Crítica: #UberXTáxis (2017)
#UberXTáxis promove um debate atual sem perder o viço cinematográfico.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Maurício Costa
Alguns dos entrevistados (ordem alfabética): Chico Vigilante, Daniel Coelho, Márcio Fontes, Professor Israel, Rômulo Neves
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2017
A chegada do Uber e de outros aplicativos (como o 99 pop e o Cabify) movimentou o cenário dos transportes no Brasil e no mundo. Discussões nas ruas, redes sociais e Congresso Nacional sobre a legalização ou não desses apps são o cerne do documentário #UberXTáxis.
Como comentário inicial, esta crítica não pretende versar sobre o tema, ou seja, não interessa para você, caro leitor, qual o meu posicionamento sobre o assunto. Estou analisando o filme sobre o tema e não o tema. Outro comentário válido é que o longa não contou com financiamento público, ou seja o dinheiro veio apenas da equipe.
O Diretor Maurício Costa dirige o segundo filme da carreira. O anterior #EradosGigantes também foi pautado no debate, ali política externa. Você pode conferir a crítica do #EradosGigantes aqui. E o Diretor deu uma entrevista exclusiva para o Cinem(ação). Vale conferir, clicando aqui.
Se você você não é afeito a documentários, este é uma boa pedida para começar a mudar de ideia. A produção tem diversos entrevistados e possui um mérito temático: não há um enviesamento para o lado pró-Uber ou pró-táxi. Optou-se por recolher depoimentos do dois lados. O que gera mais de dois olhares sobre o assunto.
Mas os pontos positivos não param por aí. Uma montagem dinâmica traz os temas de forma fluída. Questões sobre mobilidade urbana, assédio, relações de trabalho, tecnologia, entre outras, vem à tona em transições suaves e orgânicas. Você sente os temas evoluindo e consegue acompanhar o raciocínio através dos depoimentos dos entrevistados.
Apesar da entrevistas serem interessantes, informativas e até engraçadas, talvez pudessem pesar se o longa fosse duas horas só disso. #UberXTáxis, percebe isso e propõe ir por outros caminhos: recortes de notícias (brasileiras e internacionais) ajudam a contextualizar aquelas falas, tuites da população em geral reforçam ou contrapõe os depoimentos, além do uso do espaço urbano.
Sobre esse último ponto vale ressaltar que cenas de transição são por vezes condenadas por soarem vazias. Aqui, dado o tema, compõem parte da narrativa. Temos, portanto, uma amostra de que não há recurso condenável a priori. Nas mãos certas, como foi o caso, a ferramenta é elogiável. A fotografia de Sandro da Rocha em especial merece aplausos. Imagens de drones, time lapses e até as imagens de dentro do carro são caras ao olhar – parte das entrevistas ocorre nos veículos, nada mais natural ao falar de Uber e Táxi.
Dentre os depoimentos temos algumas linhas que acrescentam ao debate. Não é comum ver de forma tão equilibrada e com tanta riqueza uma discussão assim. Destaco do ponto de vista do motorista de Uber o depoimento do Márcio Fontes. Bem lúcido e por vezes levantando questionamentos instigantes.
O “embate” entre deputados também vale nota. O documentário opõe de modo claro Chico Vigilante (PT) e Professor Israel (PV), enquanto o primeiro traz os malefícios do modo como o Uber opera, o segundo defende o aplicativo. Também destaco Daniel Coelho do PSDB apresenta uma visão mais liberal e pró-livre mercado.
Uma opção que nada acrescenta, contudo, são as imagens do próprio diretor – sem fazer pergunta alguma – sendo filmado por outra câmera. Tal ferramenta parece uma constante na obra dele, já que no filme anterior, #EradosGigantes, ele também utilizou. Não é algo “criminoso”, mas soa desnecessário.
Como o título do documentário é só #UberXTáxis fica estranho a presença de representantes de outros aplicativos. Entendo a decisão de ampliar o debate (aliás, os entrevistados são ótimos) e de que o Uber é quase metonímia para aplicativo de transporte. Mas ainda assim fica meio torto.
Outro problema fica por conta da trilha sonora. 100% original, ela é de fato bem inventiva, criativa e funciona principalmente nos momentos de transição. O trabalho musical em si merece todos os elogiosos. Porém nas falas dos entrevistados fica pesado e distrai. Ou seja, o problema não foi musical em si, mas alguns dos momentos que surge.
Essa trinca de escorregadas, contudo, pouco atrapalha o andamento do filme. Os que anseiam uma discussão para além de uma mera reportagem serão contemplados com um excelente filme, o primeiro sobre a temática.
Para apreciar um bom produto cinematográfico, com discussões acaloradas fica o convite para a pré estreia em Brasília no dia 18 de dezembro de 2017, às 20h. TOTALMENTE GRATUITO, no cine Brasília. Fica o convite abaixo.