"Song to Song" - (2017) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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“Song to Song” – (2017)

Um beijo.

Alcançar outro significado de beijar. Encontrar um caminho pelo caminhar sem outro objetivo a não ser cantar: dois campos de visão sobre o humano. Amizades sorrateiras ou frutíferas? Necessidade de um abandono do eu para um outro estar de si mesmo, fazendo-se pertencer. Devaneios acerca do que fazer da vida. Perecer diante das vontades, apenas aproveitar. A vida não deixa de ser um encontro, uma fuga, um êxtase, uma luz. As coisas simples que dela brotam e são nela carne e osso a fazem ser o que é, visto que ela não passa de um presente quase futuro e que já foi passado. É através da música que um desencontro de estranhos se dá, é dele que o encontro acontece. Um fone para cada ouvido e uma música para duas percepções. A equivalente admiração entre sexos distintos ao redor de uma piscina. No sorriso tímido dela olhando pra ele e na vontade dele em beijá-la: uma dança.

Os passarinhos fazem a trilha sonora das mãos perdidas e nuas. Uma escolha entre tantas outras, mas é dele que ela parece querer frutificar a tal amizade não sorrateira. A fama traz benefícios – ela deve pensar, mas é o encontro ao redor da piscina que ela imagina de novo, que revive aquele momento de troca com um homem desconhecido. Faz sentido ele pensar nela, a simpatia fora inevitável e faz dela especial. “Você deve ter namorado” – ele diz afirmando querendo negar. A beleza da mentira se encontra nesses pequenos detalhes entre afirmações negadas por um sorriso de canto de boca. Ela pode dizer o que quiser e é isso que ele quer ouvir, suas almas se encontraram, seus dedos se tocaram: eles se amam. É através da música que ele toca, enquanto ela enxerga seu coração ao exalar sua primeira confissão acerca do outro. A vontade de ter o que não se tem ainda torna as ambições mais simples, gradualmente, complexas.

O piano dissonante carrega um peso desigual entre os dois ali no jardim. Um deles rodopia sobre seu corpo em torno dele mesmo, distorce o real, espelha fantasia, rejuvenesce o sonho. O cabelo colorido representa estágios de maturidade e de sabedoria em afastar-se do não desejável e aproximar-se do amor.

“Você é muito orgulhoso!”

“As pessoas não tem orgulho suficiente. Ele não te ama”.

Todos querem ser livres. Liberdade é uma busca incessante e que pertence as nossas vidas. Responsabilizar-se por ela, também, além de ser inerente ao seu íntimo ser de estar no mundo, faz dela algo mais perigoso, porém, libertador nesse sentido. Não há uma liberdade afastada de responsabilidade e ambas infinitamente adoecem diante da finitude da vida. É assim que o descobrimento e a colisão com o desconhecido se dão por concreto. Mesmo não havendo uma crença no amor, ele existe, mesmo que escondido nos olhares, nas sensações, nas aparências que cada um proporciona através de movimentos sem exposição; escondemos o que somos, a princípio. O amor, também, prende, sustenta um laço, liberta o solitário da solidão, contudo afasta dele o perene estado de estar livre diante de possibilidades inexistentes enquanto de mãos dadas com alguém. Como deve ser ter tudo? A vida perde o sentido? É tudo tão fácil, as dificuldades se perdem num marasmo de não ter mais poder diante de sua fraqueza; antagonismos de vida: dinheiro e felicidade.

Corações jovens. Abraços verdadeiros. Olhares trêmulos de paixão.

Ambos dançam ao ar livre da noite com seus pés deslizando sob o aconchego de um piso quente. O frio envolve a paisagem que neblina os sorrisos dos dois que ali fazem da dança algo natural, espontâneo e belo. “Você está feliz?” Ela responde sobre não entender o significado de estar sentindo algo que seja felicidade. De fato estar feliz não diz respeito ao entender o que tal sentimento representa, e apenas viver o momento, já corresponde essa procura por algo maior, como uma contemplação, um contentamento, um júbilo. Um sopro de encanto entre um espelho que separa duas bocas. O medo de amar faz do amor algo estranho, desconhecido, distante. Imaginar, vislumbrar, desejar um amor que ainda não existe faz desse amar – enquanto caminho – não amor, porém é ele o que se busca, é nele que os amantes se jogam, se debruçam quando se apaixonam. Através de cada música, de cada nota cantada, cada um consegue ditar o que sente pelo outro; não é transparente, há um nevoeiro de descobertas que ainda são nada menos que sensações.

Eles se amam. O eco do ambiente traz desconfiança, temor e um pouco de ódio. A traição é algo inesperado, mas escondida nas mentiras que ela nunca contou, porém as escondia  por trás de seus medos. Ninguém quer ser traído. É muito ruim sentir-se enganado: afastamento. Silêncio de um pôr do sol que ilumina a sala. É o ambiente que se romantiza diante de um conflito inerente ao fato dela ter traído ele. O ventilador ventila o ar impuro. Transam na mesa, sentam-se um ao lado do outro sem conversar; ela se sente mal. Ele a perdoa. Suas mãos tocam seus dedos medrosos. Um olhar de carinho.

Se trata do amor.

Trata-se de amar!

Tratar amando o outro.

Amar para amar.

 

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