Crítica: Stranger Things – 2ª Temporada (Netflix – 2017)
Segunda Temporada de Stranger Things chega a Netflix com erros acertos
Direção: The Duffer Brothers, Shawn Levy, Andrew Stanton, Rebecca Thomas
Roteiristas: The Duffer Brothers, Justin Doble, Paul Dichter, Jessie Nickson-Lopez, Kate Tefry, Justin Doble
Elenco: Noah Schnapp, Finn Wholfhard, Millie Bob Brown, Caleb McLaughlin, Gaten Matarazzo, Winona Ryder,David Harbour, Natalia Dyer, Joe Keery, Shannon Purser, Charlie Heaton, Sadie Sink, Dacre Montgomery, Paul Reiser, Sean Astin Linnea Berthelsen
Sinope: Um ano após os eventos da primeira temporada, Will retornou ao seu lar e à companhia dos seus amigos mas ainda está conectado ao Mundo Invertido. Mas Hawkins não está completamente à salvo. Não demora muito para que uma nova ameaça apareça.
Estreou na última sexta-feira na Netflix a segunda temporada de Stranger Things. Quando estreou ano passado a série foi um grande sucesso, e esta com certeza era uma das estreias mais esperadas do ano. Mas eis que surge uma questão: a nova temporada manteve o nível da primeira? Ou caiu na mesmice e na qualidade? Vejamos.
A segunda temporada de Stranger Things começa quase 1 ano depois do desaparecimento de Will (Noah Schnapp). Vemos que ele tenta voltar à normalidade, enquanto ainda tem visões do “Mundo Invertido”. Mike (Finn Wholfhard) ainda está esperançoso de encontrar Onze (Millie Bob Brown), que ainda está desaparecida, e se fecha para novas mudanças. Já Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) se deparam com o primeiro amor. Joyce (Winona Ryder) tenta voltar a vida normal namorando Bob (Sean Astin), um ex-colega de escola. Enquanto Hopper (David Harbour) tenta voltar à normalidade na vida pessoal e no trabalho. Nancy (Natalia Dyer) e Steve (Joe Keery) tentam levar o namoro normal, mas a morte de Barb (Shannon Purser) os persegue. Enquanto Jonathan (Charlie Heaton) tenta se manter invisível como sempre, e ainda apaixonado por Nancy. Ou seja tudo parece normal depois do último ano. De novidade só a chegada de Max (Sadie Sink) e seu irmão Billy (Dacre Montgomery) da Califórnia. Além do Laboratório Hawkins ter um novo médico o Dr. Sam Owens (Paul Reiser). E é ele que está ajudando Will entender e lidar com as visões do Mundo Invertido. Mas quando tudo parece normal, surge uma nova ameaça. Ainda mais ameaçadora e perigosa que o Demogorgon.
A segunda temporada é inteligente ao abordar os traumas e as consequências do que ocorreu na temporada anterior. A forma como cada um lida com os traumas e consequências são convincentes e soam naturais. Os medos e preocupações de Joyce, bem como a forma como Will lida com sua volta, soam comuns e naturais. O crescimento de Lucas e Dustin, mostrando seu interesse por garotas, nunca soa forçado. O crescimento é algo que fica claro nessa temporada e ocorre de forma natural e convincente. E a inclusão da história de Max na história ajuda nesse crescimento. Tirando o Mike, que nessa temporada está mais chato e até por vezes insuportável, todos estão mais maduros e cresceram. Outro ponto positivo no roteiro é a inclusão de uma nova personagem, Calli (Linnea Berthelsen). Inclusive se for bem aproveitada numa próxima temporada, será bem interessante ver a sua interação dela com Onze.
E assim como na primeira temporada, Stranger Things 2 usa e abusa das referências da década de 80. Filmes como Poltergeist, Caça Fantasmas, E.T., Star Wars, Mad Max, Halloween, Exterminador do Futuro, Os Goonies, Franquia Alien, a série Punky – A Levada da Breca, o desenho He-Man e o jogo Dragon’s Liar são citadas de forma direta ou indiretamente no decorrer da série. Além das músicas da década de 80 que são um espetáculo a parte. Essas referências, como dizem, aquecem o coração. Traz um sentimento de nostalgia que, assim como na minha primeira temporada, é uma das melhores coisas da série.
Mas nem tudo é nostalgia e essa temporada tem alguns problemas. A começar por ter rebaixado Onze para uma simples coadjuvante. Se na primeira temporada ela era o elo que unia os garotos, dessa vez ela não tem papel tão importante na série. Com exceção de um ou dois episódios, Onze é apenas uma coadjuvante. O que pode decepcionar os fãs da personagem. Além do que não houve um grande desenvolvimento na personagem, ela parece ser a mesma que vimos anteriormente. E o único desenvolvimento que a personagem tem, se resumiu a um episódio que pode ser considerado totalmente descartável.
Outro ponto negativo dessa temporada é que a interação entre os garotos. Na primeira temporada ela lembrava Conta Comigo e Os Goonies e foi uma das coisas mais elogiadas. Mas agora ela é reduzida a poucos episódios. E mesmo quando vemos essa interação, ela não é tão interessante como antes. Talvez por não terem um objetivo tão claro assim como na primeira temporada. Enquanto na temporada anterior eles se uniram para salvar Will, dessa vez os problemas e desafios não são tão grandes assim. Essa interação se resume a poucas cenas. E com exceção dos dois últimos episódios, os desafios e os problemas não são tão claros assim.
Outra coisa totalmente descartável é o “triângulo amoroso” Nancy, Steve e Jonathan. O romance não engata, e você não consegue torcer nem pra um nem pra outro. E tirando a cena no jantar na casa dos pais de Barb e a cena no parque, esse “triângulo” simplesmente não tem função narrativa na história. Mas pelo menos esse “romance” trouxe algo de bom para trama. Steve se tornou um personagem mais interessante e legal, bem diferente do idiota da última temporada. Posição agora ocupada por Billy, que parece que estar na série simplesmente para ser o Bad Boy da vez.
Mas enquanto o “triângulo” Nancy, Steve e Jhonatan não funciona, a relação de Joyce e Bob é uma das melhores coisas da temporada. Na verdade, Sean Astin é um dos grandes acertos da temporada. Os criadores tiveram a brilhante ideia de fazer o Bob totalmente diferente do Mikey de Os Goonies. Enquanto Mikey era destemido, corajoso e ansioso por aventura, Bob é o oposto. Ele é um nerd, avesso a aventura, medroso e que só quer saber de tranquilidade. Essa mudança no tipo de personagem foi brilhante. É como se víssemos o que pode ter acontecido com aqueles garotos legais da década de 80. Eles ainda são legais, mas agora tem mais consciência das coisas e mais responsabilidade antes de agir.
E falando em personagens, assim como na primeira temporada, o grande destaque é o elenco mirim, com exceção de Mike. Ele parece que retrocedeu depois de um ano. O Mike dessa segunda temporada parece bebê chorão e chato na maior parte da temporada. Ele está mais preocupado em encontrar a Onze do que se juntar com os amigos, ajudar eles e fazer novas amizades. Já Lucas e Dustin estão melhores que antes. Eles amadureceram, cresceram, a experiência do ano anterior os deixaram mais inteligentes. E a chegada do primeiro amor cria entre eles uma dinâmica que vai da cumplicidade a concorrência. E Max, que se junta a trupe, dá um vigor a turma e cria tensões entre os amigos. Tensões típicas dos adolescentes.
E se na primeira temporada vimos pouco de Will, dessa vez ele é praticamente o protagonista. Tudo gira em torno do garoto, dos seus traumas e preocupações. E por conta de o foco da história ser Will, Mike fica um pouco apagado. Isso contribuiu para que Dustin e Lucas apareçam mais nessa temporada temporada. Na verdade as dúvidas, problemas e dificuldades de Will, Lucas e Dustin, se tornam mais interessantes que as de Mike. E até Max que acabou de chegar, se torna mais interessante que ele. A nossa curiosidade faz querer saber mais sobre ela. Quem é ela? De onde ela veio? Qual é a dessa garota que anda skate? Max é uma personagem interessante, e quanto mais sabemos dela mais queremos saber. Seu irmão Billy, no entanto é totalmente descartável.
No resumo total da obra, Stranger Things 2 é uma ótima segunda temporada. A temporada tem seus problemas, o triângulo amoroso, rebaixar Onze a uma coadjuvante, a diminuir a interação entre os garotos, reduzir Mike a um personagem fraco, personagens descartáveis. Mas também tem seus acertos, as referências a década de 80, o amadurecimento de alguns personagens, o aparecimento de outros, o vilão da vez e o roteiro que aborda de maneira bem interessante os traumas e as consequências do ocorrido no ano anterior. Além de introduzir uma nova personagem que pode ser um grande acerto para novas temporadas.
No geral Stranger Things 2 é tão boa ou até um pouco melhor que a primeira temporada. Tem pelo menos um episódio descartável, dois abaixo da média, pelo menos um genial e uma season finale digna e bem acima do que vimos na primeira temporada. Ou seja, Stranger Things 2 conseguiu ser tão boa ou até melhor que sua primeira temporada.
Ah! E os criadores da série já estão trabalhando numa terceira temporada. Que venha 2018!
https://www.youtube.com/watch?v=21z5QowrEDg
Resumo
Com erros e acertos Stranger Things 2 conseguiu manter o nível, e até aumentar um pouco o nível da primeira temporada. Embora tenha personagens descartáveis e escolhas erradas, a série conseguiu trazer de novo o clima de suspense e tensão, além do clima de nostalgia que é a marca registrada da série.