O que “Adaptação” me ensinou sobre mudar
Eu comecei a escrever um livro. Mas parei. Fiquei empacado, não sabia como continuar, não “tinha tempo”, como dizemos sempre que algo não é nossa prioridade.
E as coisas foram acontecendo. E eu achava que também estava empacado na vida. “Não estou crescendo, nem estou fazendo nada para melhorar. Não sei qual o próximo passo”.
Então, entre tantas outras coisas, fui (re)ver o filme “Adaptação”. Era praticamente a primeira vez, já que a primeira de verdade deve ter tido 0,1% de aproveitamento, quando eu ainda era um adolescente. Mas pelo menos serviu para eu memorizar uma música tão boa quanto “Happy Together”.
Eis que, em meio a tantos pensamentos, algumas coisas se juntaram. Nicolas Cage, em certo momento de “Adaptação” como o irmão gêmeo imaginário de Kaufman, diz que era feliz por simplesmente amar alguém. “Você é o que você ama”. Ele não se importava que a pessoa amada o achava ridículo. Quem escolhia amar era ele.
Um emaranhado de pensamentos passava pela minha cabeça. Sou eu que escolho o que eu sinto, e não tenho nenhum poder sobre o que os outros sentem.
Antes disso, o personagem Robert McKee, presente no filme e levemente modificado a partir do “guru dos roteiros” da vida real, grita sobre como tantas coisas acontecem no mundo, e o quanto um roteirista deve saber disso para escrever histórias.
No mesmo filme, em outro momento, a escritora Susan Orlean (não a verdadeira, é claro, mas a personagem adaptada por Meryl Streep) reflete sobre como mudanças não são uma escolha. Nem para as plantas, nem para as pessoas. Ninguém escolhe mudar e então muda. A gente simplesmente vai mudando. E quando vê, já se tornou alguém diferente.
É por isso que contar histórias é uma paixão quase natural do ser humano. Porque a história, como representação da vida, já vem com sua estrutura natural. Não aquela que determina em quais páginas um roteiro deve ter seu ponto de virada, mas aquela que mostra que todos nós vamos nos alterando. Até quando não mudamos, nós mudamos… porque o simples fato de ter vivido algo promove alguma transformação.
Viver a ficção é uma forma de mudar. Afinal, é o fictício que nos permite viver outras vidas, aprender com o que outros nos ensinam. Basta apropriar-se do aprendizado.
Nenhum ser humano passa incólume pela vida. Ninguém vai de um ponto ao outro sem dar alguns passos. E mesmo quando não sabemos que passos devemos dar, acabamos por fazê-los de qualquer maneira: inconscientes, alternantes, vagarosos e até reticentes. Mas passos, afinal. Mudanças, apesar de tudo.
E as histórias dos filmes nos fazem bem em condensar pensamentos e solidificar o significado de tudo o que vivemos – e de todos que amamos.
Quem sabe eu não volto a escrever meu livro.