “mundo ideal e irreal”, mas a forma como esse mundo foi criado se torna tão crível quanto um importante exemplo para a sociedade – e ainda evita que o filme seja o drama que não se propõe a ser.
Logo nas primeiras cenas de “Com Amor, Simon”, o narrador, protagonista e personagem-título fala diretamente com o espectador dizendo que é uma pessoa normal. “Sou como você”, afirma, ainda que nem todos vivam em uma casa de classe média alta no típico subúrbio americano com direito a carro na garagem e outras benesses do primeiro mundo. O incrível, no entanto, é que mesmo com tudo isso o roteiro consegue nos fazer sentir empatia e conexão com o adolescente.
Isso é possível não apenas por conta do carisma do ator (que já demonstrara esse poder no excelente Os Reis do Verão), mas também ao fato de que os diálogos nos mostram um ser humano repleto de desejos, falhas e aflições que não apenas combinam com o período da adolescência, mas com qualquer fase da vida em que haja novidades a serem vividas.
Mas “Com Amor, Simon” merece muitos outros méritos. O roteiro consegue nos levar aos dramas dos personagens secundários a ponto de nos solidarizarmos até mesmo com o “vilão” da trama, o excêntrico Martin, que é movido justamente por sua falta de preconceitos – note como ele convida Simon para dormir em sua casa logo após descobrir que o colega é gay. Temos a oportunidade de saber mais sobre os dramas de Leah (Langford) e de Abby (Shipp) não apenas para que elas sejam personagens tridimensionais, mas também porque seus dramas possuem, em algum momento, relação com o processo de maturidade do protagonista – como ele não perceber a paixão de Leah e nunca ter questionado sobre o passado de Abby.
Se o fato de não levar os momentos dramáticos para o exagero já é algo digno de nota – visto que muitos diretores não hesitariam em aumentar o tom da trilha sonora e focar em supercloses – o diretor Greg Berlanti ainda se preocupa em fazer tomadas mais longas quando necessário para situar as coisas, e um plongée em específico, com Simon andando sozinho e circundado por pessoas que não se aproximam dele, é muito inspirado.
Ainda citando o recente “Me Chame Pelo Seu Nome”, é difícil não lembrar do brilhante Michael Stuhlbarg ao vermos a conversa entre Simon e seu pai (Duhamel). A cena está a quilômetros de distância do filme indicado ao Oscar, mas possui uma mensagem de aceitação igualmente importante e dá um ótimo exemplo para que os jovens de hoje sejam pais tolerantes no futuro.
E se a imaginação fértil do protagonista o faz imaginar diversas possibilidades para a verdadeira identidade de Blue, o roteiro é esperto ao não solucionar o problema com um personagem extremamente fora das expectativas, e sim reforçando alguém possível, quebrando justamente a expectativa de absoluta surpresa que boa parte do público teria – algo com que o roteiro ainda brinca ao colocar Martin em uma situação que funciona igualmente como piada e também como “redenção”.
Assim, mais do que um drama adolescente coming-of-age, e muito mais do que uma base para hastear a bandeira de uma causa, “Com Amor, Simon” é uma produção carismática e que traz consigo escolhas que culminam em um filme extremamente eficiente, o que apenas engrandece a temática importante e atual que é discutida. Aliás, sobre isso vale destacar o quanto o filme é também sobre aceitar a si mesmo para ser aceito em um grupo, independente de debates sobre sexualidade: é por isso que é curioso o quanto, já no fim, outros alunos da escola sentem a necessidade de escrever depoimentos relacionados a outros problemas igualmente complexos e que precisam ser compartilhados – como distúrbios alimentares e problemas na família.
São diamantes como este “Com Amor, Simon”, “As Vantagens de Ser Invisível” e “Quase 18” que fazem com que John Hughes descanse em paz.
Resumo
Assim, mais do que um drama adolescente coming-of-age, e muito mais do que uma base para hastear a bandeira de uma causa, “Com Amor, Simon” é uma produção carismática e que traz consigo escolhas que culminam em um filme extremamente eficiente. São diamantes como este “Com Amor, Simon”, “As Vantagens de Ser Invisível” e “Quase 18” que fazem com que John Hughes descanse em paz.