Crítica: Eu, Tonya (I, Tonya, 2017) – 3 Indicações ao Oscar
Eu, Tonya tem uma personagem interessante, mas o filme querer ser “interessante” o tempo inteiro e acaba se perdendo…
Ficha técnica:
Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Steven Rogers
Elenco: Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (15 de fevereiro de 2018 no Brasil)
Eu, Tonya é e não é uma biografia comum. Digo isso, pois temos algumas fórmulas típicas do subgênero, mas vemos lampejos criativos. O longa conta parte da história real da controversa patinadora Tonya Harding. A jovem, de talento nato na patinação no gelo, acabou se envolvendo em um caso complicado – mesmo sendo baseado em fatos não vou revelar para preservar a experiência de quem não conhece.
Com uma linguagem que alterna depoimentos encenados, uma espécie de mockumentary, com a trama em si, Eu, Tonya brinca com a metalinguagem a todo instante. Há quebra da quarta parede, narradores reivindicando a história para si e até interrompendo a trama.
Por essa descrição é possível perceber que aí está um dos principais méritos e problemas do filme. Tal opção reforça um vínculo com o público, ao mesmo tempo que soa preguiçosa pois torna-se expositiva. Algumas inserções são engraçadas, mas outras tantas atrapalham o ritmo. Quando você queira se engajar em algo, logo somos “lembrados” da narração. Fico realmente no limiar entre: valorizar a identidade e ficar saturado com o vai e vem.
A síntese do texto pode ser visto no paralelo comparando a personagem título com os EUA. A fala explícita logo no começo, sem dar chance do público ligar os pontos sozinho, é retomada de forma redundante em outro momento. Isso acontece com a violência, as acrobacias e com os reforços nas personalidades dos personagens.
Por outro lado, o que é um mérito indubitável são as interpretações. Tonya está bem representada por três atrizes, duas com passagens brevíssimas já que o foco dos 15 aos 45 anos é com Margot Robbie. Indicada ao Oscar, de modo justo, a ex- Arlequina, dá o ar da graça com muita presença. Ela transita em várias nuances da personagem. Vai de filha revoltada, à atleta dedicada, passando por uma autoconsciência muito forte.
Mas não é só ela. Allison Janney, como a mãe de Tonya, exerce uma relação fundamental e com a difícil tarefa de ter uma personagem detestável, mas que o público fique engajado. Não à toa ela ganhou o SAG, o Globo de ouro e o prêmio dos críticos, vindo, claro, como plena favorita ao Oscar – se bem que o trabalho de Laurie Metcalf no Lady Bird também está excelente.
As cenas de patinação acabam ficando visíveis que estão encobertas de truques de câmeras e efeitos para disfarçar a inaptidão das atrizes. Então é um tanto broxante que um dos temas principais não mereça o carinho devido.
A montagem, também lembrada no Oscar, consegue dar um ritmo ágil em alguns momentos, algo que é plenamente condizente com a personagem, mas arrasta o filme em outros. E novamente as inserções do “documentário” nem sempre ficam bem encaixadas. No Oscar deve perder para Em Ritmo de Fuga ou Dunkirk. Mas sequer deveria estar indicado já que Lady Bird e The Post ficaram de fora.
Na parte técnica a trilha é o grande destaque. Junto com a fotografia, as canções funcionam como clique imersivo para o começo dos anos 90. Quase que onipresente, a parte sonora consegue a árdua tarefa de achar o próprio espaço, sem diminuir o texto, pelo contrário: engrandece o que está sendo mostrado.
Eu, Tonya é eficaz naquilo que se propõe, apesar de se embananar no caminho, as atuações roubam a cena e garantem uma nota bem positiva.
Confira também a crítica de Eu, Tonya, escrita pelo Bruno Sorc