Crítica| Thor: Ragnarok
Thor:Ragnarok funciona como um quadrinho mensal da Marvel
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Eric Pearson, Craig Kyle, Christopher Yost
Elenco: Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Cate Blanchett, Idris Elba, Jeff Goldblum, Tessa Thompson, Karl Urban with Mark Ruffalo e Anthony Hopkins
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (26 de setembro de 2017 no Brasil)
Sinopse: Thor (Chris Hemsworth) está preso do outro lado do universo. Ele precisa correr contra o tempo para voltar a Asgard e parar Ragnarok, a destruição de seu mundo, que está nas mãos da poderosa e implacável vilã Hela (Cate Blanchett).
Quando mais novo, garimpando em sebos, eu costumava comprar muitos quadrinhos. Os da Marvel, com as capas mais bombásticas e chamativas, eram os meus preferidos. Tais histórias, principalmente as mais antigas, eram basicamente a aventura do mês. Muito antes dos anos 90 – e do furor descontrolado de colecionismo inconsequente que veio com ele, e suas dezenas de capas variantes – as aventuras costumavam possuir um tom episódico, elas começavam e terminavam em si mesmas, com uma pequena introdução no começo, ressaltando o nome do herói em letras chamativas (“Stan Lee apresenta… “O PODEROSO THOR”).
Os primeiros 5 minutos de Thor: Ragnarok adotam justamente esse tom. Com o mesmo teor episódico, a cena conta com nosso herói em mais uma enrascada. O antagonista da ocasião, o demônio Surtur, tem uma introdução rápida e digna dos quadrinhos da era de ouro da Marvel, aquelas escritas por Stan Lee e desenhadas pelo mestre Jack Kirby. Não seria de se espantar se a narração em off do próprio Lee fosse predominante neste prólogo. Não precisamos de explicação. Como naqueles quadrinhos, temos uma rápida introdução e partimos para a aventura da vez. Tal abordagem tem sido cada vez mais comum nos últimos filmes da Marvel, e cada uma destas produções funciona como um quadrinho do mês, sem peso dramático real (sabemos que o herói retornará), divertido e com “desenhos legais (que são traduzidos nas estilosas sequências de ação)”.
Essa abordagem “quadrinho do mês” é conduzida de várias formas: se há uma clara inconsistência de tom em todos os três filmes do herói, diferentes entre si, isso é tratado mais como uma troca de artistas, como nos quadrinhos em que este Thor: Ragnarok é inspirado do que uma correção de curso. Existem mudanças de times criativos de fase pra fase, e isso é evidenciado até no design de personagens do próprio Hulk, que muda de filme pra filme, ao gosto de seus realizadores. Se tal abordagem pode até funcionar para alguns fãs de quadrinhos e o grande público, que só quer, realmente, o quadrinho do mês sem riscos e comprometimento, do ponto de vista cinematográfico há uma clara fadiga, um claro desgaste.
Isso não significa que Thor: Ragnarok não seja divertido. Mas também não significa que você não o esquecerá após uma semana. O que é curioso, já que falei o seguinte sobre o talentoso diretor Taika Waititi, em meu texto da sua comédia O Que Fazemos nas Sombras: “Se Waititi usar metade de sua veia cômica em seu próximo filme como diretor, Thor 3: Ragnarok, teremos um dos melhores e mais autorais filmes do Marvel Studios”. Há muito de Waititi em Ragnarok, mas as claras necessidades de uma falsa dramaticidade no filme o prejudica. Waititi é um diretor de ironias, um sujeito fora das convenções Hollywoodianas.
Por isso, quando Thor:Ragnarok abandona a lógica, a dramaticidade e faz a aventura pulp oriunda das obras de Lee e Kirby (e acredite, a direção de arte deve muito ao desenhista, já que todo o visual é claramente inspirado em seu traço), inclusive tirando o sarro do peso dramático que se espera, ele funciona muito bem. Mas quando Waititi é obrigado a contar uma aventura autêntica, quando ele é obrigado à ceder aos momentos dramáticos com falsa tensão, é tudo entregue de forma burocrática, e não há piadinha no meio do momento dramático que salve, já que o diretor não vê nenhuma verdade naquilo.
Entregando-se ao humor de vez, no qual o ator já havia se provado ótimo, Chris Hemsworth entrega aqui sua melhor performance como o deus do trovão. Tom Hiddlestom mostra um claro cansaço com o personagem Loki (e sua horrível peruca é um personagem à parte). Cate Blanchett é sempre carismática, porém subutilizada como a maioria dos vilões Marvel. O Bruce Banner/Hulk de Mark Ruffalo é sempre divertido de se ver. Uma grande saga como Planeta Hulk não deve ser desperdiçada com uma subtrama num filme do Thor, mas a dinâmica do gigante esmeralda – que agora consegue falar com melhor eloquência – com o deus do trovão sempre foi e continua sendo divertida. Karl Urban e Jeff Goldblum são renegados à participações pequenas, mesmo que efetivas pontualmente, e à Valquíria da sempre competente Tessa Thompson resta apenas uma falsa marra.
No fim, Thor: Ragnarok continua sendo apenas um bom gibi mensal, sem riscos dramáticos, com imagens instigantes e estilosas, diversão… mas também com a familiar sensação de vazio em seus temas. A conexão inicial de um leitor com uma história em quadrinhos em si é muito bonita, mas quando tais histórias começam a perder o sentido, chega uma hora em que esse leitor abandona os “gibis” e abraça as Graphic Novels.
*Como de costume, existem duas cenas pós-créditos após o filme
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Resumo
Thor: Ragnarok, continua sendo apenas um bom gibi mensal, sem riscos dramáticos, com imagens instigantes e estilosas, diversão… mas também com a familiar sensação de vazio em seus temas.